Capítulo 1

5.2K 334 26
                                    

Dias atuais

Bella

Levanto meu rosto para encarar o juiz a minha frente. Estou bem nervosa com o que pode vir a acontecer em minha vida nos próximos cinco minutos. Até o som do relógio parece estar mais alto, apenas para que o momento fique mais tenso e tão clichê quanto deveria. Na realidade, acho que qualquer som me faria tremer agora. Pisco rapidamente tentando me concentrar no rosto cansado e velho do juiz, quem em sã consciência marca uma audiência para um sábado às seis da manhã ? Apenas minha adorada e ridícula madrasta conseguiria isso. ⠀

-Eu exijo que ela me pague os quinhentos mil. -Verbena grunhe para o advogado. Coitado deve ser difícil trabalhar para o diabo.

-Eu não posso fazer nada, quem decide não sou eu.- O pobre homem responde pacientemente ajeitando os óculos grossos no rosto.

-Silêncio por favor. -O som alto de madeira batendo na mesa me faz pular. - Vamos para o veredito. A senhorita Ayala Isabella Martinez Montenegro, está sujeita a pena de três meses em regime aberto e ao pagamento de uma indenização de 200 Mil reais, podendo a mesma ser parcelada em até sete vezes.

-Droga. - Exclamo baixinho. Meu advogado toca meu braço pedindo calma e assinto. Estou perdida, não tenho nenhum dinheiro e vai ser difícil pagar essa quantia, mesmo que parcelada.

-Isso não é justo. Eu quero meu dinheiro em mãos agora. - Verbena vocifera irritada, seus olhos me condenam e me comem viva. ⠀

-A senhora tem dinheiro o suficiente para sobreviver até que multa seja paga, Senhora Dantas. - desdenha o juiz. -A senhora não precisa tanto desse dinheiro agora. Então peço que fique em silêncio e apenas aceite o veredito.

Dou um breve sorriso, ela acabou de levar um esporro e eu nunca imaginei que fosse ver isso. Ficamos ali até que o juiz explicasse minha pena e fossemos liberadas da sala, meus tênis escorregam levemente no piso frio do fórum e me seguro em Lázaro, meu advogado. Ele sorri me ajudando a andar, enquanto minha madrasta idiota desfila em seus saltos enormes. Me sinto péssima ao lado dela. No fim das contas, não foi tão ruim ser processada por calúnia.

[...]

Eu não serei presa e tenho dois anos para levantar o dinheiro para pagar a quantia a ser paga, vai ser complicado juntar 200 mil já que não tenho nem um terço desse dinheiro, mas vou arrumar. Pego um ônibus ainda na entrada do lugar e sou obrigada a enfrentar a lotação até o bairro onde moro. Ainda estou hospedada na casa de verbena, casa essa que pertencia a meu pai e que ela roubou após assassinar ele. E por isso eu estou aqui, vivendo às custas de dois traidores sem pudor.

Ao entrar na casa, o cheiro de bolo de maçã e canela me envolve. Maria esta animada hoje, talvez ela tenha acertado que eu não seria presa. Tenho que prestar mais atenção no que minha velha amiga tem a falar, se a ouvisse eu não teria sido processada. Caminho rapidamente até a cozinha e me surpreendo com a quantia de quitutes preparados. Angelina e Laraliz correm até mim e abraçam minhas pernas. Angelina é minha meia irmã, filha de verbena com papai, já Laraliz, é filha de Verbena com meu tio, Rafael. O segundo traidor nessa história.

-Ayala, a Maria esta fazendo as coisas para nossa festa.- Angel bate palmas e me puxa até a beira da mesa.

-Festa ?- questiono confusa. ⠀

-Sim, a mamãe vai dar uma festa hoje. - Liz pula e abre os pequenos braços para que eu a pegue no colo.

-Oh, entendi - beijo sua bochechinha e caminho até Maria.

-Como está minha linda ?
⠀ ⠀
-Bem Mariazinha, apesar de estar em apuros - suspiro roubando um pedaço de doce na bancada.
⠀⠀
-Imagino, porque não vai se banhar ? Um bom banho sempre ajuda. - Ela bate em minha mão, enquanto tento roubar outro pedaço, e as meninas riem. ⠀

-Já se banharam ? - pergunto para ambas, que negam. -Então vamos lá, suas porquinhas.

[...]

Elas gritam e correm para seus quartos, sorrio e me viro indo até meu aposento. O pequeno quartinho de empregada, que minha adorável madrasta me disponibilizou após a morte de papai, está cheirando a mofo e biscoito velho. Na maior parte do tempo ele está cheirando isso, na outra parte é apenas o cheiro ruim que vem do canil. Ando até a pequena cômoda para pegar minhas roupas e depois vou ao banheiro dos empregados e tomar um banho. Saio rapidamente a tempo de ver Verbena e Rafael aos beijos no pequeno corredor que leva à meu quarto, solto um som de repulsa e ambos se separam.
⠀⠀
-Oh, aí está você sua pestinha. - Verbena fala enquanto tenta limpar o batom dos lábios, ou quem sabe não é o veneno ? ⠀

-Oh, não me diga que não sabia que eu durmo aqui. - exclamo ironicamente.

-Na verdade, pensei que tivesse ido direto ao banco, não que alguém fosse maluco em te fazer um empréstimo dos 200 mil que me deve, mas quem sabe ? Situações desesperadoras, pedem medidas desesperadoras. - Ela abre um sorriso tão falso quanto seus peitos enquanto meu tio ri atrás. ⠀

-Não preciso me desesperar, tenho quase dois anos pela frente. Não sou idiota, posso me virar. - Rebato.

-Olha menina, não estou com muita paciência e vou ser direta. - Ela olha para as unhas e depois toca um de meus porta retratos com um olhar de desdém - Hoje teremos uma festa, não quero você aqui. Da última vez, sua cara de capivara infartada saiu em todos os jornais. ⠀

-Não que eu quisesse, mas acho que poupei algumas pessoas de ver tanto lixo dentro de um saco de peles ao ver sua foto. - Abafo um riso e ela arqueja.

-Sua pequena insolente. - Ela Bufa, suas mãos fechadas em punho enquanto eu apenas rio. - Eu quero você fora desta casa. Eu já te aguentei por tempo suficiente e não preciso de uma garota tão sem educação assim na vida das minhas filhas. Espero que tenha sorte na vida, para conseguir meu dinheiro e agora uma casa. ⠀

-Você não pode me expulsar, isso aqui é meu.

-Não é o que o testamento diz.- Ela sorri e sai sem ao menos me deixar responder.

Bela e as 7 meninasOnde histórias criam vida. Descubra agora