Passeio à Enfermaria

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AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
VOLTEI <3

Playlist Capítulo 10:

* Heroes (We could be) - Alesso (feat. ToveLo)
* Numb - Sia
* Hurt - Johnny Cash
* Waterloo - ABBA
* Paradise - Coldplay

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A sala ficou em silêncio. Era possível ouvir as respirações em alto e bom som, de uma forma nítida. A treinadora River começou a andar entre a multidão, com suas mãos para trás, fazendo um ar de “ ei, eu sou muito durona “. Todos abriam o caminho pra ela passar, e cada vez que ela desacelerava o passo e olhava fixamente para um jovem diferente, era possível ouvir um suspiro de alívio (ou um de pânico). Seus passos largos ecoavam pelo recinto, e a cada pisão eu sentia ainda mais medo. Ela estava andando em minha direção. Parecia que eu estava conseguindo ouvir as batidas do meu coração como um tambor, entrando dentro dos meus tímpanos. Ela parou em minha frente, olhou em meus olhos e abriu a boca, pronta pra falar algo. Então alguém no inicio da fila que se formara espirrou, fazendo ela se virar num reflexo rápido.
- Você – ela disse apontando para um garoto de uns dezesseis anos que estava lá atrás.
Salva pelo gongo, pensei. Todos se viraram olhando fixamente para o garoto. Magro, não muito alto e com a cara cheia de espinhas. Ele não tinha nenhuma chance. – O que tá esperando? Suba lá agora e...
- Eu vou – uma voz grave e trepidante se manifestou pouco atrás de mim, tirando a concentração do garoto e fazendo não só a mim como todos os demais (inclusive a treinadora Rivers) olhar para trás. Era o cachinhos dourados. Tinha que ser, não é?
- Anjo – ela disse olhando pra ele.
- O quê? – ele perguntou.
- Anjo. Vou te chamar assim a partir de agora.
Todos deram uma risadinha. Ele simplesmente deu de ombros.
- Vem. Pode subir.
Ele passou pela multidão, com sua asa esbarrando em pelo menos três pessoas, e então, subiu no octógono. Todo mundo se aglomerou em volta do octógono pra ver, e pela primeira vez, eu me peguei pensando nele. Não com pena dele (já que ele com toda certeza vai apanhar), mas com admiração por ele ter se interessado em ajudar um menino que ele provavelmente nem conhecesse e eu até gosto de coisas assim.
- Subir barras de proteção – Rivers disse para seu assistente, fazendo as paredes do octógono se transformarem em barras de ferro que subiram e davam até o teto – descer descomunal nível... – ela pensou um pouco – dois – então ela desceu do octógono e ficou olhando –, vai ser interessante - ela deu um meio sorriso.
Então um descomunal caiu do teto. Ele era não muito grande. Devia ter um metro e meio de altura, mas ainda sim era assustador. Seus braços eram desproporcionais com o tamanho de seu corpo. Os dois eram grandes e grossos, e batiam nas coxas dele. Seu rosto era completamente desfigurado, mas com alguns traços humanos, como se há muito tivesse existido vida ali. Suas coxas não eram muito grossas, mas também não muito finas. Suas pernas eram tão grandes que pareciam o tronco de uma árvore, e o fato que realmente causava medo era que ele não possuía um tronco grosso. Era simplesmente isso, braços grossos, coxa fina e perna grossa, com um rosto semelhante ao humano, fazendo jus ao tamanho da cabeça. Ao menos isso dava esperança pro coitado que fosse lutar com ele, eu acho.
- Prepare – se – anunciou a treinadora Rivers – e não se preocupe, seu assistente será ajustado ao programa. Ou seja, quando você chegar ao seu limite, o descomunal vai parar. Só não se preocupe e tente ficar calmo. – ele fez que sim com a cabeça, e então ela apertou um botão no assistente dela.
