A curva da insegurança

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Capítulo 2 » A curva da insegurança


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Ao sair de casa naquela manhã, Taehyung não cogitou que teria imprevistos no caminho.

Seu cronograma era simples: acordar cedinho, ir até o quarto dos gêmeos e fazê-los levantar da cama para arrumar a cozinha, dar um pulo na padaria do bairro, pegar o bolo que havia encomendado para a avó e ajudar a terminar de organizar a casa para a surpresa que eles fariam. Não era nada demais; apenas um bolo gostoso e um café da manhã elaborado, junto com cartinhas dos três netos pregadas na geladeira. As cartas dos mais novos eram repletas de desenhos e canetas coloridas e a do mais velho se destacava pela liricidade e o tom sério. Não que ele tivesse algum preconceito com giz de cera e glitter, mas nos últimos meses — desde que adquiriu poderes inexplicáveis com a picada de uma aranha radioativa — estava mais sentimental do que o comum, tentando deixar claro para sua família e amigos o quanto eles significam para si.

Afinal, com a fama crescente do Homem-Aranha, o amanhã era uma inconstância cada vez maior na vida do Kim. Jeongguk não gostava quando o mais velho falava essas coisas, mas, bem, Taehyung assistia o noticiário. Em algum lugar nos Estados Unidos, pessoas ruins faziam planos e tentavam derrubar os Vingadores, super-heróis louvados como Capitão América e Viúva Negra. Logo, o que impediria bandidos e outras pessoas de tentar derrubar Kim Taehyung, o jovem por trás da máscara do Homem-Aranha? Com certeza, era apenas questão de tempo até alguém tentar e outros seguirem a ideia.

De qualquer forma, ele estava no terceiro passo da sua rotina matinal quando avistou um ladrão abordando um garoto que estava indo para a escola. O sol nem tinha nascido direito e Taehyung supôs que o menino deveria estudar longe se estava a pé e andando pelas ruas tão cedo. Sentiu o próprio corpo tensionar ao perceber o que estava acontecendo e ficou muito consciente do traje enfiado no fundo da mochila. Tomou sua decisão em um piscar de olhos, atravessando a rua vários metros atrás do ladrão e da criança, entrando em um beco que sabia ser pouco frequentado por causa das obras em construção que atualmente estavam paradas. Puxou a camiseta pela cabeça com rapidez, e se livrou da calça, o corpo se arrepiando por causa do clima gelado. Pulou de um pé para o outro conforme vestia, desajeitado, o uniforme azul e vermelho.

— Porque diabos o Jeongguk... — resmungou enquanto ajustava a roupa no próprio corpo, movimentando os braços e pernas para ela encaixar melhor. — Tinha que fazer um uniforme tão apertado?!

Deixou a mochila no beco, escondida entre alguns materiais de construção. Só por garantia. De acordo com uma pesquisa feita nas redes sociais, a população de Daegu era dividida entre dois extremos: havia aqueles que acreditavam que o Homem-Aranha era jovem e os outros acreditavam que ele era algum adulto, casado e formado em química, que sozinho conseguiu descobrir uma fórmula para mutação genética. Taehyung gostaria de poder dar os devidos créditos aos pais — embora tivesse a ligeira impressão que eles não queriam que a mutação da aranha radioativa fosse contagiosa a seres humanos — mas sabia que isso nunca seria possível. Ele também sabia que o segundo grupo dos teóricos sobre o super-herói coreanos só existia por causa da sua voz grave e pelo bem de Jeongguk, precisava que essas pessoas continuassem alimentando essa ideia. Quem sabe assim os alunos da faculdade não desistiriam das ideias malucas de fazê-lo confessar sua identidade, ou pior, pegá-lo em flagrante? Por isso, toda vez que precisava vestir o uniforme de última hora, achava um lugar para esconder a mochila de estudante e tentava maneirar na quantidade de gírias que falava ao socar a boca de algum bandido.

Ele NÃO é o heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora