Sobre Anjos e Demônios

Capítulo 09

Eles chegaram a loja de antiguidades no lado sul da cidade. Faxada simples, interior mal iluminado, umas três ou quatro pessoas olhavam as mercadorias mais por curiosidade do que por desejo de comprar. No lado de trás do balcão, um senhor que aparentava uns 65 anos, magro de olhos negros e cabelos brancos ficou surpreso em ver os seus visitantes. Ele os reconheceu de imediato. Um dos homens trazia nas mãos um livro que ele julgava ter se perdido em eras passadas.

O velho fez sinal para os poucos clientes dizendo que iria fechar. Depois que todos sairam com exceção dos três recém chegados o velho fechou a porta.

- Fiquei pensando quanto tempo levariam para que algum de vocês viessem aqui. Só não imaginava ver você, Miguel. - disse o velho com o andar mais vivido e agiu que o habitual. - E quanto a vocês dois? é preciso o mundo desmoronar pra vocês me visitarem? - falou apontando com o indicador para os dois anjos ao lado de Miguel.

- Como assim desmoronar? - perguntou Ezequiel.

- Vocês não estão sabendo? Já faz umas seis horas que os noticiários não relatam outra coisa. Venham vou mostrar.

Os quatro caminharam ao aposento nos fundos da loja, onde mais objetos antigos dividiam o espaço com duas grandes poltronas de couro marrom, uma estante rústica e uma mesinha em vidro e bronze. Um objeto na prateleira da estante chamou a atenção de Izacael, há mais de dois mil anos ele não via aquilo. Era um copo feito de barro com marcas de rachaduras em sua superfície.

- Você ainda guarda essa coisa, Refain? - disse Izacael mostrando o objeto.

- Tem valor sentimental pra mim. Afinal, foi nele que o Verbo bebeu seu último vinho neste mundo antes de ser crucificado. Agora deixa isso ai e vamos ao que interessa.

O velho lentamente se transmutou de uma forma idosa e frágil para uma robusta e jovem, seus cabelos brancos agora eram negros como o tom da sua pele.

Ligou a tv e as imagens ao vivo da Terra Santa surgiram. Fogo, fumaça, gritos de sofrimento de mulheres e homens, as imagens surgiam umas apois outras.

Um repórter falava algo sobre uma invasão da polícia israelense a uma mesquita que acabou com dezenas de mortos e feridos.

A imagem na tela foi dividida. Agora era um outro reporter, direto do aeroporto internacional de Jerusalém, que informava sobre o tumulto das pessoas que queriam sair o mais rápido possível da cidade. No instante que o reporter iria continuar a informação, ouvi-se tiros, gritos e o som de vidros estilhaçados. O câmera buscou focar a direção do conflito. Homens armados atiravam para todos os lados.

- Por Deus! eles estão atirando em todo mundo.

Abruptamente a imagem foi interrompida. O âncora do jornal estava espantado com tamanha crueldade.

Refain desligou a tv e se sentou em uma das poltronas acenando para que os seus convidados vizessem o mesmo.

- Isso começou à algumas horas atrás e esta ficando cada vez pior soube que a ONU pretende mandar forças militares para os locais de conflito, já do outro lado, países aliados da Palestina ameaçam unir forças caso haja qualquer tipo de retaliação.

- Sanzael foi a causa disso tudo. - afirmou Ezequiel.

- Eu não fazia a menor ideia de que ele estava envolvido. Sei onde podemos acha-lo. A uns dois anos eu o encontrei em um restaurante no centro da cidade. Conversamos sobre os velhos tempos, ele me parecia muito tranquilo. Falou-me que era diretor de propaganda em uma multinacional chamada Muntec. - disse Refain levantando-se. - É melhor nos irmos.