6. Ele é real?

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    — O quê!? Mas já está chegando? — A garota disse surpresa, enquanto os longos cabelos eram penteados por Hiraku.

    A empregada colocou o pente em cima da cama de Shizue quando ela virou um pouco a cabeça para olhá-la.

    — Sim, senhorita. — Sorriu amigável. — Antes de sair, Sazami-sama me disse para lembrá-la sobre isso.

    A Ozuno mais nova era totalmente devota aos deuses xintoístas, assim como toda sua família foi, mas aquele ritual em específico — o kuchikamizake — deixava-a extremamente envergonhada. Seu avô era um grande produtor de arroz na região, senão o maior, e oferecer um pouco dos grãos colhidos para um templo xintoísta fazia parte do costume da família. Além disso, ele adorava ver sua lindíssima neta participando do ritual com as virgens do templo. Shizue já cooperava com o ritual há anos, mal lembrava da primeira vez em que participou, mas a memória de haver muitas pessoas olhando-a enquanto dançava com chocalhos nas mãos era nítido como um sonho.

    — Eu adoro vê-la dançando. — Hiraku completou, levantando-se de trás dela para ajudá-la a colocar o haori laranja. — Você é linda demais, Shizue-san, às vezes até fico com vergonha.

    — Obrigada, Hiraku. Você é sempre muito gentil comigo. — Agradeceu sorrindo docemente.


    Tomioka Giyuu estava parado sobre a sombra de uma árvore no quintal da enorme mansão, o vento bagunçava seu cabelo e o sol era uma presença incômoda. Tinha começado a evitar Shizue depois do ocorrido em seu quarto há três dias. Conseguia ver através dos olhos vermelhos; ela tinha sede por experimentar coisas novas. Começou a achar isso um pouco perigoso. Giyuu não ligava em ser arrogante e sério na maior parte do tempo, mas começou a rever tais atitudes quando viu que aquela garota era inofensiva — pelo menos aquele corpo frágil parecia ser —, então decidiu parar de despejar sua frustração e falta de entusiasmo em cima dela. Mas era um ignorante quanto a isso, e não conseguia evitar em ser frio. Desse modo, a melhor solução que encontrou para parar de maltratá-la por pouca coisa, foi evitá-la.

    Shizue não estava errada quando disse que a propriedade do seu avô era, na maior parte do tempo, livre de demônios — isso levava o hashira ao tédio supremo toda noite que passava sem fazer nada. Longe dele desejar um ataque àquela casa, mas ficar parado em um só lugar não era o feitio de um caçador, e kami sabia que a melhor coisa que ele sabia fazer era exterminar onis. Não tinha piedade ou hesitação.

   Era final de tarde, e Shizue optou por cuidar das hortênsias de várias cores que havia plantado há alguns meses. Todas elas tinham florescido adequadamente, e passar o final da tarde no jardim aconchegante da sua casa era como uma terapia; uma vez que não podia se aventurar para muito longe dali. Tinha colocado um kimono leve para cuidar das flores e, pendurado no braço, carregava uma cesta com algumas coisas que precisaria para ajeitar as hortênsias no canteiro. Não se preocupou em colocar um chapéu para se proteger do sol, pois esse já estava quase para se pôr e sabia que precisava pegar um pouco dos raios para se manter saudável. Os quadrados de terra cheios de hortênsias estavam levemente úmidos. Pegou uma pequena tesoura de jardinagem e começou a cortar alguns caules que não haviam crescido. Sentia o sol fraco de fim de tarde — morno e aconchegante — bater em suas costas. Quando pegou um pequeno saquinho de adubo para despejar no canteiro, um som de grama sendo pisoteada ecoou em seus ouvidos. Foi automático virar para ver o que era.

    Surpresa, Shizue retirou uma mecha do cabelo dos olhos. Giyuu estava atrás de si, há alguns metros, o mesmo rosto que conheceu semanas atrás. Frio e implacável. Fazia três dias inteiros que Tomioka estava desaparecido, então vê-lo depois desse pequeno período trouxe comichões a sua barriga — uma sensação que já tinha provado quando cuidou dele na varanda.

SNOW WHITE, tomioka giyuuOnde histórias criam vida. Descubra agora