O descomunal que estava do lado oposto do dele foi correndo pra cima dele, e quando estava em uma boa distância, ele girou um de seus braços, tentando o acertar, mas ele conseguiu se desvencilhar, fazendo o braço grosso do descomunal ir direto ao chão. Ao tocar o chão, seu braço se dividiu ao meio, virando dois, que se esgueirou pelo chão, indo como uma cobra e agarrando o pé do anjo. O descomunal o segurou pelo pé e o levantou, arremessando ele contra o chão, mas sem o soltar, fazendo isso continuamente, várias e várias vezes até se cansar e o arremessar contra a grade de proteção, que tirou um suspiro de algumas garotas que assistiam, fazendo – as colocar as mãos na boca, perplexas ao conseguir ouvir o barulho que a asa dele fez. Já eu coloquei a mão na testa e torci pra que acabasse logo. Convenhamos que eu não morro de amor por ele, mas também não quero que ele vire milhares de pedacinhos invisíveis impossíveis de catar e colar. Quando o monstro veio novamente na direção dele, ele se levantou rápido, e saltou em cima do descomunal, o abraçando no ar e caindo junto a ele no chão. Assim que ele conseguiu sair de cima do descomunal, se levantou e deu uma saraivada de pontapés nele e só parou quando abriu um buraco no meio do peito do descomunal, me fazendo até sentir pena dele. O rosto do anjo estava transtornado. Ele estava cansado e claramente ferido. Sua asa parecia estar quebrada, já que estava dobrada. E por onde ele passou, fez uma trilha com suas penas. Cansado e sem forças, ele simplesmente se levantou e caminhou em direção ao portão por onde ele tinha entrado. A treinadora apertou em algo no bracelete dela, fazendo o descomunal ir buraco abaixo assim como o anterior. Ela abriu o portão e esperou até que ele chegasse até ela, e então o ajudou a sair. Suas asas sangravam, e sua roupa estava rasgada na parte de trás, nas costas dele, fazendo um bolo de sangue seco enquanto escorria ainda mais sangue de suas costas.
- Quem é a dupla dele? – a general gritou. Eu levantei a mão, enquanto pedia licença pra passar pelo meio do enxame. – Leve ele pra enfermaria. Você sabe onde fica? – suspirei e fiz que não com a cabeça. – É só dizer pro seu assistente onde quer ir e ele te leva, ok? Agora o ajude a ficar de pé. – ela me entregou ele, que passou as mãos sobre meus ombros. Ele mancava, e com dificuldade, caminhava ao meu lado vagarosamente, e ao atravessar a porta, sentia os olhares curiosos finalmente pararem de me vigiar. Estendi meu braço e aproximei o bracelete rente ao meu queixo, e então as luzes se acenderam indicando o caminho da enfermaria.
- Que estranho.
- O que? – ele perguntou.
- Nada. Eu só pensei em voz alta. – respondi.
- Tudo bem. Olha, você não deve estar gostando nem um pouco disso, né? Desculpa, eu só...
Ele era bem mais alto que eu. Era até estranho de o ajudar a andar.
- Relaxa. Tá tudo bem.
- Sério? – ele parou de andar tentando olhar pra mim. Seus olhos tremeluziam contra a luz.
- Sim. Foi bem legal o que você fez pelo garoto. Só tenta por favor não morrer, tá bom? Se você me deixar sem dupla eu te mato.
- Como é que você vai me matar se eu estiver morto? – ele retrucou.
Passei a mão por trás dele e puxei uma pena.
- Au! – ele reclamou e contraiu uma de suas asas, fazendo – o emitir outro “ au “ de dor. – Tá legal, eu já entendi!
Andamos mais um pouco. Estávamos andando devagar, já que nenhum dos dois conseguia andar rápido devido á uma asa (obviamente) quebrada (vamos lá, não é preciso anos de experiencia em medicina ou veterinária pra saber que isso está realmente quebrado) e um peso em cima de mim.
- Porquê você fez aquilo?
- Aquilo o que? – ele perguntou.
- Aquilo de se oferecer no lugar daquele garoto.
- É que eu sabia que se eu não fizesse, você ia fazer.
Aquelas palavras me cortaram como uma faca. Ele tinha razão.
- E – ele continuou -, pelo breve histórico das suas... – ele pensou num nome – vamos chamar de crises de herói. Continuando, pelo breve histórico das suas crises de herói no refeitório, eu tenho certeza de que foi a escolha certa. Não que você não é capaz de vencer aquela coisa, mas que eu não queria que algo acontecesse com você. Afinal, se você me deixar sem dupla eu te mato.
Dei uma risadinha. Até que ele podia ser divertido.
- Aí, você não acha estranho que tudo isso esteja acontecendo? – questionei, só pra quebrar o gelo.
- Defina a parte do “ tudo isso “.
- Ah, essa coisa toda de jogo. Tá tudo rápido demais. Ontem estávamos na merda, fazendo tudo que essa gente nos mandava fazer e desejávamos sair de onde quer que estivéssemos pra ter ao menos um pingo de liberdade, e agora estamos aqui, praticamente presos num lugar no qual nós nem sequer sabemos onde é cheio dessa gente, e a vontade de voltar pra toda a vida que tínhamos antes é grande.
- Aquilo não era vida, era?
