5. Todo o possível

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Às vezes, Shizue se perguntava se era irritante quando oferecia ajuda a alguém. Um instinto dela sempre foi oferecer apoio sobre qualquer coisa. Quando você vive sozinha por um tempo muito longo, querer ficar perto de outras pessoas é natural, independentemente das circunstâncias. Seu avô sempre foi acostumado a dizer que era doce e gentil, o que não era mentira, mas sempre tinha aquele questionamento do quanto uma pessoa deve interferir nos problemas de alguém. Apesar de, claramente, Tomioka Giyuu estar precisando nesse momento.

Não era muito boa com o preparo de ervas medicinais ou remédios, mas ocasionalmente se pegava fazendo chá na madrugada quando tinha insônia. Foi essa a deixa para que ela enchesse uma chaleira de água, reacendesse as brasas do fogão a lenha e colocasse o objeto no fogo. Como todas as empregadas estavam na outra residência, e a única coisa que sabia fazer em relação a remédios era um bom chá, reteve o pensamento de ser irritante e subiu para o quarto dele.

Como o aposento da loira ficava ao lado do de Giyuu, nas noites em que sabia que ele estava na casa, sempre se pegava com o pensamento de ter a oportunidade de vê-lo nem que fosse um pouco. Era tímida até para admitir a si esse fato, então sempre se escondia de baixo dos cobertores quando pensamentos assim invadiam sua mente. Quando virou o corredor, caminhou até a porta e ouviu a respiração pesada de dor dele, nem sequer bateu na porta para entrar.

Ele estava sentado sobre a cama com o macacão até a cintura, e o haori de duas cores por cima. O curativo feito minutos antes era visível.

— Achei ter dito que não precisava de ajuda... — O espadachim murmurou quando a viu entrar com um semblante preocupado.

Shizue fez um biquinho de raiva, não intencionalmente.

— Mas você precisa — disse com uma mão em frente ao peito. — Basta olhar para o seu estado.

— A minha técnica de respiração pode cuidar disso.

Técnica de respiração? O que isso significa? Shizue pensou. A voz dele era carregada de uma introversão que Shizue não foi capaz de ignorar.

— Seja lá o que isso signifique, sei que você ainda sente dor. — Desviou o olhar para o lado. — Vou fazer um chá para Tomioka.

Ele olhou medindo-a dos pés à cabeça. Qual era o problema daquela garota, por que se importava tanto com uma pessoa que mal conhecia? Fazia muito tempo desde que um desconhecido o tratou bem. Quando salvava alguém de onis ou se hospedava em pousadas para caçadores era estimado, e muito, mas no meio social, quando você realmente precisa se entrosar, não era bom em cativar as pessoas, já que aparentava ser antipático e não muito sociável. E isso desperta receio. Entretanto, essa teoria parecia não se aplicar a Ozuno Shizue. 

Giyuu não ousou respondê-la, então esta se aproximou da cama em que ele estava sentado — vinha com um rosto inocente e desprovido de más intenções. Apesar de Tomioka preferir ficar sozinho, estranhamente decidiu mascarar sua parte antissocial da garota que insistia em ajudá-lo. Quando ela sentou ao lado dele, há uns dois metros, no entanto, colocou as mãos sobre o colo, enquanto suas bochechas tomavam uma cor vermelha.

— Você lutou contra um demônio, não? — Repetiu a mesma pergunta que havia feito no engawa depois de alguns segundos, num tom baixo.

Ele cedeu.

— Sim.

— Por quê?

— Por que você respira? — Devolveu sombrio, os cabelos caíam sobre os olhos enquanto ele mostrava um rosto indiferente.

Giyuu não era muito de conversar, mas aquela garota era docemente irritante, e lembrava muito sua irmã. Shizue soltou um ruído surpresa, pois não entendeu especificamente o que aquilo queria dizer, mas chegou na própria conclusão de que era muito perto de querer se matar.

SNOW WHITE, tomioka giyuuOnde histórias criam vida. Descubra agora