— Primeiramente, quero dizer que eu nunca te mataria. Eu não teria coragem. Tudo o que te falei naquela ligação era verdade, mesmo que eles tivessem me obrigado a fazer ela. Eu não sabia se eu sairia viva ainda, se eles fariam algo comigo, então aproveitei e disse pelo menos um pouco do que sinto. Eu sinto muito por você ter entendido a referência da canção, eles estavam me ameaçando com uma arma apontada na minha cabeça, tive que dizer algo que servisse como pista para você vir para cá. Mas não era para ter vindo — suas mãos vão até a testa. — Vou contar o que aconteceu até onde você não sabe. Bom, eu neguei e neguei, mas todo lugar que eu ia, eles me seguiam, me encontravam, de alguma forma. Toda vez que isso acontecia, era uma ameaça, uma lábia diferente. Com o tempo eu fui ficando irritada e com medo ao mesmo tempo, pois eles davam sinais de que não estavam brincando. Teve um dia que cheguei a receber uma encomenda e quando abri era uma cobra junto a um bilhete de ameaça. No recado dizia que na falta de um morto, teriam seis, ou seja, eu e minha familia inteira. Com isso, fui agindo por impulso. Eu sabia que seria presa e minha vida acabaria caso eu te matasse, mesmo que nada tivesse rolado entre nós, mas o medo, a angústia de não ter minha família comigo era muito maior. Então fiz questão de acabar logo com isso e te conhecer. Assim que te vi, foi paixão a primeira vista. Seu peitoral a vista, um homem musculoso, aparentemente jovem, um bom papo, olhos penetrantes, o suor descendo na testa. Tudo isso me fez se apaixonar por ti logo de início. Tentei me concentrar no plano, mas não dava certo. Foi quando tudo foi acontecendo entre a gente. Tudo aquilo foi real, juro! Porém, para eles, eu estava apenas cumprindo com o combinado, que era te fazer se apaixonar por mim, te ter e então te matar. Eu aparentemente estava cumprindo tudo isso, mas não, eu só estava vivendo um romance que a muito tempo eu não vivia. Ao longo das semanas Beatrice percebeu que eu estava tirando casquinhas demais, então sugeriu a Francisco que me desse outro susto, como um sinal de que o tempo estava acabando.
Nesse momento ela parou e respirou fundo, mesmo assim já se banhou nas lágrimas.
— Ei, ei — puxo ela para perto de mim e a abraço —, eu estou aqui. Só eu. Pode contar comigo.
Ao se afastar, tentou enxugar as lágrimas, mas foi em vão ao perceber que outras já escorriam. Sem perder tempo, continuou.
— Então, na volta do trabalho eu entrei em casa e meu gato estava morto.
— Você tinha um gato?
— Sim, mas perdi total a vontade de ter mais algum animal de estimação depois disso. Fazia anos que ele era a minha melhor companhia. O pior é que não para por aí. Ao longo dos meses eles me mandavam mensagens, sinais, mas pararam de me perseguir. Quer dizer, até onde eu sei. Foi quando eu deixei a proposta de lado e realmente me apeguei e quis me entregar a você. A gente casou, o tempo foi passando. Naquela semana que eu saí de casa, eu tinha recebido uma ligação de Beatrice. E sim, eu tinha o número dela salvo porque vira e mexe a gente se falava, combinava coisas, e novas ameaças eram feitas.
— Como no dia que você acordou de madrugada com aquela ligação e falou que era apenas coisas do trabalho — ela afirma com a cabeça.
— Então ela disse que contaria a verdade caso eu não contasse, mas é claro que ela não ia contar de uma forma que eu ficasse como a mocinha da história. Beatrice viu que a gente deu certo como casal, o que não estava nos planos de jeito nenhum, e então achou que dessa forma, contando toda a história do jeito dela, ela ia ter você de volta e nunca mais olhar na minha cara.
— Então você achou que saindo de casa, me deixando sozinho e chorando feito uma criança sem saber no que errou, era o melhor a se fazer naquele momento?
— Eu, pra falar a verdade, Cadu, eu não sabia o que fazer. Eu estava perdida, sem rumo. Tudo o que eu fizesse, voltaria contra mim.
