oi
Pessoas falam e muito. Era fácil pra minha mãe me achar, seria fácil para qualquer um me achar. Um grupo de doze crianças por aí, espera, quatorze, Any e Noah apareceram do nada no acampamento, tive que me impedir de querer socar sua cara, me surpreendi com isso, nunca iria machucar ninguém, até mesmo culpei Sabina, pedi para que ela parasse com isso, mas então ela me disse que não era ela. Então era eu. Talvez eu esteja ficando maluca, talvez eu finalmente tenha aceitado que sou insana, que não tenho história, que não tenho identidade, que não sou ninguém.
Com Sabina do nosso lado, eu tive a chance de fazer muitas coisas que não fiz por quase duas semanas.
Passar um tempo sozinha.
Olhei de relance para a câmera na loja de conveniência e continuei de cabeça abaixada pegando biscoitos, bebidas e outras comidas para que a gente possa comer. Fui em direção ao caixa e comecei a pegar meu dinheiro na carteira velha que havíamos achado quando escutei meu nome na TV.
- Essas crianças... - Abaixei minha cabeça ao escutar o vendedor fazer um barulho de reprovação com a boca e continuar colocando minhas coisas num saco. - Vinte e cinco.
O paguei o preço pedido e ele franziu o cenho ao olhar meu rosto.
Eu paralisei.
- Você...
Não o dei chance de terminar de falar e coloquei minha mão em sua nuca o puxando pra baixo fazendo com que sua cabeça bata com força no balcão e ele desmaie. Senti meu peito começar a acelerar e olhei para a câmera de novo.
- Sabina, destrua. - Ela não está aqui, mas sei que pode me escutar, e no mesmo momento a câmera explodiu.
Peguei minhas coisas no balcão com calma e saí da loja indo até o Jeep que estava estacionado. Abri a porta do motorista, joguei as sacolas no banco de trás e dei partida no carro.
- Alguém está agindo como uma foragida. - Olhei para Sabina ao meu lado, ela possuía o braço apoiado na janela e me fitava com um sorriso. Nos aproximamos bem nesses dois dias. - Mas tome cuidado.
- Eu sei.
- Eu estou falando sério, Joalin. - Seu tom de voz endureceu.
- Eu também.
Ela não disse mais nada, e eu não seria a pessoa a continuar esse assunto ridículo. Se tem uma pessoa que não me deve me dar um sermão sobre tomar cuidado seria ela.
- Posso te perguntar uma coisa? - Assenti mantendo minha atenção na rua. - Você realmente me perdoou?
Minhas mãos afrouxaram no volante e eu franzi o cenho tentando saber o real significado de sua pergunta. Por quê uma pessoa que tentou me matar diversas vezes estaria disposto em saber se eu realmente a perdoei ou não?
Eu não a respondi. E ela também não perguntou mais.
Mas eu não sei, cada vez que eu a olho eu consigo a ver, e isso é estranho, totalmente estranho. Sabina possui sua pureza intocável, cada muro que cresce envolta dela, que fortalece seu poder a deixa mais fraca como pessoa e ela sente pena de si mesma. Talvez seja importante para que ela tenha o meu perdão. Mas eu a perdoei? O quê é perdoar? O que eu sequer sinto?
Eu estou com raiva, mas com raiva de que? Há duas semanas atrás eu estava apavorada, mas agora não sinto medo, eu não durmo, antes eu dormia e sabia disso, hoje não sinto sono, não consigo comer, sei o quanto emagreci. Mas perdoar? O que eu deveria perdoar, exatamente?
- Você estava apenas tentando se proteger.
- Você também.
A fitei completamente. Ela me deu um sorriso triste.
VOCÊ ESTÁ LENDO
multiverse; don't let me close my eyes
FantasyEu costumava fechar os olhos, meus pais me diziam que estavam tudo bem, eu não sonhava, nunca sonhei, era como se todas as minhas memórias estivessem apagadas e então eu era quem eles me criavam. Mas então eu a conheci, e consequentemente, descobri...