0. Prefácio

2.4K 220 24
                                    


    Há poucos quilômetros da casa de Shizue e Sazami Ozuno havia uma gigantesca plantação de arroz, longos quadrados de solo e água enfeitando uma rua de terra com belas árvores ao redor. Era propriedade de Sazami. Sua falecida esposa plantava e colhia os frutos entre o fim de setembro e o início de outubro, todo ano, com muito carinho, junto dos funcionários de seu marido. Ela morreu ali também, à noite, por demônios. Criaturas outrora humanas que viviam e se alimentavam da carne da própria espécie. Ozuno era casado e tinha uma filha, posteriormente um genro. Do mesmo jeito que sua esposa faleceu, seu genro também teve a infelicidade de compartilhar o mesmo destino. Odiava ter que aceitar que os dois haviam morrido sendo dilacerados por onis cegos pela fome e pelo prazer de matar.

    A neta do velho Sazami nasceu, e sua filha morreu, logo após o parto. Uma gravidez difícil para uma mulher doente. O patriarca da família Ozuno perdeu tantas pessoas em um espaço de tempo tão curto que não aceitaria extraviar-se da última pessoa com quem tinha laços de sangue verdadeiros. Shizue Ozuno era uma menina iluminada, doce. Tranquila. Tinha cabelos loiros alaranjados como os da mãe e incríveis olhos vermelhos como os do pai. Tinha tudo o que lhe era possível, exceto os campos.

    Shizue gostava de campos abertos, aqueles os quais visitava quando era uma criança. Imaginava se algum dia poderia caminhar em um sereno como aquele, não se importaria se fosse a última vez. A menina sonhava em caminhar por esses campos, sozinha, sem medo. Era um desejo grande, mas puro. Ela só queria se sentir livre.

    Isso até conhecê-lo. E conhecê-lo significava não andar mais sozinha.

SNOW WHITE, tomioka giyuuOnde histórias criam vida. Descubra agora