Capítulo 3

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Cheguei no escritório de advocacia de manhã bem cedo, carregando algumas partas e minhas analises do caso do CEO da Atlas Engenharia, antes que eu pudesse sentar na minha mesa, minha chefe me chamou em seu escritório.

- Olga, bom dia! – Encostei a porta ao passar por ela.

- Como foi com a Franklin Martins ontem? – Ela cruzou os braços sobre a mesa escura e me encarou por debaixo daqueles cílios enormes, certamente postiços.

- Ele foi bem durante o depoimento. Se manteve firme e não deu pistas de estar mentindo.

- Não deu pistas? – Ela ergueu uma das sobrancelhas e descruzou os braços, para me o observar melhor.

- De que poderia estar mentindo.

- Não acredita nele?

- Estupro é algo muito delicado. Homens na posição dele podem usar poder e força para tomar mulheres que podem recusá-lo.

- Mulheres não recusam um homem como aquele, Vania.

- Está aí um motivo. Ela pode ter recusado e ele não lidou bem com isso. – Troquei o peso de um apena para a outra e continuei encarando a Olga que me devolvia o olhar na mesma intensidade.

- Com a experiência que eu tenho de mais de quinze anos atuando como advogada, imagino que seja mais uma oportunista tentando tirar dinheiro dele ou alguém que não soube lidar com um não.

- Não sei.

- Que bom que cabe a você apenas defendê-lo e não julgá-lo.

Engoli em seco, Olga tinha razão. Não cabia a mim discutir a inocência ou a falta dela por parte do meu cliente, apenas defendê-lo, ainda que no fundo, a situação de modo geral me incomodasse.

- Vou passar na delegacia para ver o andamento do caso e depois vou me encontrar com ele.

- Ótimo!

Acenei para ela com um movimento de cabeça e deixei a sua sala.

***

Havia uma coisa clara na lei, se houve consenso para o ato sexual e uma briga depois, isso não caracterizava estupro. Franklin não negava o fato de ter se envolvido sexualmente com a funcionária. Era claro que eles tiveram um caso, se isso foi forçado ou não era a palavra dele contra a dela.

Ao analisar o depoimento da possível vítima, precisei deixar de lado os meus ressentimentos e traumas, tentando observar tudo de uma forma mais racional. Enquanto o depoimento do Franklin parecia decorado de tão impecável, a mulher que estava o acusando de estupro entrou em contradição com fatos e datas várias vezes. Se perdeu e titubeou em várias perguntas feitas pela delegada. Uma das partes estava mentindo e tudo indicava que era a mulher.

Massageei as têmporas. Ver que as chances de ela estar mentindo eram altas me deixou mais incomodada do que imaginei que ficaria. Mulheres que faziam isso para ganhar alguma coisa dos acusados, acabavam apenas atrapalhando as que tinham motivos legítimos para efetuar tais denúncias.

Depois de ter examinado os autos e sair da delegacia, dirigi até a ceda da Atlas Engenharia, empresa do meu cliente. Ao passar pelas portas duplas de vidro, fiquei aliviada ao perceber que a corja de carniceiros a procura de um furo de notícia, não estava ali daquela vez. Torcia para que alguma coisa mais interessante houvesse surgido e eles simplesmente tivessem se interessado por outra coisa. Quanto menor fosse a exposição do Franklin na mídia, melhor seria para ele, porque costumavam julgar muito antes de buscar qualquer verdade nas acusações que eram feitas. Inúmeras vidas e carreiras já haviam sido destruídas por calunia e difamação.

Possessivo & Arrogante ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora