- Não pode ficar calada o tempo inteiro. Anda, qual é a sua história?
Qual é a minha história? Isso é algum tipo de pergunta típica que irão me fazer porque não sabem quem eu sou e não irão me explicar nada porquê não querem me envolver no que já estou envolvida?
Bom, minha história...
- JOALIN, O CAFÉ ESTÁ PRONTO, DESCE OU IRÁ SE ATRASAR... - Ignorei os gritos da minha mãe por um segundo, sempre faço isso, acho que por pura implicância mas aí não lembro o porquê de eu estar querendo implicar com ela, não sou uma criança, as vezes mal sei que idade eu tenho.
Desci a escada em rapidez e me sentei na mesa para o café da manhã, é apenas nós três, eu, mamãe e meu padrasto, é um bom pai eu posso dizer, não sou dele, nunca serei e ainda assim ele está aqui. Me estiquei para pegar um bacon e mordi indo logo em direção a torrada, estou quieta, não sei porquê estou quieta, mas estou quieta quase todas as manhãs e então partes dos meus dias de tornam neutras quando minhas tardes se tornam agitadas. Ainda não sei o que é isso, talvez eu seja sonâmbula, talvez eu me perca por alguns segundos nas manhãs como qualquer normal adolescente faz.
Não falei com a minha mãe durante o café da manhã, meu pai me deu um beijo na bochecha e foi trabalhar, ela é mais dura comigo, não sei o porquê, acho que não sei o porquê de tantas coisas que me cansei de perguntar. Me levantei da cadeira com delicadeza, não podemos arrastar a cadeira no chão, mamãe odeia, a coloquei de volta no lugar com a mesma delicadeza. Ela fingia que eu não estava ali e as vezes parecia isso, é a coisa mais certa que entra em minha mente, eu não estou ali, com isso, não existo. Mas por quê eu respiro todas as manhãs? O que a fez esquecer de mim todos os dias?
Peguei minha mochila que estava no chão da sala e fui em direção a garagem, essa é a única coisa boa.
Temos dinheiro.
Abri a porta do meu carro, joguei a mochila no banco de passageiro e apertei o botão para a porta da garagem abrir. A escola não é tão longe, as vezes me esqueço e tenho que usar o GPS, também esqueço que não me sinto bem na escola, parece um dia totalmente estranho mas então me consolo dizendo que sou uma adolescente, é isso que nós adolescentes achamos da escola.
- Olha quem realmente resolveu dar as caras... - Bati a porta da minha ferrari e ri ao dar de cara com meus três amigos nessa escola. - Bom dia, bela adormecida.
- Bom dia, Krys. - Fizemos nosso aperto de mão e eu cumprimentei Diarra e Shivani com dois abração fracos. - Estão esperando por mim faz tempo?
- Não, ele só está de drama. - Eu ri com a resposta da Diarra.
Coloquei umas mechas do meu cabelo pra trás e tranquei meu carro com o sensor da chave enquanto saíamos do estacionamento e íamos pra aula. Mais uma das coisas que eu tenho dificuldade em lembrar, eu nunca sei quais aulas são, mas então tento me confortar, sou adolescente, adolescentes não deveriam ligar tanto para a escola.
- Vejo vocês depois... - Eles assentiram e foram para a sua aula, eu sou a única que nunca tem aula com nenhum deles. Já tive com a Diarra, mas isso foi apenas no primeiro ano e depois parece que tudo apagou pra mim.
Pedi licença para a professora, já que obviamente estou atrasada, fui até o fundo da sala e coloquei minha mochila no chão sem fazer o mínimo barulho. Conforme a professora ia explicando palavra por palavra, eu me mantinha atenta em meu caderno, franzia o cenho de três em três segundo conforme passar as folhas, eu não me lembro de um pedaço disso. É como se eu nunca sequer estivesse em uma aula, como se alguém tivesse escrito pra mim.
- Srta. Loukamaa, está tudo bem? - Fechei meu caderno às pressas e levantei um olhar assustado pra turma. Minha franja estava sobre meus olhos, minhas mãos suavam sobre a capa do caderno e minha garganta já doía de tanto engolir seco. - Parece pálida, devo te mandar para a secretaria?
VOCÊ ESTÁ LENDO
multiverse; don't let me close my eyes
FantasyEu costumava fechar os olhos, meus pais me diziam que estavam tudo bem, eu não sonhava, nunca sonhei, era como se todas as minhas memórias estivessem apagadas e então eu era quem eles me criavam. Mas então eu a conheci, e consequentemente, descobri...