Príncipe de reino nenhum

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Home! Hard to know what it is
If you never had one
Home! I can't say where it is
But I know I'm going
Home! That's where the hurt is

(U2: Walk on – All you can't leave behind, 2000)

O planeta Namekusein havia explodido deixando no espaço, onde um dia existira, uma nuvem de poeira cósmica e destroços calcinados, iluminada pela luz fria e fraca dos sóis daquele sistema planetário que nunca mais abrigaria vida alguma.

Dentro de uma nave da Corporação Cápsula, mal humorado depois de dias de viagem, Vegeta observava aquele vácuo pensando na ideia estúpida que tivera de acreditar que, a partir dali, poderia seguir algum rastro de Kakarotto. Não havia o mínimo sinal do Sayajin em parte alguma e o universo se estendia escuro e infinito por todos os lados. Não havia chance de encontra-lo melhor que voltar para a Terra.

Mas essa era a melhor opção? Valia a pena? Uma fúria brotava dentro dele contra si mesmo só de pensar em fugir de uma luta contra Kakarotto, mas ele não gostava da ideia de voltar para o planeta onde ele perdera tudo. Porque em Namekusein ele morrera, mas antes, na Terra, ele conhecera o sabor amargo de uma derrota humilhante como jamais imaginara sofrer. Quando começara a lutar com Freeza, a morte era a maior possibilidade, mas Kakarotto era um soldado de classe inferior que primeiro o derrotara, depois, poupara sua vida, o que ele encarava como uma humilhação ainda maior. E o que Vegeta não podia perdoar era que o maldito ainda pedira a Gohan para trazê-lo de volta à vida com as esferas do dragão em Namekusein. Já era ruim demais ter sido poupado por Kakarotto, mas ainda era pior saber que lhe devia a vida.

Não chegara ao Inferno: suas poucas lembranças de quando estava morto se restringiam a uma longa fila, onde ele não tinha mais corpo e era apenas uma alma mal humorada e aborrecida esperando sua sentença no meio de tantas outras. As esferas do Dragão provavelmente o haviam salvado de enfrentar todos aqueles que tinham morrido em suas mãos, no outro mundo. E esses não eram poucos.

Bufou de raiva. Talvez se rebelar contra Freeza não tivesse sido a melhor ideia. Ele gozava de prestígio entre os soldados do Império Cold até o momento que decidira se rebelar: tinha acesso a recursos infinitos e uma pequena fortuna de sua parcela dos saques dos planetas que ele ajudara a conquistar, mas, a essa altura, seus recursos já estavam confiscados porque ele se tornara inimigo declarado do Rei Cold. Se voltasse, seria interessante: não era de todo ruim a ideia de morrer ao chegar diante dos antigos aliados e desafiá-los para uma luta até a morte declarando-se o Sayajin que matou Freeza.

Mas ele não faria isso. Aquela nave não iria muito longe, não era mais que uma adaptação das naves dos Sayajins, mas feita com os recursos limitados da Terra, com o objetivo de ir até onde antes ficava Namekusein e então voltar. Não conseguiria jamais chegar até o planeta Cold, muito distante, no espaço profundo. Além disso, ele podia ser cruel, invejoso e mesquinho, mas jamais tomaria para si um mérito que não era seu. Não era bondoso, mas sabia o valor da honra e da lealdade. E, no fundo, lá onde jamais admitiria, sentia-se grato a Kakarotto por ter acabado com Freeza. Chorara poucas vezes na vida, mas o apelo final que fizera a honra do outro sayajin valera cada lágrima.

Se não ia fazer nada ali, a única coisa era acertar o curso de volta à Terra e tentar esperar Kakarotto por lá. O que faria depois que o derrotasse era algo a pensar mais tarde, quando tivesse certeza de que o venceria. Sem pensar muito mais, o príncipe dos Sayajins, que agora não tinha absolutamente ninguém sobre quem reinar, ajustou os comandos automáticos para a Terra e se preparou para sua viagem de volta.

Pensou na Terra, enquanto a nave partia. Quando ele e os outros partiam para conquistar um planeta, o mais importante nunca era sua beleza, mas seus recursos. Numa ocasião, ele, Raditz e Nappa haviam expulsado uma colônia de mineradores de um planeta que era nada mais que um grande bloco de metais nobres, árido e sem vida. Tinha sido o planeta mais inóspito e horrível que ele conquistara, mas o que gerara mais recursos para seu grupo. A Terra tinha pouco a oferecer perto de planetas com o dobro ou o triplo de massa planetária, mas ele achava que era o planeta mais bonito que ele pusera os pés... As poucas lembranças que tinha do seu planeta natal o faziam recordar de um planeta gelado, sombrio e triste. Se não morresse, talvez fosse uma boa ideia conquistar a Terra para si.

Mas no fundo ele sabia que, embora ele fosse fascinado pela ideia de submeter um povo inteiro ao seu comando, jamais gostaria de governar. Era bom para uma guerra, mas jamais saberia como administrar um planeta que se rendesse apavorado diante dele. Gostava de desafios, não de submissão. Talvez a Terra fosse apenas uma parada, e não o fim da jornada. O universo era bem grande e se o pai da garota terráquea fizera aquela nave, podia fazer outra melhor, que o levasse bem mais longe. Com esse pensamento interessante, ele acomodou-se e permitiu-se relaxar um pouco enquanto seguia viagem.


Nota : Cada capítulo começa com um trecho de uma música que me serviu de inspiração.

Para quem não lê inglês, a tradução do trecho da música desse capítulo:

"Lar! Difícil saber o que é isso
se você jamais teve um
Lar! Difícil dizer onde é
mas sei que é para onde vou
Lar! É onde se encontra a dor"

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