cherry cola | taekook

Prologue.

[#000] PRÓLOGO — Aquela sobre os desalmados que odiavam o mar.

Haviam poucas coisas que Choi Wooshik poderia dizer que odiava. Mas, no topo da curta lista, uma posição acima de beterraba, estavam as praias.

Sempre que alguém tentava convencê-lo de que seu ódio pelas praias era infundado, Wooshik tirava um argumento diretamente da ponta da língua para provar seu ponto. A sensação da areia quente entre os pés? Terrível. Conhecer novas pessoas? É pra isso que existem as redes sociais. Um alívio agradável para um dia acalorado? Ele tem um chuveiro com a mesma função em casa. Simplesmente nadar para relaxar? O mar, além de ser um banheiro gigante, é um profundo mistério com inúmeros perigos que a humanidade sequer conhece ainda; é impossível relaxar nessas circunstâncias.

No entanto, apesar de suas muitas reclamações, ali estava Choi Wooshik, andando num calçadão localizado nas redondezas de uma das incontáveis praias de San Francisco. Seu figurino incluía uma regata encharcada de suor, uma bermuda verde que ficava escorregando de sua cintura por ser um pouco maior do que devia e chinelos de dedo.

Mesmo que o Sol já tivesse despedido-se há alguns bons minutos e a temperatura supostamente tivesse caído, a sensação térmica aproximava-se dos trinta e cinco graus. Com isso, Wooshik especulava, em sua cabeça, quantas horas ainda seriam necessárias para que sua pressão baixa e o clima lhe levassem a um desmaio. Também pensava em quanto ganharia ao processar seu maldito chefe, o responsável por enviá-lo àquele lugar tenebroso.

Sendo dono de um currículo que daria inveja em qualquer veterano da área do jornalismo, Wooshik não deveria estar passando por uma situação tão degradante quanto essa. Mas, justamente por sua vasta experiência com tão pouca idade, o superior pensou que ele seria o profissional ideal para escrever o que provavelmente seria a matéria mais importante da SGK News.

Para finalizar esse acordo milionário que renderia alguns zeros em um cheque endereçado ao jornal, a mente por trás da famosa Cherry Cola, uma das marcas de refrigerante mais populares da América do Norte, fez uma proposta um tanto inusitada: uma reportagem especial sobre um amor cujo palco de desenvolvimento tivesse sido a terra natal do bendito refrigerante — é aí que entra a calorosa San Francisco —, sendo que a história em questão também deveria citar, em algum momento, o produto do patrocinador em potencial.

Para o chefe de Wooshik, a tarefa estava longe de ser difícil. Bastava achar um casal disposto a falar sobre sua vida amorosa com um completo desconhecido, sabendo que milhares, talvez milhões, de pessoas ao redor do globo teriam acesso ao seu relato. Uma coisa muito simples, não é?

Aparentemente, surpreendendo o superior do Choi e o fundador da Cherry Cola, não é todo mundo que se sente confortável para contar sobre seu conto de fadas particular. Até aconteceu de um trio cruzar o caminho do repórter, mas, infelizmente, suas breves histórias não batiam com os critérios exigidos pelos velhos burgueses para quem o rapaz trabalhava.

— Inferno — Wooshik praguejou baixinho ao checar as horas em seu celular, notando que as sete da noite aproximavam-se. Mais um dia se dava por encerrado e, novamente, ele não tivera sorte com sua matéria.

Haviam algumas queimaduras em sua pele. Estava na cidade californiana há cerca de uma semana e estaria mentindo se dissesse que utilizou o protetor solar corretamente em algum momento. Não se orgulhava disso, mas a falta de costume com raios solares tão intensos fazia sua memória falhar.

— Tudo bem — suspirou, guardando o celular no bolso de sua bermuda larga. — Chega de procurar amantes por hoje. — Correu os olhos pelas fachadas dos vários estabelecimentos que estavam abertos no outro lado da estrada. — Preciso de uma bebida.