Capítulo VI - A Queda de Alguns Muros.

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Não sabia dizer porque tinha acordado tão cedo.  Por sua janela o Jeon podia ver que o sol começava a nascer, transformando, pouco a pouco, a penumbra do quarto em luz.  A cabeça doía um pouco, por isso fechou os olhos. Procurou o celular às cegas na mesa de cabeceira, para saber que horas eram, mas a única coisa que achou foi um copo. Achou estranho e voltou a abrir os olhos, ao lado do copo, que descobriu ter água, tinha um comprimido e um bilhete.

"Para a sua ressaca. Ass: Y." 

As memórias do dia anterior estavam um pouco turvas, principalmente as que vinham depois de sua bebedeira. No entanto, todas as anteriores estavam bem vívidas. A forma como se sentiu em relação a Junkyu e o jogou para Yoongi, a ida à praia e ao cemitério. Céus, tinha perdido o controle e agora sentia culpa.  Tinha que se desculpar com Yoongi e com o filho.

Levantou, mesmo sem querer, tomou o comprimido e foi em busca do celular para saber se estava perto da hora do filho acordar. Percebeu que estava de roupão e, ao tentar lembrar como tomou banho, só conseguiu a sensação de mãos em seu corpo.  Será que tinha trazido alguma das mulheres que tentavam flertar consigo no bar? Olhou para o chão e só encontrou as suas roupas jogadas.

— Yoongi… — sussurrou.

Lembranças dele tirando a sua roupa surgiram e, mesmo que a cabeça de Jungkook doesse mais ao tentar lembrar, o moreno se forçou. E, assim, trechos e mais trechos chegavam, assim como a memória sensorial de toques e sensações. Por alguns segundos ficou em choque. Não acreditava em tudo que contou para Yoongi, em como se abriu e mostrou seu lado mais frágil para um estranho, porém, o que mais o chocava, eram as lembranças da fala dele.

— Será que posso mesmo confiar em você, pequeno príncipe? — se perguntou.

Estava confuso e com medo. O ato de confiar o assustava e traziam péssimas lembranças.  Então, ao menos por aquele momento, decidiu deixar aquelas questões para depois.

Ainda de roupão foi até o quarto de Junkyu.  Ele parecia um pequeno anjinho dormindo de forma tranquila. Com culpa, Jungkook tocou a face macia do filho. Recordou das sensações — em relação ao filho — de ontem. O odiou ao olhar aquela data e agora não podia dizer que era amor, mas a simpatia com o pequeno bebê o dominava.

Sabia que era contraditório. Como podia mudar de pensamento e sentimentos de  um dia para o outro? Mas não era exatamente isso, uma mudança repentina, que acontecia na mente confusa do moreno.  Não podia negar que parte sua ainda culpava o pequeno bebê e, claro, o dizia incessantemente que não poderia ser um bom pai, entretanto, também não podia negar  aquela outra parte, ainda que pequena, que estava sendo conquistada pelo filho. O tornando, o que não imaginou ser possível, mais confuso.

— Me desculpe, garotão. — suspirou e seu olfato se encheu com o cheiro do bebê. — Ontem não foi o meu melhor dia. Sua mãe teria vergonha de mim e, bem, ficaria zangada por ter te deixado, só, e arriscado minha própria vida. Eu prometo, Junkyu… — olhou para o céu. — Sowon. Eu serei um pai melhor.

Tinha tomado uma decisão, — e por mais que dissesse para si que não ia pensar naquilo agora , a fala de Yoongi se repetia em sua mente, fazendo um novo caminho se formar — iria ficar com ele. Faria o seu melhor, não deixaria Junkyu passar pelo que passou.  E, por mais que a confusão às vezes o abraçasse, sabia que a cada novo dia se apegava mais ao filho e, logo, não haveria mais incertezas em si. E se tinha uma coisa que o Jeon jamais faria, está era abandonar quem gostava.

Depois de muitos dias, sentia-se um pouco mais leve, como se aquela nuvem negra, que o acompanhava, desse espaço para os primeiros raios de sol. Era como se a tensão saísse do seus ombros ao tomar aquela decisão. Lembrou das palavras do Min que afirmavam que ele não era um monstro, mas sim um pai assustado e de luto. E, mesmo que estivesse bêbado e confuso, aquelas palavras de Yoongi tocou uma parte de Jungkook que o próprio deu como morta. Todas as pessoas como Yoongi, — privilegiadas — que Jungkook conheceu, se viu no direito de julgá-lo e rebaixá-lo, mas o Min não, ele era diferente, ele acendeu uma chama em si. Ele depositou uma fé em si, que nem o próprio Jeon tinha, e quando Jungkook se viu pelo prisma daqueles olhos gateados, se viu capaz. Era jovem, inexperiente e cometeria erros, mas isso não o qualificava como um mau pai ou uma má pessoa. Então tentaria, com todas as suas forças, se agarrar na esperança que sentiu ao escutar e lembrar daquelas palavras. Pois podia abrir seu coração mais uma vez, podia deixar o filho entrar e, bem, era isso que pretendia. Olhou, mais uma vez, com ternura, o pequeno dormindo, antes de sair para arrumar a sua mamadeira.

Lullaby - YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora