O barulho ensurdecedor alcançou seus ouvidos, virou-se a tempo de ver o garoto ir de encontro ao chão, sem forças e com olhos assustados. Correu, mas parecia não sair do lugar, algo prendia suas pernas. Quanto mais forçava, mais parecia ser atado àquele mesmo lugar.
E então parou. Não conseguia mais se mover, apenas era capaz de observar aquele corpo caído bem diante de seus olhos, o sangue circundando-o. Ao fundo podia ouvir sirenes, mas ao invés de chegarem, elas pareciam se afastar. Ignoravam.
Gritava por socorro, pedia que o soltasse, implorava para que fossem até lá salvar o garoto. Ninguém o ouvia, todos ao redor apenas o observavam, apontavam para si. Não diziam nada, mas era como se seus olhos gritassem.
"É sua culpa."
"Você quem fez isso."
"Você o matou."
"Assassino."
As palavras ecoavam em sua cabeça, batiam contra as paredes ósseas e violentavam seus pensamentos. Sentia suas mãos quentes, quentes demais. Olhou para elas e medo tomou conta de seu corpo. Estavam vermelhas. Molhadas. Quentes. Sangue.
Olhou ao redor, todos continuavam a apontar para si, tudo parecia sufocá-lo, paredes se aproximavam carregando-o para perto do corpo caído. Ao olhar para baixo o garoto sorria, sorria de forma terna, mas trazia dor.
"Não é sua culpa, Sehun... Mas por que eu tive que morrer?"
Levantou-se abruptamente, arfando em quase completo desespero, olhando ao redor e tentando se situar de onde realmente estava. Botou as mãos contra seu peito, sentindo a camiseta de seu pijama incrivelmente molhada. Estava suando em excesso, também sentia seus cabelos colarem contra a sua testa.
Esticou as mãos e ficou encarando-as. Por sorte estavam limpas, nada de sangue. Mas a sensação quente parecia continuar ali.
Sehun sentou-se a beirada da cama, jogando as pernas para fora, sentindo o chão gélido sob seus pés descalços. Jogou os cabelos molhados pelo suor para trás, sentindo o pouco vento do quarto bater contra sua testa. Respirou fundo e buscou se acalmar. Há quanto tempo estava sem ter aquele pesadelo? Há quanto tempo não sentia aquela dor o consumir por dentro?
Será que tinha direito de não a sentir mais?
Olhou para o outro lado do cômodo, Chanyeol e Jongin estavam completamente imersos em seus sonos, nem sequer haviam se mexido. Buscou o celular sob a cômoda próxima a sua cama, o horário na tela revelava que ainda eram cinco da manhã. Pensou em voltar a se deitar e tentar dormir, mas sabia que mesmo se fosse capaz provavelmente voltaria a ter o mesmo pesadelo.
Levantou-se e buscou uma roupa seca e que permitisse que se movimentasse bem. Trocou-se rápida e silenciosamente, deixando o quarto e caminhando a passos vagarosos pelos corredores externos dos quartos. O céu ainda estava escuro e o clima estava agradavelmente fresco.
Se viu caminhando por todo o centro de treinamento até se encontrar no centro do campo A, olhando as cercas, a terra vermelha batida, as marcas em branco no chão, o monte... tudo ali parecia ser um universo completamente diferente. Pouco a pouco notou as primeiras discretas linhas alaranjadas no céu ligeiramente mais claro. Um mosaico natural sendo montado ao vivo, apenas para aquele jovem e aflito telespectador.
Caminhou até uma das máquinas de lançamento cercadas pelas redes, um taco estava ali jogado pelo chão. Se o capitão visse provavelmente teria um surto nervoso. Ligou a máquina e voltou até a posição de rebatedor. A primeira bola veio veloz em sua direção, uns 100km/h para começar, não estava preparado e muito menos tinha bons reflexos em rebatidas.
