Senti duas mãos serem pressionadas em meu peitoral e logo a frieza da água me atingia com força, continuei de olhos fechados, era água com sal, eu não sei o que querem fazer comigo. Comecei a sentir o desespero de não respirar mas ainda assim continuei quieta sentindo as três mãos em meu peito, até não sentir mais nada.
Até eu perceber que não era três mãos que estavam em meu peitoral, era só uma, as outras duas eram sombras. Então eu abri meus olhos e comecei a me debater vendo os olhos totalmente pretos de Sina enquanto tinha uma fumaça negra a envolvendo. É isso, é assim que irei morrer.
Dei mais tapas até que se tornaram leves, leves como uma flor e eu senti meu corpo acalmar, meus pulmões estão mais calmos agora. Fechei meus olhos.
Em ato de rapidez meu corpo foi tirado da água e eu comecei a tossir tudo que estava dentro de mim. As fumaças da Sina eram a maioria.
Senti alguém acariciar minhas costas.
- O que você está fazendo? - Escutei a voz desesperada de Sofya. Ela me tirou da banheira e me colocou sentada no chão, Sina ainda me fitava insaciável. - Concordamos que não iríamos fazer nada, Sina.
Seu olhar ainda permaneceu em mim e eu desviei o olhar começando a tremer, de dor, de frio e de medo.
- Sabina já deu o recado, Sina.
Ela apenas cresceu um sorriso ladino e saiu do banheiro me deixando sozinha com Sofya.
- Eu vou buscar a Sabina, ok? - Se preparou para levantar mas eu apenas segurei sua mão. - O quê?
- Não conte a ninguém, por favor. - Ela me fitou assustada. - Por favor.
Ela não contou, como eu esperava. Sofya é leal. Já eu? Eu sou um perigo para todos dentro dessa casa, desde semana passada, ninguém mais fala comigo direito, nem mesmo meus melhores amigos. A única que não tem medo de ficar sozinha comigo é Sabina, mas eu a ignoro porquê eu sei o que vai acontecer se ela ficar ao meu lado.
Pessoas irão morrer por causa de mim, eu sou um deles afinal.
Coloquei minha roupa com calma, ninguém irá entrar aqui, a porta está trancada, ela pode abrir mas irá me respeitar, é tudo que anda fazendo nesses dias. Sabina me respeita enquanto eu fujo de mim mesma. Me sentei na cama e me observei, observei minhas mãos, meu corpo através do espelho, minhas franjas cobrem tudo, meu cabelo já está imenso e ressecado, meu corpo é um palito.
Acho que estou cansada.
Do que isso vale? Do que vale ficar aqui, tentando lutar e proteger a todos quando eu sou um deles, eles não irão desistir de mim. Eu sequer sem quem é meu pai, onde minha mãe está, o que irá fazer, o que eu posso fazer.
Com esse pensamento eu olhei para minhas mãos, uma brilhou em azul e a outra em puro fogo. Eu sou uma assassina então. Essas mãos, o que essas mãos fizeram?
Fechei elas em punho e tudo se apagou, acho que até mesmo eu. Me levantei e caminhei até o espelho, me fitei com calma, é desprezível, ridícula e vazia como sempre fui, sem sonhos, memórias ou vida.
Dei um soco com toda a minha força no espelho e ele caiu quebrando na minha frente. Minha mão não doeu, mas sangra. Fiquei observando o sangue ser absorvido de volta para o meu corpo e os arranhões se fecharem.
Eu posso sobreviver a qualquer coisa, se me querem, irão embora depois. Sabina não pode se curar, Sabina quase morreu, eu quase matei Krystian, Shivani e Diarra estão aterrorizadas, Lamar se mantém fechado, sua mente o controla agora, Any está fazendo de tudo para achar um jeito de fechar um portal sem que a gente precise morrer.
Até quando eu vou machucar a todos?
Quando desci para o jantar, o que eu não faço direito a dias, todos já estavam posicionados. Eu me sentei e fingi que estava jantando em silêncio, assim como todos.
- Desculpa, Joalin, eu não posso. - Fitei Sofya com medo. - Sina tentou matar a Joalin hoje.
Escutei barulho de talheres sendo largados e vi Sabina me fitar com raiva, acho que é porquê eu não contei.
- Eu não irei pedir desculpas.
- Por quê você tem que ser desse jeito, Sina? - Escutei a voz de Lamar mas Sabina ainda me fitava, então eu apenas me levantei da mesa e fui em direção ao meu quarto. - VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA, ELA ESTÁ CORRENDO IMENSO PERIGO E VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO.
Me sentei no primeiro degrau da escada e me encolho ali escutando as asneiras sobre mim.
- E DEVERÍAMOS MORRER POR ELA? VOCÊ ESTÁ FALANDO SÉRIO? SE ARRISCA TANTO ASSIM POR QUEM MAL CONHECE?
Ele permaneceu calado. Ela estava certo, todos sabiam disso. Na entrada da sala de jantar, dava para ver Sabina, ela tinha as mãos fechadas e fitava Sina com raiva. Não faça isso, ela está certa.
- Gente, não podemos ficar de briguinha agora, ok? - Escutei a voz de Any e arfei em puro cansaço.
Mas algo me chamou a atenção.
Olhei bem para a entrada da casa, era na minha esquerda, estava cheia de coisas, mal dava pra ver alguma coisa. Apertei mais os olhos e senti a sensação de escutar algo.
Beep...Beep...Bee...
- BOMBA!
Me levantei correndo até Sabina mas não fui rápida o suficiente e logo meu corpo estava sendo jogado pra cima. O chão explodiu, o teto subiu, os degraus explodiram, as paredes explodiram.
Mas eu não senti absolutamente nada.
Abri os olhos desesperada e vi Noah me fitando com um sorriso, estávamos já fora da casa. Ele apenas fitou assentindo e se afastou de mim se teletransportando de volta para a casa. Eu apenas neguei com a cabeça.
Não... não... não...
Vi a casa se destruindo por fora, vi Noah trazer cada um de nós. Sina tinha o braço quebrado, o rosto sangrando, Joshua estava desmaiado, Any estava com a perna arranhada, Sabina estava vomitando e tinha a mão no peitoral, Sofya e Lamar estavam bem aparentemente, meus melhores amigos também. Heyoon tinha se salvado, ela é fogo afinal de tudo.
- Espera, onde está Krystian? - Hina veio mancando até Noah e o garoto olhou envolta. Eu continuei jogada no chão, eu estou intacta. - Ele ainda está lá dentro.
- Eu vou pegar ele.
No exato momento que ele falou isso, ele sumiu e a casa explodiu mais uma vez.
E eu nunca serei capaz de o ver outra vez.
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multiverse; don't let me close my eyes
FantasyEu costumava fechar os olhos, meus pais me diziam que estavam tudo bem, eu não sonhava, nunca sonhei, era como se todas as minhas memórias estivessem apagadas e então eu era quem eles me criavam. Mas então eu a conheci, e consequentemente, descobri...