— E como você viveu esse tempo?
— Bom, eu encontrei aquela pousada, a diária era barata, até porque o hotel não era lá essas coisas. Fiquei lá por dias. Nesse tempo, nenhum deles me procuraram nem nada. Por um momento eu pensei em nunca mais voltar. Mas foi quando tudo também veio por água a baixo. Recebi uma ligação ontem, era desse seu primo.
— Aliás, como você conheceu ele?
— Ontem mesmo. Na chamada ele disse que era o mandante de todo o plano e que a vingança contra o seu "priminho" não havia acabado. Falou para a gente se encontrar em algum ponto. Deixei a Maia no Emerson, que ficou todo confuso por ser madrugada ainda. Deixei para explicar depois. Vim para cá, eles chegaram e então eu permiti que o porteiro abrisse para eles. Informei o bloco e o andar, eles subiram, e então começou tudo. Estavam sorridentes, até demais.
— Você não ficou com medo de eles fazerem algo com você?
— Na verdade não. Eu já tinha perdido tanto. A minha liberdade por meses, você, que nada mais me fazia ter medo. E se acontecesse, Maia estaria em boas mãos.
— E você continuou trabalhando enquanto estava na pousada?
— Sim, e continuava deixando a Maia na minha mãe. Bom, então eles começaram a dizer coisas horríveis para mim, como "você não presta para nada", "nem matar o cara você conseguiu", "agora você vai ver o verdadeiro terror que vai virar sua vida". Eu respondia tudo a altura, de repente, ao ver Francisco levantar a arma e apontar sobre minha cabeça, me entregando o celular na mão, já pude imaginar o que eles iam propor. E estava certa. Mandaram eu ligar para você e dar uma pista de onde eu estava. Juro que não queria fazer isso.
— Mas, calma, se você estava sendo ameaçada esse tempo todo, porque não denunciou? Você tem mais poder que qualquer cidadão.
— Eu não tinha provas das ameaças.
— Nunca pensou em gravar?
— Aí é que tá.
De repente ela se levantou e tirou da mala uma pasta cheia de papéis e um pen-drive.
— O que é tudo isso?
— Eu só resisti esse tempo todo para planejar a sua vingança.
— Minha?
— Bom, Beatrice me contou todo o plano que preparou sozinha para ter a guarda do Miguel, sem que os outros dois soubessem. Ela queria que eu a ajudasse. Até certo ponto, para vasculhar seu plano, eu ajudei. Beatrice sempre pensou que eu era apenas uma detetive e assistente dela. Me contava tudo que ia fazer. Ela está doente, Cadu, doente! Sua ex me odiava, de repente começou a confiar em mim, me odiar de novo... Ela tem algum transtorno.
— E o que você quer dizer com isso?
— Calma, primeiro se acalme, tudo o que eu tenho para te dizer pode te deixar mal.
— Você está me assustando, Sarah.
— Eu também me assustei ao saber de tudo isso, por isso, só me ouça. Todos esses meses que eles pensavam que eu estava colhendo informações de você, eu estava era colhendo informações deles.
— Como? — Pergunto sem acreditar.
— É isso mesmo que você ouviu. Está preparado?
— Eu acho que sim.
— Beatrice contratou a doutora Jaqueline antes mesmo de ela te encontrar na praça. Toda aquela cena de cartão de visitas era falsa e combinada. Com isso, Jaqueline lhe entregava os resultados dos seus exames assinados por ela (uma profissional na área) e assim Beatrice tinha uma prova contra você na audiência de guarda do Miguel. Sua ex te seguiu até o restaurante para saber a sua localização, esperou você sair dele, percebeu sua tontura e tudo mais, então deu um sinal para Jaqueline também sair do carro e partir para a ação.
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Meu Caveira - A Vingança (Concluído)
RomanceDepois de tantas tragédias em sua vida, Cadu pensa que agora tudo se acalmou para o seu lado. Após seu casamento com a perita e a lua de mel mais amorosa do mundo, muitas coisas estão por vir. Descobertas vem a tona. O passado do Caveira vai voltar...