Pai

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Uma coisa sobre Sakura... ela nem sempre estava certa. Na realidade, normalmente ela estava bem errada como, por exemplo, quando ela jurava que Aldo, o apache, era um indígena. Mas havia algumas coisas que ela simplesmente sabia, como um sexto sentido, e nunca estava errada.

Ela não errou quando disse que seu pai seria a pessoa que ficaria pior em toda essa história. Sakura pode ter nos deixado mas, naquele mesmo dia, foi o seu pai que morreu, mesmo sem deixar essa terra.

Eu demorei pra sair debaixo do chuveiro, foi como se eu tivesse passado a vida lá. Sem chorar, sem gritar, sem socar paredes e sem pensar. O choque foi tão grande que demorei algum tempo pra reagir mas, quando saí do banheiro, minha primeira ação foi ligar para meu sogro.

- Oi, rapaz! – ele era uma pessoa tão simpática e isso tornou a notícia ainda mais difícil de ser dada – Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou, hesitante, quando demorei muito tempo para responder

- A Sakura morreu. – disparei, à queima-roupa, a última coisa que ele queria ouvir

- O quê?

- Eu sinto muito, senhor. Sinto muito.

A chamada caiu.

Hoje, agradeço que Ino e Mebuki, minha sogra, estivessem com ele quando eu contei. Do contrário, temo que fosse um enterro duplo. Kizashi ficou mal por muito tempo. Ele chorou, ele gritou, ele brigou e ele, que até os 55 anos nunca havia usado drogas (ilícitas ou não), começou a fumar.

Após dois anos ele, que foi contra cada tatuagem que sua preciosa filha tinha, tatuou um desenho dela. Sakura era uma artista em potencial, seus desenhos eram bons demais para mortais mas ainda não estavam bons o suficiente para serem profissionais. Ela sabia disso. Talvez por isso eu tenha ficado surpreso e emocionado quando, em meio a tantos desenhos interessante, seu pai decidiu tatuar uma bola com quatro palitos, duas pintas e um sorriso. Seu primeiro desenho. O primeiro passo de Kizashi em direção à aceitação (porque superar é impossível).

Eu e seu pai ficamos muito próximos desde então, a final, a tristeza realmente une as pessoas. Lembro que aprendemos isso ao assistir uma animação sobre sentimentos de uma garotinha. Sakura disse que ela era a Tristeza porque era feia, triste e incomodava a todos. Creio que ela não percebeu o quanto unia todos nós.

Hoje entendo parte de sua dor, afinal sou pai de uma linda garotinha chamada Sakura, obviamente. Eu digo parte porque a relação deles era muito maior do que pai e filha. Ele se admiravam como pessoas e isso é grandioso, principalmente quando discordam em inúmeros pontos, quando ela mentia e ele sabia as mentiras, quando ela brigava com ele por ter feito algo imaturo. Sei que ela era uma continuação da alma dele e sei que ele nasceu para ser pai. Talvez por isso hoje só seja metade do que foi e essa metade vive apenas por Ino.

Último AdeusOnde histórias criam vida. Descubra agora