Capítulo 11

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O sol resurgia no horizonte tornando o negro manto da noite em um pálido azul; sentado no batente da porta Izacael estava de olhos fechados envolto em suas conjecturas. Ele não percebeu a chegada de Ester que trazia na mão uma xícara de chá. Ela sentou-se ao seu lado, ambos ficaram em silêncio por alguns minutos quando ela agradeceu por ter ido salva - lá.

- Obrigada! Parece que está virando cliché você e o Miguel me salvarem.

Ele abriu os olhos e sorriu. Pela primeira vez o anjo notava o quão bonita ela era. O rosto bem desenhado como se estivesse sido delicadamente moldado, notou como os olhos dela brilhavam sob a luz do amanhecer. Ester pousou a xícara de lado, entrelaçou o braço dela nos do anjo e recostou a cabeça no ombro dele, por um momento ele desejo.

Desejou que tudo que existisse a sua volta fosse aquela casa com um quintal de grama bem aparada, onde podia desfrutar da companhia dela, desejou que não houvesse uma guerra, ou um mundo para salvar. No fundo de seu ser, Izacael só desejava que aquele momento durasse uma eternidade.

- Precisamos conversar será que o casalzinho poderia dar o ar de sua graça. - disse Refain com um sorri irônico no rosto.

Ester se levantou primeiro cumprimentou o angélico na porta com um sorriso. Em seguida, Izacael foi impedido de passar quando o amigo pôs o braço em seu caminho.

- Tome cuidado meu irmão, muitas coisas são perigosas nesse mundo, mas nenhuma delas se compara ao olhar e sorrisos de uma mulher.

- Não se preocupe comigo Refain sei como lhe dar com essa situação.

- Não é com você que me preocupo. É com ela.

Os dois caminharam até a sala onde Miguel mostrava a Ester o Lemegeton. Ester pegou o livro e abriu na página marcada com uma fita púrpura. Olhou o desenho da pedra com a escrita angélica.

- Sim eu vi uma dessas nas mãos de Sanzael. E foi por causa dela que ele me sequestrou.

- Conti nos o que aconteceu depois que Almadel levou você. - quis saber Izacael sentando-se na poltrona ao lado de Ester.

Ela ficou pensativa por alguns instantes olhando a negra madeira do assoalho. Ainda estava confusa com a revelação que Sanzael fizera. Súcubus. A palavra saiu como um sussurro quase inaudível, mas para os três anjos presente foi dita em alto e bom som. Eles se entre olharam surpresos. Anubis tinha razão, estavam tão concentrados em deter Sanzael que não se deram conta da peculiar natureza de Ester.

- O anjo que vocês enfrentaram, Almadel, me levou até a sede da Muntec. Lá Sanzael me contou o que pretendia. Falou sobre os atentados que pretende fazer com os vírus, ele irá libera - los no aeroporto da cidade pela parte da tarde depois, mostrou uma pedra semelhante a essa. - disse Ester apontando com o indicador o desenho da Jóia Carcereiro. - Ele me disse que libertaria um anjo chamado Azaziel. Falou que precisava no meu corpo como hospedeiro para o espírito angélico. Quando perguntei o por quê ele me disse que eu era uma Súcubos e que aquela mulher ruiva era... era minha verdadeira mãe.

- Lilithi! Isso não faz sentido, há muitas outras, tanto súcubus quanto íncubus. - disse Miguel se recontando na poltrona e olhando para os seus amigos. - Ester, ele disse a você o que uma sùcubos?

- Que eu sou uma espécie de dêmon... demônio - respondeu ela com a voz embargada.

O silêncio tomou conta do ambiente. Refain se aproximou dela que agora estava de cabeça baixa chorosa.

- Acalme-se menina.

- Como posso me acalmar? Eu não entendo, a poucos dias atrás eu era somente uma virologista em meu monótono trabalho de pesquisa e de uma hora pra outra descubro que anjos, demônios existem e que eu sou um deles.

