Elora Licht

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  A chuva caia forte com gotas grandes e pesadas, o céu repleto de nuvens, trazia consigo, a inevitável tempestade; caminhos de terra, vazios e largos, acumulavam toda a água; Elora, completamente imóvel, se arrepiava a cada gota que tocava sua pele, estava confusa, perdida; sozinha, a sua frente, um vasto caminho coberto de lama, ao lado, apenas um campo limpo e claro, a alguns metros de distância, uma grande floresta; com o corpo trêmulo, respirou fundo e deu o primeiro passo, ao olhar em volta, nada aconteceu. 

O vento soprou e as folhas fizeram deste, sons agudos de desespero, um trovão soou pelos ares; a garota sem pensar duas vezes, correu o mais rápido que conseguiu, seus pés descalços afundavam na lama, cada passo se tornava mais lento, outro trovão e ela caiu; deitada no chão, com a roupa completamente suja, olhou para frente, pessoas de todos os lados vinham em sua direção, à respiração ofegante entregava seu medo, os olhos arregalados fitavam uma menina com vestido rosa manchado de sangue, o corpo parecia bem, vivo, os olhos castanhos encaravam-na com reciprocidade, nenhuma palavra foi dita, apenas um grito de agonia.

Com os olhos estalados Elora Licht tentava entender o que acabara de acontecer, não podia acreditar que era só um sonho, esfregou as mãos no rosto, e pensou ao ver o horário “não é possível, de novo não”. Eram seis e meia da manhã, de uma segunda feira, as aulas começavam as sete, e mais uma vez, iria se atrasar; as férias do meio do ano quase chagando e finalmente a formatura estaria próximo, sexta feira era o último dia de aula e seus dezoito anos nunca foram tão esperados quanto agora, mesmo assim, não se sentia preparada para a suposta responsabilidade. 

Ao ver o horário, levantou da cama com pressa e foi se arrumar, vestiu a velha calça jeans e uma camisa masculina branca, seus cabelos negros batiam nos ombros, já conseguia prende-los, puxou-os para trás e fez um coque rápido e mal feito, por isso alguns fios ficaram soltos; era branca com o rosto rosado e boca avermelhada, o nariz relativamente grande e arredondado, a boca pequena, e olhos levemente puxados, como os de um gato, tinha exatamente um metro e cinquenta e oito de altura, bem baixinha em comparação com as demais garotas do colégio, não era magra, estava um pouco acima do peso, mas era encorpada, não era bonita, nem feia, simplesmente comum. 

Ao olhar no espelho, sabia que teria mais um dia difícil pela frente, se sentia solitária na maioria das vezes, como se não pertencesse ao mundo, seu rosto demonstrava a insônia através das bolsas escuras embaixo dos olhos e a pele pálida, sem pensar muito, abriu a porta do quarto e saiu olhando para o corredor de um lado para o outro, a casa estava silenciosa, parecia vazia, sua mãe, na maioria das vezes já se encontrava acordada, mas não havia nenhum sinal dela naquela manhã cinzenta.

- Mãe! – Falou em tom alto. – Está em casa? – Perguntou esperando uma resposta rápida e breve. 

Onde será que ela foi? Pensou.

O silencio fora predominante, nem mesmo um ruído, a casa tinha dois andares, o térreo, com sala e cozinha, e o segundo andar, com os dois quartos, o escritório e o banheiro, era simples, porém aconchegante, não vinham de uma família pobre, vinham de uma longa linhagem, mas preferiam manter a descrição, seu pai havia morrido em um acidente de carro, então, tinha apenas a mãe, com quem morava, a avó e o tio, que moravam na Romênia. 

Se ela não acordar logo vou me atrasar, de novo, logo agora perto do último dia. 

Com passos curtos e pesados caminhou por entre os corredores e de longe avistou o quarto da mãe, a porta estava aberta e a cama arrumada. Já acordou então! Afirmou em seus pensamentos. Caminhou até as escadas e desceu, no andar de baixo, tudo estava nos conformes; a mesa de café estava posta, com leite, frutas e ovos fritos, a cozinha era grande, com armários nas paredes e uma ilha de granito com a pia, à direita, o fogão e a geladeira, à esquerda os bancos e uma pequena mesa para ambas realizarem as refeições diárias. 

A ascensão dos primogênitosOnde histórias criam vida. Descubra agora