NAORI XII - ASCENSÃO

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"O que aconteceu? Estás bem?", Naori ouviu o eco da própria voz. Orish estava à sua frente, sentado em algum lugar que ela não sabia dizer se era o chão, as paredes ou o teto.

"Eu odeio ter que recorrer a esse tipo de apelação, porém não tenho escolha", ele falou. "Para esclarecer tuas dúvidas, primeiro preciso que te acalmes. Isso, respires fundo, sinta o ar passando por tuas narinas, por teus pulmões, e sendo expelido quente pela boca. Sinta teus pés. Como é a sensação? Consegues sentir teu sangue pulsando? Agora respire novamente e me escute com calma. Pode ser a última vez que nos vemos."

Naori não conseguia falar e sentiu pânico por isso. "Shhhhhh.... Faça o exercício novamente. Preciso que te acalmes plenamente antes de continuar."

Silêncio.

"Muito bem. Finalmente posso falar agora. Estamos num lugar entre o passado, o presente e a realidade. Parece confuso, eu sei. Não tenho tempo para explicar melhor, contudo, e preciso que escutes bem e com atenção."

"No passado, Frelyl e Aukana acabaram de morrer. Eu sei disso porque senti. Não sei como estão os outros e se alguém sobreviveu, apenas que Oruk me tirou o que era mais precioso, e sei que eles também eram para ti. Eles podem ter a vida de volta, entretanto para isso precisas retroceder."

"'O que é retroceder?', me perguntas. 'É voltar ao exato momento onde o destino deles foi selado e fadado à morte, quando eles fizeram alguma decisão errada', eu respondo. Parece simples, não? O problema reside no fato de que não podes ser reconhecida por ninguém, e acredite, essa será a parte mais difícil. É claro que isso acontecerá apenas se concordares em te sacrificares para salvar nossos entes queridos. Quanto a mim, aparecer diante de minha irmã é suicídio, e ainda não quero que seus desejos mesquinhos se tornem realidade", Orish olhou para o vazio.

"Sei que tudo isso parece informação demais. Apesar disso, pergunto: queres assumir o risco?"

Queres salvar Frelyl e Aukana?

Naori acenou com a cabeça afirmativamente sem hesitar. Não importa qual fosse o preço, salvaria as pessoas mais importantes para si. Não os abandonaria como fez com Haukea.

Abrindo os olhos, Naori se viu no meio de um campo de batalha. Era diferente das batalhas que vira antes, a começar pelo céu enegrecido pelas nuvens de tempestade no céu e o ribombar constante dos trovões. Não apenas na terra Demonica lutavam, mas também no céu, em todos os lugares. Às vezes um brilho intenso surgia em seu campo de visão e sabia que aquilo era fruto de um duelo entre Archanja e Diabla. Pelo que Zanarick dissera, havia sete de seus irmãos e apenas quatro como Frelyl... Estavam em desvantagem numérica. Era óbvio que perderiam, já deviam saber disso antes de terem começado.

Mesmo assim, foram à luta para defender o lar, porque não aguentavam mais perder companheiros.

Naori também não queria mais aquilo para sua vida, pessoas demais já lhe foram tiradas pela morte. A armadura dourada que vestia em tese lhe garantiria proteção, e as asas douradas a disfarçariam como Angelica. Tinha pouco tempo de transformação e ninguém podia reconhecê-la, teria que ser ágil.

Voou pelo campo de batalha, nenhum conhecido até ver Hespéria lutando ferozmente contra um querubim. Lançou-se em direção a ele e o empurrou para que se desequilibrasse. Podia não saber lutar, mas ajudar era o que fazia de melhor. A mulher dourada o finalizou com sua maldição da dança eterna. Foi bizarro vê-lo morrer de exaustão com os pés esfolados e articulações desgastadas.

"Cadê Frelyl...", murmurou. Foi mais fácil encontrar Zanarick, de asas exóticas e facilmente identificável. Voou até ele...

E sentiu uma dor lancinante na parte de trás na cabeça, que a fez perder o equilíbrio e cair. Era Kawimawi. "Morra, escória!", ele lançou plumas que trepidavam com raios em miniatura em sua direção. Naori rolou desajeitada para o lado e desviou, alçando voo novamente em seguida. Tinha que fugir e achar Aukana, e voou, pôs tanto esforço nas asas que elas doíam, e sentiu quando uma das penas do Trovasian passou raspando. Tão perigoso e afiado quanto uma adaga, ela pensou.

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