Miguel você falou que há outros. O anjo não me explicou bem o que é uma súcubos.

Miguel trocou olhares com Refain que entendeu a mensagem, era hora de por todas as cartas na mesa. Ele caminhou a uma estante percorreu algumas prateleiras até achar o livro que buscava. Sentando ao pés de Ester ele abriu o livro de capa marrom. O cheiro de mofo impregnou o ar, páginas amareladas e algimas vezes manchadas foram folheadas. Refain parou em jma página que trazia a figura de uma criatura com parte do corpo igual a de uma mulher desnuda, cabelos compridos, negros e seios a mostras. A outra metade era como de um bode sentada em uma rocha com um mar revolto ao findo. A baixo da ilustração podia ser lido: Súcubos demônio feminino que se alimenta da energia sexual.

- A mulher ruiva que você conheceu se chama Lilithi e não é um anjo, ela foi uma das primeiras imagens e semelhanças que Deus criou, era assim que chamavamos vocês humanos. Mas ela se uniu a Lúcifer em sua rebelião, ajudando a corromper os outros com dúvidas. Tal conhecimento trouxe ao espirito humano discórdias e pequenos conflitos. Pelo seu ato Deus a condenou a viver com os anjos caídos. Não demorou para que ela entendesse a sua natureza peculiar, nem anjo, nem demônio e tão pouco humana. Devido a isso ela quis se tornar a consorte de Satanás, porém Lúcifer a rejeitou. Foi quando soube da proliferação dos Nefilins e quis ter sua própria prole, acreditando que elas seriam tão fortes quanto eles. Quando a primeira Súcubos nasceu ela notou o seu erro, sua filha não era tão forte como os filhos dos anjos e envelhecia mais rápido que os humanos normais; a menina aos 20 anos já tinha uma aparência de 80 para se manter viva ela precisava consumir cada vez mais a energia vital. Na segunda tentativa, teve um menino, um Íncubus, e assim como sua irmã se alimentava da mesma energia, só que precisava do sangue de suas vítimas.

- Então eles eram um tipo de vampiros - perguntou Ester.

- Sim. Eles foram os primeiro, ainda hoje existem alguns deles soltos pelo mundo geralmente vivem em torno de 700 anos. - disse Refain pondo o livro no colo de Ester.

- Isso não explica o motivo de você, Ester, nunca ter tido as mesmas necessidades das outras e como conseguiu viver tanto tempo? - quis saber Miguel enquanto segurava a mão da jovem entre as suas. - e seja qual for a resposta não deixaremos você desprotegida, mas agora é importante nos concentrarmos em evitar que Sanzael libere a praga. Devemos ir ao aeroporto e montar vigília.

Olhando pela janela, Izacael começou a ver um grande movimento de carros pessoas. Os gritos ecoaram chamando a atenção de todos os outros na sala.

-Eu acho que é tarde demais. - disse Izacael apontando para um comboio. Um conjunto de cinco caminhões brancos com a logomarca do laboratório Sporus. Homens usando roupa de proteção biológica caminhavam em direção a várias casa.

A porta da loja de antiguidades ecoou as batidas desferidas por um desses homens.

Refain assumiu novamente sua forma de homem velho e frágil. Ao abrir a porta, o anjo se deparou com quatro homens vestidos com as mesmas roupas de proteção. Dois estavam segurando metralhadoras semi automáticas e os outros dois portavam maletas brancas.

- Senhor somos funcionários da Sporus. Houve uma contaminação e precisamos fazer testes no senhor e em todos na residência. Caso o resultado seja positivo teremos que leva-los até nossas instalações e coloca-los em quarentena.

Os quatro homens entraram mesmo sem esperar a resposta de Refain. Em pé a frente deles, dois homens e uma mulher.

- Ester! O que você faz aqui? - falou um dos homens da Sporus. Ela reconheceu a voz de imediato mesmo abafada pela máscara.

Sobre Anjos e DemôniosOnde histórias criam vida. Descubra agora