Capítulo 06

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O Muro das Lamentações é um dos lugares mais visitados da parte velha de Jerusalém. Criado por Herodes, O Grande, o muro circundava o segundo Templo que foi construído por Zorobabel após o Exílio na Babilônia. No ano 70 da era cristã, o Segundo Templo foi destruído pelas legiões do então imperador Tito restando apenas parte da muralha externa. Diz-se que Tito deixou essa parte do muro de pé para que os judeus tivessem que lamentar a derrota da Judéia pelo Império Romano.

Diante do muro, um grupo de homens citavam passagens da Tora enquanto balançavam para frente e para trás, uma turma de estudantes adolescentes tiravam fotos e cumpriam a tradição de colocar papéis com pedidos nas frestas do muro. Próximo a um grande grupo de judeus, Jaco tocava a superfície do muro com a delicadeza de um pai que afaga a face de um filho. Imaginava quantas pessoas já haviam feito o mesmo, como deveria ter sido aquela fantástica estrutura em seu auge. Lembrou-se do dia em que havia visitado o muro com o seu pai, da felicidade de esta comemorando mais um aniversário com ele. Ao saírem da área do muro um jovem palestino com uma faca anúncia o assalto, o pai de Jaco reage sem pensar, com rapidez o assaltante perfura o estômago do velho que se contorce de dor, em seguida sem levar nada o palestino foge. O desespero chama a atenção de um soldado israelense que corre em direção aos dois. Jaco aponta na direção em que o assaltante havia fugido.

Um homem se aproxima para prestar socorro, mas em vão pois o pai de Jaco já estava morto. O homem lamentou a perda e se oferece para ajudar, ele se apresenta como Sanzael. A amizade entre Jaco e Sanzael se estreita com o passar dos meses, em suas conversas com o amigo começa a enteder a raiz desse conflito insano entende que enquanto não forem eliminados os vestígios da fé de ambos não poderá haver paz.

Vestido como típico rabino Jaco se confundia em meio aos demais, que Deus me perdoe, foi o seu pensamento. Retirou o detonador do bolso, deu uma última boa olhada ao redor, depois apertou o botão.

Um estrondo ecoou por todo a área do Muro das Lamentações. Gritos, sangue e ossos se misturam. Pessoas em desespero corriam para se proteger, soldados israelenses tentavam em vão acalma-los. Não muito distante dali uma outra explosão pode ser ouvida. Ela vinha do Domo da Rocha.

A Mesquita de Omar é mais conhecida como Domo da Rocha. Contruida onde antes havia o Templo dos Judeus por volta do século VII. Sua cúpula dourada domina a paisagem de Jerusalém. Em seu interior, uma grande pedra segundo a crença de judeus e islâmicos o patriarca Abraão teria preparado o sacrifício de seu filho Isaac; teria sido também local da viagem de Maomé aos céus chamada pelos islâmicos de Al Miraaj.

Em silêncio, Mustafa estava convencido de que isso seria o certo a fazer para acabar de uma vez com a guerra entre judeus e palestino, retirou a grande mochila de viagem que trazia e a colocou no chão. Pondo a mão no bolso e tirou a foto do seu filho que morreu pelas mãos de um soldado israelense quando estava em perseguição de um palestino acusado de esfaquear um judeu. O filho de Mustafa com apenas dez anos na época saiu assustado de um beco, sem pensar o soldado disparou cravejando o corpo do menino que se desfez como folha de papel.

O ódio pelos israelenses só fez aumentar, até o dia que encontrou a quase um ano um homem que visitava Jerusalém. O homem se chamava Sanzael, seu jeito calmo e o vasto conhecimento sobre a história dos dois povos o encantou, ele entedera o mal que as duas religiões faziam, entendera que Deus não ligava para os templos de pedra quando tantos templos de carne e ossos eram destruídos.

Agora tudo aquilo iria mudar, ergueu os olhos para o domo sentindo quase pena da destruição que iria causar a tal obra arquitetônica. Ele ouviu o estrondo, era o sinal, lançando a mochila em direção a pedra que ficava no centro da mesquita retirou o denotador, apertou o botão. A explosão fez estremecer a mesquita, o domo dourado começou a rachar e ceder. Do lado de fora, turistas e fiéis atônitos corriam com horror na face, a poucos segundos eles tinham ouvido uma outra explosão vindo da direção do Muro das Lamentações, outros paralisados de medo por verem um dos centros de sua fé ruir. Séculos de história e fé viraram pó.

Após levar Lilhiti para um quarto e ficar mais calmo pelo fracasso de ter perdido o livro. Sanzael ligou a tv para espairecer. O programa era um desses shows de variedades com culinária, moda e etc, mas o programa deu lugar ao plantão do noticiário. A apresentadora começou a falar sobre dois atentados, sobre vítimas. Depois a tela mudou mostrando uma repórter onde de fundo podia se ver o Muro das Lamentações e o vazio deixado pela Cúpula do Domo da Rocha. Sanzael levantou sorrindo, colocou uma dose de whisky com gelo ergueu o copo para o céu e falou.

- Agora é a sua vez meu velho. - disse tomando a dose de uma vez.

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