Teimosia

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And when your fears subside
And shadows still remain, oh yeah
I know that you can love me
When there's no one left to blame
So never mind the darkness
We still can find a way
'Cause nothin' lasts forever
Even cold November rain

(Guns n' Roses: November Rain – Use your Illusion I – 1991)

Vegeta acabou passando a tarde assistindo ao mesmo filme que Bulma, na usual posição desconfortável que ele sempre adotara: em pé, próximo ao sofá, braços cruzados e rosto emburrado. Ele havia aberto mão de treinar naquela tarde porque não queria sentir as mesmas dores pelas quais havia passado quando chegara ao planeta não-identificado. Sabia que precisava de pelo menos 24 horas para se adaptar e não havia nenhum meteoro a caminho dele desta vez. E obviamente havia a razão que ele jamais confessaria: queria estar perto dela.

Quando a mãe de Bulma chegou com Trunks, o bebê estava adormecido, exausto. Havia passado no colo de cada amiga da avó, teve suas bochechas apertadas e estava usando uma roupinha de bebê que certamente ele odiaria quando visse as fotos ao se tornar adulto. O filme que Bulma assistia estava terminando e ela levantou-se para pegar o filho no colo e leva-lo para o quarto quando Vegeta disse:

– Espere.

Ele se aproximou e ficou olhando o filho no colo de Bulma, que disse, suavemente:

– Você quer pegá-lo?

Ele assentiu, e ela passou o bebê para ele, que segurou seu filho um pouco assustado. Não sabia exatamente o que fazer, mas Bulma o orientou e ele ficou ali um longo instante segurando a criança sem saber o que sentia. Era uma emoção estranha que ele jamais havia experimentado e não podia definir. De todos os seres do Universo, pela primeira vez, havia um que existia graças a ele e ela. Mas, de repente, o bebê abriu seus olhos azuis, olhando em volta e quando viu o rosto do pai começou imediatamente a chorar.

Sem dizer uma palavra, Vegeta entregou o pequeno a Bulma e saiu da sala, indo trancar-se no seu novo quarto, visivelmente irritado.

Mais tarde, Bulma bateu à porta e o chamou para jantar. Jantaram com ele mudo, visivelmente contrariado. Trunks havia comido sua papinha da noite e adormecido novamente e ele não perguntou pelo filho durante o jantar. Já se encaminhava para seu quarto quando Bulma o chamou e mostrou a ele o banheiro que usaria dali em diante. Sem agradecer ele disse:

– Amanhã volto a treinar...

– Faltam dois meses, não é isso?

Ele assentiu e os dois trocaram um breve olhar. Ela disse então:

– Você talvez não tenha com o que se preocupar, está muito mais forte...

– Estou mesmo – ele disse, dando as costas a sem entender porque estava tão irritado.

Muito mais tarde, quando Bulma saiu do banho e foi se deitar, depois de verificar se estava tudo bem com o seu filho ela fez uma descoberta desagradável. Penteava os cabelos quando viu uma folha de papel caída atrás da sua escrivaninha. Gelou. De alguma forma, uma das folhas das anotações de Vegeta, que ela lera novamente na véspera, havia escorregado sem que ela visse e jazia agora no chão, ao lado do móvel.

"Vegeta certamente vai sentir falta dessa folha... eu o conheço." – Ela pensou. Imaginou o sayajin furioso confrontando-a mais uma vez, e ela não queria passar por aquilo de novo. Pegou a folha e a colocou sobre a escrivaninha, apagando a luz. Ia esperar algumas horas e levaria a folha silenciosamente até o quarto de Vegeta, que, não sendo mais que um cômodo que usavam como depósito, não tinha trinco ou fechadura. Seria fácil para ela entrar.

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