O fim

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   Eu tinha treze anos quando matei um lagarto no quintal de casa, logo depois de ouvir o Benson (padrasto) dizer pra minha mãe que eu não prestaria pra nada. Era um filhote, a mãe dele olhava de longe. Ela era mais rápida pra correr e mesmo assim correu e deixou ele lá. Ela merecia ve-lo morrer.

  - Eu não sou uma psicopata ou algo do tipo, eu só... castigo. E sua mãe merece ser castigada, agora. - Eu dizia isso a ele, com os lábios pressionados um no outro, apreensiva em mata-lo.

Deitada no chão do meu quarto confortavelmente burguês (porão),eu ouvia as conversas familiares da minha mãe e do Benson.

- Tenha paciência, ela é igual o pai. Vai fugir antes que você e eu perceba !
- Ela está ficando cada vez pior, uma hora você vai ter que escolher.
 
   Eu não ficava mais escandalizada em ouvir isso . Porque eu não me sentia em casa. O Benson entrou pela porta de trás, no outro dia que o papai saiu. E ele não ia embora se eu ficasse ali, ele não tinha pra onde ir. Mas queria pressionar minha mãe, então, dizia pra ela escolher . Eu ouvia tudo. Ela sempre escolhia ele. Será que é assim que as pessoas amam? Isso que é amor?.

    Eram 3 da madrugada, e eu ainda não estava dormindo. Eu pensava, ia chegar o dia em que   eu não sentiria absolutamente nada, nem sono. Isso me pirava, dormir era tão bom,era um mini coma . Eu fechava os olhos e de repente não estava mais ali, era como a morte, como se eu não existisse . Sendo naturalmente eu, sentindo nada. E esse dia estava cada vez mais próximo.

   Eu sentei na janela que dava pra rua ,pelo menos eu tinha uma vista do céu e da cidade. Pensava sobre minha existência. Era estanho meus pensamentos filósofos, mas eu ficava aliviada de mesmo em meio a toda essa merda eu não ter pedido a sanidade. Ué e os filósofos tinham sanidade?

  - Eu devo estar ficando louca... é. Eu não me admiro! - gesticulava pra rua. - Mas a vida é essa Emy, você talvez esteja perdida e precise se encontrar e ...

   Eu fiz uma pausa , olhando pro céu imaginando como seria se eu voasse pra bem longe. Eu podia escolher parecer com as luzes da cidade ou com as estrelas . Então, eu fiz, é eu fiz e não me arrependo.

- Vamos deixar um presentinho aqui pra todos lembrarem de mim... - dizia eu riscando o esgueiro do meu cigarro na colcha de cama.

Mas era só uma lembrança mesmo, depois que eu pulasse aquela janela, ninguém mais me veria . E eu, me preocupava em deixa-los preocupados, eu era a filhinha mais velha.

- É só um susto Emy não se preocupe... e porque você esta preocupada?

Eu pulei a janela, parecia que eu tinha deixado um kilo de bosta das minhas costas naquela casa. Eu até respirei melhor. Levei comigo a mochila preta da escola, 20 dólares da carteira do Benson, e um esprey de pimenta.

-  Agora Emy Loes, faça sua história... droga tô morrendo de fome . - Eu olhei pra traz e vi a minha janela com fumaça... com bastante fumaça. - MAS QUE MERDA!

Eu corri, imaginando que o carro dos bombeiros estivesse a caminho, e que já estivessem ligado pra polícia. Era só um susto. Então, eu corri mais um pouco, com o coração acelerado. E eu não sabia se era da corrida ou de medo. Eu sentia alguma coisa ? Eu sentia medo?

  - Entra no café Emy, ninguém vai desconfiar, você só precisa agir naturalmente. - Eu falava como se fosse fácil andar naturalmente naquela cidade toda "colorida" e eu toda de preto. Eu era como as tv's de tubo em meio às de tela plana.

  Eu entrei, e não havia ninguém lá. Normalmente esses estabelecimentos ficam abertos 24hrs, os donos não querem perder o dinheiro dos polícias que amam café e rosquinhas, e os polícias são 24hrs,(pro meu azar). Se eles tiverem um funcionário desgraçado e puto com a própria vida pra passar a noite ali. É e eles tinham.

   - Mas o que ele tanto olha?... -Eu me perguntava sentada nas poltronas, largas e vermelhas. Unindo as mãos e desviando o olhar dele.
- Será que ele tá desconfiando, entrar nesse café talvez não tenha sido uma boa idéia. Ou talvez seja por que eu esteja aqui, sentada,as 3:30, falando sozinha. Emy ele pensa que você vai assaltar, vai ligar pra polícia e você tá ferrada... PARE DE FALAR SOZINHA, DROGA!! - Eu realmente não sou boa em disfarces.

  Ele arregalou os olhos, os olhos frios. Que eu ainda não tinha penetrado naquele momento, eu não tinha tempo pra isso.

- Você tá bem? Quer alguma coisa?  Olha a gente não trabalha mais com bebidas e ...
- Cala boca eu só quero um café, idiota ! - Odeio café.
- Tá... - disse ele baixando a cabeça e anotando o pedido como se ele não estivesse só ali e ele mesmo tivesse que colocar o café e me trazer o café .

Demorou um pouco, 5min , e eu não ouvia nenhuma sirene . Eu estava em desespero não podia fazer isso sozinha, podia ter convidado a Karen . Vou voltar, não tem jeito de eu sair dessa merda.

- Não, voltar não Emy... você não pode voltar, não vão acredita em você e vai acabar ma...
-Ei , o café!
-Há sim ! Pode deixar aí...

  Ele dobrou as costas e eu pensei... humm!

-  Espera você tá só aqui? - Eu sabia que ele estava só.
- Sim. Sim. Ninguém costuma querer trabalhar essa hora.
- E por que você quer?
- É... bom, é porque... eu ...
  
    Eu estava olhando nos fundos dos olhos dele. Eu o deixava nervoso, talvez qualquer menina o deixasse. Mas eu gostava daquilo, porque ele parecia velho demais, para os garotos que ficam nervosos com meninas.

- tá...tá. Quantos anos você tem ? 
- 17 , eu fiz ontem.
- 17? Ham . Tem namorada?
-Não. - Ele respondeu rápido e um pouco trêmulo.
- Hum. Senta aí.
- Desculpe, mas eu não posso porq...
- SENTA AÍ, quem é que você vai atender agora? Só tem eu aqui , não é? . - Era ainda estava desconfiada dali.
- Tabom! - Ele se sentou me olhando como se eu estivesse armada.
- E aí?  Me conta,  o seu pai é dono daqui? Por isso você é escravizado nessa merda 24hrs? Há... qual seu nome?

Longe de casaOnde histórias criam vida. Descubra agora