Capítulo 4

3.6K 292 20
                                    

Bella

Me lembro que antes de Verbena chegar. Papai amava se sentar comigo e falar sobre como ele e a mamãe se conheceram. Meus pais, grandes apaixonados desde sempre, se casaram com apenas dezoito anos, e minha mãe engravidou aos dezenove, ela até tentou antes, mas não conseguia e quando eu cheguei na vida deles, era como se um milagre tivesse se concretizado. A gestação da minha mãe não foi fácil, ela sempre se sentiu mal, desmaios, fraqueza, vômito e moleza. Eram sintomas demais para ser apenas da gravidez. Foi quando ela descobriu o câncer. Durante toda a gestação, houveram boatos de que ela estava mentindo e muitas pessoas maldosas fizeram especulações do porque, ela não saia de casa. Minha mãe faleceu quando eu tinha 5 anos de idade. Como o tratamento se iniciou tardiamente, o câncer se espalhou e mesmo tendo sobrevivido tanto tempo, mamãe não estava em seu melhor desde que me lembro por gente. ⠀

Ainda me lembro da sensação de dor no peito enquanto minha tia falava disso. Naquela noite, enquanto todos falavam coisas legais sobre meu pai, eu chorava em desespero, eu estava sozinha no mundo. E tudo por minha culpa; talvez, se eu não tivesse nascido, minha mãe estivesse viva, curada do câncer e meu pai não teria conhecido Verbena. Tudo estaria numa boa. ⠀

O dia clareia rapidamente, a luz do sol contra os prédios é incrível. Fico alguns minutos a mais olhando para o céu, enquanto os raios de luz rasgam a massa cinza de poluição e lá em baixo seres humanos alheios ao espetáculo do amanhecer, se espremem contra o trânsito caótico em pleno domingo. Me reviro na cama e sem sono me levanto para tomar um banho, meu pai dizia que a água lava a alma e clareia a mente. ⠀

-Ok, eu tenho exatamente dois anos para conseguir o dinheiro da Verbena. Preciso de um outro emprego e quem sabe assim eu consiga o empréstimo. -falo sozinha. ⠀ ⠀
Quando saio do banheiro, o sono ainda é inexistente. Por isso eu vou atrás de alguma comida ou café, Alessandro está deitado no sofá todo jogado com as pernas meio dobradas e os braços sobre a cabeça, usando nada mais do que a sua cueca em um tom de azul escuro.

-Se olhar mais um pouco, vou ser obrigado a te agarrar. - Alessandro, com sua voz ainda sonolenta, resmunga. ⠀
⠀ ⠀
-Achei que estivesse dormindo.- Digo abaixando a cabeça, envergonhada por ter sido pega no flagra. ⠀

-Eu não consigo dormir depois das seis, acho que meu organismo viciou. - ele finalmente abre os olhos e eu preciso de um segundo para me recuperar, ele é tão lindo.

-Entendo. Eu me acostumei a levantar cedo também. - Sorrio e me sento no outro sofá. ⠀

-Nossos trabalhos acabam com nossas vidas. - Ele sorri antes de se esticar -Esse sofá é horrível. ⠀

-Pode dormir na cama, se quiser. -Ofereço me sentindo mal, ele é enorme e precisa de espaço. ⠀

-Apenas se você for comigo. - Ele pisca e sou obrigada a rir.

-Idiota. ⠀

-Mais é sério. Eu meio que sinto falta de você. Quero dizer, de nós dois, juntos. - Ele fica vermelho e não consigo não achar isso fofo. ⠀

De repente eu me sinto hipnotizada por seus lábios, é como um imã que puxa uma agulha com rapidez e força. Quando me dou conta, estou sentando sobre seu colo no sofá. Suas mãos apertam minha cintura enquanto nos olhamos, é tão familiar estar assim com ele, que não me importo. Sua mão sobe pela lateral do meu corpo e quando segura em minha nuca, ele puxa minha cabeça para baixo e me beija, um beijo lento e gostoso.

-Isso é estranho - ele murmura com os lábios ainda próximo aos meus. ⠀

-Por que estranho ? - franzo o cenho e me afasto alguns milímetros do seu rosto.

-Sua boca tem gosto de uva. A minha, está com gosto de baba velha. - ele ri e eu balanço a cabeça, enquanto encaixo meu rosto na curva do seu pescoço - Humm, Bella ? - Ele chama e levanto a cabeça novamente - Acho melhor, você sair do meu colo. ⠀

-Porque ? - indago confusa. ⠀

-Eu, eu estou em uma situação... meio comprometedora. ⠀

-Você está ? - não consigo terminar a frase, e ele assente rapidamente - Ah, e-eu vou fazer o café - digo me levantando. ⠀

-Eu vou para o banheiro.- Alessandro se levanta correndo e some.

O dia passou como se fosse um foguete, eu tentei a todo custo encontrar um emprego nos jornais, riscando cada proposta. Cheguei a ligar em alguns lugares até mesmo nas lojas que estavam pedindo com urgência. Mas ter meu rosto estampado na capa de jornais e revistas, dificultou minha vida. Aproveitei para ir a um café próximo do ape para tirar xerox dos meus currículos. Voltando para casa, comecei a cogitar a ideia de trabalhar com a Selena. Porém eu sou péssima na maior parte das coisas que requer criatividade. Odeio dançar, sou horrível em artes e não me deixe tentar maquiar alguém ou a mim mesma. Sou péssima nisso, mais se tem algo que eu amo, essa coisa é cantar.

Minha mãe passou o dom dela para mim e agradeço sempre a dona Francesca por isso. Foi assim que começei a arranjar algum dinheiro cantando no bar do seu Renato. O que ganho da para ajudar nas despesas da casa e claro, pagar minha faculdade. Por isso que, a noite, quando fui trabalhar eu aproveitei e me ofereci para trabalhar como garçonete enquanto Lúcia, uma das meninas que trabalha la estiver de licença maternidade, bingo, aumentei meu dinheiro para 1500 e com as gorjetas vou conseguir uma grana boa. Trabalharei três noites na semana à partir das sete. Chego em casa mais aliviada e com uma esperança crescendo no peito.

Bela e as 7 meninasOnde histórias criam vida. Descubra agora