Uma missão secreta não deveria ter exposições. Deveria ser discreta e silenciosa. Algo que eu poderia muito bem fazer sozinho. Eu sabia ser invisível quando queria, isso foi algo que eu aprendi quando ainda vivia como um bichano. Eu não precisava ser visto para arrancar informações de alguém. No entanto, Mary não parecia saber ser muito discreta. Se ela sabia, não queria ser, o que tornava tudo pior. Ela era excêntrica e não poderia negar. Eu também era, tinha que admitir. Dois seres completamente excêntricos trabalhando em uma mesma missão que deveria ser secreta nunca poderia dar certo. O resultado disso foi uma grande platéia para a nossa primeira apreensão.
Mohamed tentou se livrar dos meus braços, mas foi em vão. Ele se debateu algumas vezes, tentando desferir socos contra mim. Uma pequena medalha dourada, com um pequeno olho esculpido, pendurada em seu pescoço, quase me arranhou. Mary percebeu a quantidade de testemunhas que tínhamos ao nosso redor e guardou o revólver no mesmo instante, como se ninguém tivesse visto. O homem se debateu e eu apoiei meu cotovelo em suas costas, impedindo-o de se mover.
- Aquela dívida! Eu juro que vou pagar. - Ele choramingou. Senti a tensão aumentando em sua voz. Mary e eu franzimos o cenho.
- Do que está falando, homem? - Mary perguntou baixo. - Nós o procuramos porque queremos saber do seu primo, o Khalil.
- Ah! - Ele respirou aliviado e até mesmo sorriu. - Pode me soltar? - Pediu para mim. Eu hesitei alguns segundos antes de colocar o humano de pé. Mohamed sacudiu a poeira da roupa enquanto nós o observavamos. - O que querem com o meu primo? - Perguntou curioso.
- Não é da sua conta o que queremos com ele. - Respondi ríspido. Ele encolheu os ombros, receoso. - Você nos passa o endereço e pronto. - Sussurrei, dando um passo na sua direção. Mohamed deu um passo para trás.
- Tudo bem. - Respondeu por fim. - Vou anotar o endereço para vocês. - Prometeu.
E assim o fez. Mohamed anotou o endereço do primo num pedaço de papel antes de sumir de nossas vistas. Eu já tinha visto um humano amedrontado, mas ele parecia sentir ao além do medo racional.
- Vamos atrás do Khalil agora? - Perguntei. Mary olhou para o céu. O sol já começava a se pôr.
- Não. - Balançou a cabeça. - Amanhã de manhã iremos. - Disse decidida. - Vamos voltar para o hotel. Preciso dormir um pouco. - Mary passou por mim sem dizer mais nada. Eu apenas a segui.
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O hotel em que nos hospedamos não era lá essas coisas. Não era luxuoso, nem muito grande. Era simples e arrumadinho. Todo adornado com a decoração local, bem tradicional. A senhora que nos atendera tinha um olhar bem desconfiado e apenas havia nos entregado as chaves sem dizer muitas palavras. Ela dissera algo como "temos apenas um quarto sobrando" . Acho que ela não entendeu muito bem que não éramos um casal recém-casado em lua de mel. Ou melhor, talvez ela não quisesse entender isso. Era melhor não discutir. De qualquer forma, nós não íamos passar muito tempo ali mesmo. Nossa missão seria curta.
Mary foi a primeira a entrar no quarto, deixando a pequena mala que trouxera no canto da parede. Ela fez uma careta ao ver a única cama no local e me fuzilou com o olhar como se fosse capaz de me matar ali mesmo só para não ter que dividir a cama. Não esperei que ela começasse a resmungar (ou tentar me matar) para decidir ficar com o pequeno sofá, perto da janela. Era a decisão mais sábia a se tomar naquele momento. Eu não precisava dormir mesmo.
A noite escura e mais fria não demorou a chegar. Não conversamos muito, enquanto ajeitávamos nossas coisas. Mary entrou no pequeno banheiro e ficou longos minutos por lá. Depois que ela saiu, foi a minha vez. Tomei um banho para tirar a poeira do corpo e me vesti logo em seguida. Quando saí do banheiro, Mary já estava enrolada nas cobertas, dormindo. Segui para o sofá e peguei um livro para ler, usando um abajur para clarear a minha visão. Já previa uma longa noite pela frente. Nada de dormir. Nada de descanso.
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The Mischievous Prince - Spin-off
FanficNeste spin-off, você acompanha uma nova aventura de Nerfi, além de conhecer um pouco mais sobre o seu passado sombrio.