somos teus passarinhos

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taeyong trata a gente como se fôssemos os passarinhos azuis que ele cuida com tanto zelo.

ele os leva pra casa.
põe na gaiola.
enfia alpiste.
e tome-lhe alpiste.

ele os dá água.
água para beber.
água para banhar-se.
e chama-os de
meus garotos.

ele não quer nada em troca, não
apenas um favor:
que cante
cante sempre
que ele estiver
por perto
para escutar,
mesmo que de dor.
mesmo que seja de dor.

taeyong nos prende como se fôssemos os passarinhos azuis que ele cuida com tanto zelo.

ele não prende tuas asas.
tampouco corta-as.
ele faz pior:
deixa-os batê-las,
tentando fugir,
até seus peitos
cansarem
do esforço
e eles pararem
de acreditar
que um dia
sairão.
eles não acreditam mais que sairão.

taeyong nos controla como se fôssemos os passarinhos azuis que ele cuida com tanto zelo.

escolhe quais sementes irão comer.
quem é que verão.
se a luz do sol inundará tuas retinas.
onde ficarão.
ele é muito mandão.

ele assobia,
faz barulhinhos estranhos
alimenta,
faz a obrigação.
e ele diz que assim
está fazendo o seu papel
e devem agradecer.
"onde está o canto?",
é o que ele quer.

taeyong nos molda como se fôssemos os passarinhos azuis que ele cuida com tanto zelo.

temos comida.
temos água.
temos casa.
mas, oh,
por que
de repente
tudo é tão azul
quanto os malditos
passarinhos que ele diz cuidar?

tuas aves nunca cantaram.
deve ser porque
ele nunca as tratou
de uma maneira saudável
para sentirem-se num lar.
e é por isso que eu e os meninos
não sabemos o que fazer:
temos as asas,
mas não sabemos como voar.
ele tirou-nos isso
sem nem termos experimentado.
que há de errado?
me sinto impotente.
estamos presos.
somos os passarinhos de taeyong.

taeyong nos animaliza porque somos os passarinhos azuis que ele cuida com tanto zelo.

ele nos trouxe para casa.
nos pôs numa gaiola.
enfia-nos alpiste.
e tome-nos alpiste.

dá-nos água.
água para beber.
para banharmos.
e nos chama
de teus garotos.

ele não quer nada em troca, não
apenas um favor:
que cantemos
cantemos sempre
que ele estiver
por perto
para escutar,
mesmo que de dor.
mesmo que seja de dor.
e, ultimamente,
ultimamente
só sabemos
cantar de dor
como se
estivéssemos
rasgando
nossas gargantas
pedindo socorro.
há anos.
há anos.
e anos.

pois somos passarinhos. mas passarinhos só servem pra isso? papai não nos ensinou. ele nunca nos ensinou.

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pois somos tipo passarinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora