Ela sabia que era desastrada, então sempre tinha medo de alguém a denunciar por excesso de lerdeza nas reuniões do prédio, mas nenhum dos dois vizinhos - o de cima e a senhora da porta da frente - fizeram isso.
O de cima ela não conhecia, mas sempre o pedia desculpas por estar esbarrando, batendo ou quebrando as coisas - ou seja, fazendo barulho.
Desde que ele se mudou, ela não sabia seu nome, e ela sempre tentava saber, e ninguém comentou muito sobre ele. Senhora Elize, a vizinha da frente, disse a ela que havia um garoto novo, que parecia ter mais ou menos da idade dela. A mestiça perguntou o nome dele, mas a senhora não respondeu, apenas perguntou como fazia para que os cactos crescessem saudáveis.
Para a mestiça, era frustrante ter um vizinho novo e não saber seu nome, e já fazia quase um ano que ele morava ali. Ele tinha um teclado, embora no começo ela tinha achado que fosse um piano, mas, pela lógica, era impossível um desses passar pela porta do apartamento. Ela concluiu que ele deveria saber tocar piano, e que na sua antiga casa, ele, provavelmente, tinha um piano de cauda no quarto dele ou na sala.
Ele tocava em algumas noites, ela sempre ia até a sacada com uma xícara de café ou chocolate quente e tentava descobrir qual música era. Se adivinhava ou não, a melodia ficava na sua cabeça até ele tocar novamente, subistituindo a melodia. E quando sabia, ela cantava baixinho, o acompanhando, mas tentava fazer com que ele não se incomodasse com sua voz.
Se perguntava como o garoto organizava seu apartamento, sua vida e como era a sua aparência, já que nunca encontrou com ele - e se aconteceu, ela não prestou atenção. A dela era bagunçada, mas lhe fazia feliz e era aconchegante, sua vida era quase a mesma coisa.
A rotina era feita em sua faculdade de educação artística pela manhã e trabalho na floricultura pela tarde, a fazendo chegar em casa por volta das seis da tarde, e o seu vizinho pianista chegava cinco minutos depois.
Ela, talvez, nunca fosse descobrir quem era aquele garoto no andar de cima do seu, que tocava desde Beethoven até musicas da One Direction no teclado com som de piano. E ela sempre sabia cantar as músicas da boyband britânica.
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Havia chegado atrasada na sua casa, pois passou no mercado no caminho, para comprar coisas que queria e que eram necessárias. Comprou pacotes de macarrão, molhos, cookies de baunilha com gotas de chocolate, chips, legumes, verduras, alguma frutas, produtos de limpeza - pois o detergente estava quase acabando - e, principalmente, dois pacotes de café extra-forte.
O garoto provavelmente já estaria no andar de cima, então ela havia prometido que não faria muito barulho naquela noite, o que foi quebrado quando ela empurrou a porta com o quadril, mas havia sido com muita força, então a porta bateu fortemente, fazendo o barulho soar por seu apartamento e era bem possível que o prédio todo tivesse ouvido.
- Puts, me desculpe! - ela falou alto, olhando para o teto, como se pedisse diretamente para o morador de cima. Ela ouviu passos no apartamento de cima, e soube que ele havia entrado, e que antes estava na varanda. - Eu sou muito desastrada, me desculpe... Não queria te incomodar. - ela sussurrou e colocou as compras no balcão, colocou água na chaleira para ferver no fogão e começou a guardar as compras.
Preparou o café, colocando 4 colheres de pó-de-café no coador e 2 de açúcar no bulê e passou a água fervente, e o cheiro de café a invadiu, a fazendo lamber os lábios. Ela era viciada naquele líquido maravilhoso que era feito de forma tão simples. Quando o terminou de passar, trocou o líquido de lugar, o colocando na garrafa térmica branca, que tinha desenhos de flores.
Abriu o pacote de cookies que havia comprado, o colocando no devido pote e pegou dois. Prometeu a si mesma que iria fazer biscoitos quando chegasse da floricultura em outro dia e que não ficasse comprando eles prontos, sendo que ela sabia fazê-los. Pegou sua caneca favorita, a encheu de café, colocou um pouco de leite e foi até a sacada, onde seu livro e sua poltrona estavam esperando por ela.
Ao chegar no lugar, percebeu que a noite estava esfriando, então voltou a entrar e pegou seu cobertor, para que se aquecesse enquanto estivesse lendo e tomando seu café. No caminho de volta à sua poltrona, bateu seu dedo mindinho na quina do sofá, na sala, e afundou a cabeça no cobertor e deu um grito de dor.
"Vizinho me desculpe! Mas, isso doeu! E muito!", ela pensou, consigo mesma, e mancando e sentindo seu dedo mindinho latejar, foi até a sacada.
Se sentou, arrumando o cobertor em seu corpo. Tomou um longo gole do líquido quente da caneca e abriu o livro, continuando a ler de onde havia parado.
O estranho da noite foi não ter ouvido ele tocar, sendo que na noite anterior também não havia tocado, e ele nunca ficava duas noites seguidas sem tocar.
Havia um verso que estava em sua cabeça, nos últimos dois dias, no qual era a última música que ela lembrava que ele havia tocado. Era uma das músicas tocadas na série "Game Of Thrones", mas ela conhecia pois era uma de suas bandas favoritas que cantava. Ela cantarolou, em um tom que ela não sabia se ele iria ouvir ou não:
- Nightshade, won't you take me away?
And I can hold my breath for another day
But it was all, it was all, for the throne.Entrou, tomou um banho e escovou os dentes. Se sentou na sala, ligando a televisão para continuar a assistir a série que havia começado no dia anterior. Depois de duas horas assistindo, se aconchegou no sofá e pegou no sono.
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neighbors | [AU] adrinette
FanfictionOnde um fotógrafo mora no apartamento a cima do de uma garota super desastrada. Ou onde uma artista é moradora de um apartamento onde o vizinho de cima é pianista. Aviso: é uma alternative universe, então pode conter referências, mas não há muita c...