[#004] QUARTO — Aquela sobre o sabor inesquecível de cereja.
— Juntos, é? — Warrick levantou uma sobrancelha quando Jeongguk e eu saímos lado a lado da casa de shows. — Interessante.
A fila para entrar na Devil's Ink havia diminuído consideravelmente, mas ainda tinham algumas pessoas aguardando. Grande parte delas conhecia o rapaz que me acompanhava, claramente, pois não tardaram em acenar e chamar por seu nome.
— Não enche — o Jeon esticou os braços que estavam inseridos dentro dos bolsos de sua jaqueta de couro como se estivesse dando de ombros. Ele revirou os olhos também, mas um sorriso brincalhão continuava dançando em seus lábios.
Foi a minha vez de arquear as sobrancelhas, visto que Warrick suspirou de maneira audível antes de começarmos a andar para algum ponto na área dos fundos da boate. Ele não parecia muito feliz em nos ver juntos, mas, no auge da paixão, eu acabei deixando a opinião dos outros de lado.
O cherry boy tinha uma moto. Grande, preta e com uns poucos adesivos de desenhos animados — e de uma bandeira de um país que eu, na época, infelizmente não sabia o nome — na parte frontal, que foi, também, onde ele abriu um compartimento para colocar a minha mochila. Ela estava estacionada em um local mais afastado da Devil's Ink, como se o Jeon quisesse escondê-la.
Jeongguk subiu na moto e me alcançou um dos capacetes que tinha ali consigo. No instante em que coloquei aquela coisa na minha cabeça, tive um breve momento de arrependimento por ter aceitado a bendita carona, mas logo voltei a mim, pensando que, pelo lado positivo, não iria precisar gastar meu pouco dinheiro com um táxi.
Após colocar seu próprio capacete, Jeon lançou-me um olhar divertido. Acho que foi uma das noites em que mais lhe vi sorrir, mesmo que vários desses sorrisos tivessem sido um tanto maldosos.
— Você já andou de moto?
— Sim, há mais de dez anos. — Disse, e só então notei que estava nervoso.
— Você não vai cair, Tae — ele me garantiu com certa ironia, como se aquilo fosse algo óbvio, e talvez realmente fosse para a maioria das pessoas, mas definitivamente não para mim. — Sobe aí.
Soltei um suspiro, mas me dei por vencido.
Receoso e cheio de não-me-toques, me posicionei logo atrás de Jeongguk. Agarrei nos apoios laterais traseiros da moto como se a minha vida dependesse disso — e de fato dependia —, mesmo que o motor sequer estivesse ligado. Precisei respirar fundo algumas vezes em um curto espaço de tempo para não acabar desistindo.
— Segura firme! — o Jeon disse, e, pouco depois disso, escutei o ronco do meio de transporte. Em um piscar de olhos, nós estávamos em movimento.
Quanto mais ele acelerava, mais arrependido eu ficava. Meus dedos já estavam ardendo de tanto apertar aquelas barras de ferro, e isso que não fazia nem um minuto que andávamos.
Tentava aproveitar o momento, curtir a brisa quente da madrugada de San Francisco, mas eu não era capaz nem de olhar para qualquer ponto que não fossem as costas de Jeongguk. Diferentemente de mim, ele transparecia uma serenidade invejável. Não entendia como não estava morrendo de calor, visto que tinha voltado a vestir a jaqueta que usara no show de antes.
— I'd like for you and I to go romancing — cantarolava em um tom baixo. — Say the word, your wish is my command. Oh, love, oh, lover boy, what're doing tonight?
Nós entramos em uma rua com velocidade mínima de setenta quilômetros, presumo que fosse por ser asfaltada e sem curvas. E foi então que eu tive o desprazer de sentir a minha alma desesperadamente tentando abandonar o meu corpo.
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cherry cola | taekook
Fanfic[CONCLUÍDA] Em 1998, Taehyung conheceu e se apaixonou por Jeongguk, um cara com cabelo cor de cereja que, toda sexta-feira, aparecia na locadora onde trabalhava para alugar filmes de terror e comprar refrigerante. Engataram em um relacionamento que...