Parei um pouco e pensei. Era, era a minha vida. Eu não escolhi a viver, mas era a minha vida. E não importa o que vão dizer pra mim e nem o que vão fazer comigo, eu sempre vou odiar esses idiotas, soberano por soberano maldito.
- Não. Não era. – enquanto andávamos pelo corredor eu pensava no que eu estaria fazendo agora.
- Sabe, eu acho estranho apenas o fato de que ninguém questiona nada. Nos trouxeram aqui pro meio do nada – ele parou e apoiou com uma das mãos na parede, me dando um pouco de descanso enquanto deixava suas asas para trás, e com a outra mão gesticulava -, um garoto sofreu um acidente hoje, eu lutei com uma... – ele parou e pensou na palavra adequada – coisa agora a pouco e ninguém questionou nada. Ninguém fez nenhuma pergunta, e sabe porque? – ele franziu a testa, o que fez com que seus olhos parecessem duas bolas gigantes - Porquê ainda temos medo. Medo do que pode acontecer. Nós estamos aqui com soberanos, sendo tratados como soberanos, mas ninguém sabe exatamente onde se encaixa.
- Tem razão. Não tinha parado para pensar nisso.
- Você até que foi bem corajosa dizendo aquelas coisas mais cedo. De verdade.
- Obrigada.
Disse a ele que já podíamos continuar, então ele se apoiou em mim de novo e fomos andando.
- A parte mais assustadora disso é que estamos num jogo para disputar o lugar do vice – regente, a pessoa que nós mais temíamos. Chega a ser bizarro.
- Sim. Tudo isso é bizarro. Estamos com um monte de gente que nunca vimos, alguns até conhecidos, mas um deles vai se tornar o novo governante da nossa província. Soa bem estranho. – eu nunca tive muitos amigos, então não devia conhecer muitas pessoas. Mas de fato, estarmos presos nesse lugar tornava qualquer coisa estranha.
Chegamos na porta da enfermaria. O deixei escorado na parede e bati na porta. Uma mulher, baixa e gorda abriu.
- Olá eu...
- Fui avisada de que vocês viriam. O primeiro a se machucar. – ela disse saindo porta a fora para olhar pro anjo, me fazendo andar para trás - Parabéns, otário – ela me cortou.
Olhei para o anjo escorado na parede com um olhar de “ sinto muito por essa vaca “. Então ela foi dentro da sala e pegou uma maca rolante, e levou até ele.
- Deite aqui – ela disse com uma voz doce (pra não dizer o contrário e pensar em alguma forma de matar ela, afinal, ela ainda sim é uma soberana).
Ele se deitou. Me virei, voltando para a sala de treinamento.
- Obrigado.
Parei e virei.
- Ah, de nada.
Após andar no caminho de volta, quando finalmente já estava em frente a porta da sala de treinamento, decidi mandar uma mensagem pra ele. Eu tenho certeza que vou me arrepender depois, mas vamos lá. Como se usa essa coisa? – pensei. Deslizei meu dedo indicador por sobre a tela do bracelete e vi um ícone escrito “ mensagens “. Cliquei nele e meu assistente disse:
- Olá, Jade! Para enviar mensagens, você precisa de ter seu assistente emparelhado com o de alguém. Se já tiver, basta pensar na pessoa e no que dizer. Quando terminar, pense em enviar, como se estivesse enviando uma carta, mas pelo nosso sistema. É só pensar e fazer. A pessoa vai ouvir sua mensagem, e se responder, você vai poder ouvir também. Basta pensar no comando, e eu o farei. Simples e rápido. – meu assistente disse ao meu ouvido.
Parei e pensei um pouco no que escrever. Não podia demorar, eu tinha que entrar antes que reparassem que eu estava demorando tempo demais.
- Enviar mensagem para o anjo – pensei -. Vamos lá, você consegue. – Oi. Jade. – enviar. Não! Droga! Idiota.
- Mensagem enviada – o assistente avisou.
Que droga. Não esperava que o arrependimento viria tão cedo.
“ Meu nome é Jade. Melhoras e obrigado. “, enviei outra.
Eu entrei pela porta, e então meu bracelete vibrou.
- Ethan mandou uma mensagem para você. Deseja ouvir?
- Sim.
- Ethan. O prazer é todo seu! E a propósito, obrigado! – o assistente reproduziu com a voz dele. Era idêntica, parecia que ele estava falando comigo aqui, na minha frente.
Que excêntrico.
- Você tá vivo? Ou essa brutamontes matou você?
Dentro de poucos segundos ele respondeu.
- Eu não sei. Será que tô vivo?
“ Engraçadinho “, pensei e... espero não ter mandado outra mensagem.
É, acho que acabo de fazer um novo amigo.

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