Ombros,amigos?

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       Eu não sabia  o porque dela estar fugindo da polícia ou sei lá o que, aquelas sirenes representavam pra ela. Talvez seja um trauma ou talvez ela realmente esteja envolvida em algo criminoso, opção que eu tinha descartado no início.  E também não tinha um plano, coisa que eu achava que tinha.            
       Ela me deixava confuso, eu geralmente captava tudo das pessoas no primeiro olhar. Mas ela...ela eu não conseguia. Era imprevisível, e parecia ter e não ter sentimentos. Ela enlouquecia o meu "radar".
  Enquanto ela procurava um buraco na cerca da reserva, eu fazia muitas perguntas, eu realmente não estava entendendo nada.
    Foi ai que ela me mandou voltar. Eu fiquei paralisado, meus olhos não piscavam, parecia que ela tinha pego o meu coração com aquelas mãos frias, e o congelado sem pena.  Mas eu não estava apaixonado, eu não a amava... Por que estava ali? Por que não voltar? Ela era uma estranha, não é mesmo ?
  Então comecei a lembrar, as vezes que eu tinha que seguir e simplesmente, voltei!

  - Pitar, não volta!
Eu lembro exatamente a primeira vez que eu falei essa frase. E de como me libertei com ela. Ou não...

    Eu sabia que obviamente, parecia estranho eu falar na terceira pessoa, referindo-se a mim mesmo. Mas o que não era estranho ali?

     Conseguimos entrar na reserva, parecia ser um esconderijo pra Emy, desde quando era criança. Nos andamos quase a manhã toda, a Emy queria mostrar força e coragem o tempo todo. Mas eu sabia que aquela bota preta e suja estava arruinando os seus pés.
    Até que encontramos uma casa velha, com cheiro de mofo. Ela disse que seria uma boa idéia a gente dar uma parada, pra descansar umas 3 horas . Eu não achava mal, as coisas pareciam ser encaixar com a Emy. Pelo menos previamente, eu diria. Talvez ela desse uma boa amiga, depois que consultasse o psicólogo.
  
     Tinha uns trecos dentro, coisas de casa mal assombrada. Encontrei um vinil, enquanto a Emy mexia num quadro de uma velha. Aquilo era nostálgico. Era exatamente a música que tocava, quando eu voltava! Quando o Pitar voltava!.

(...)
  - Talvez?
  - Cara, você sabe o que é dar um tempo? - Falou ela, sentada nos panos velhos daquela casa , com um urso que fedia, mas ela fez de travesseiro.
- Desculpa é que é estranho... bom, na verdade chega até ser perigoso pra mim, andar com uma fugitiva da polícia! - Eu disse sentado no chão, de frente pra parede que dividia a casa, sem querer ofende-lá.

    - Ok! Senhor não criminoso, que não robou o " Sr. Devin" ! "Ho não, é claro ele foi induzido pela jovem esquisitona que entrou falando sozinha no seu estabelecimento, enquanto ele apenas cumpria, dignamente, seu horário de trabalho " - Ela falava com a mão na testa, como as moças do teatro . 

- kkkk , cara definitivamente você não é normal! - Eu não conseguia faze-la sorrir assim como fazia comigo, não tão fácil, ela me divertia.

    - Olha, vejam só! Você tem dentes ! - Eu parei na hora.- Há qual é? Sem graça. - Ela me jogou o urso fedorento, eu nem pude me defender .
- Que nojo Emy! , não sabe nem onde estava isso, sabe quantos germes tem em pelúcias limpas? Agora imagina nesse!!  -Joguei de volta na mesma batida.
- aff! O doutor ataca novamente... quer saber eu preciso relaxar, e você também esquisitão. - puxou a mochila e tirou uma garrafa de vodka. Quando foi que ela pegou aquilo ? Eu carreguei essa mochila sozinho!
- Mas que revoltante, por isso a mochila pesava tanto!
- Muita calma senhor , o seu "tremendo" esforço será recompensado ! - Disse ela num tom de minha "sudita", eu até que gostei.
- Han... eu não vou me arriscar simplesmente por que já são 10 da matina e eu acabei de comer... e a gente tem que ir .
- háaa garoto fresco , relaxa cara, olha, aqui parece seguro. Vamo brincar... de quem já fez mas coisas .
- Brincar ? E eu sou a criança aqui? ... que nome de brincadeira é esse?
- Tá chatão!. Começa ?
- Tá ... você já usou drogas ? - Ela deu uma golada, até agora não sei se era vontade de beber ou se ela usava mesmo drogas. Mas não fiquei surpreso.
- Tá boomm! , Minha vez, vejamos... Você não é mas virgem? - Eu não estava preparado pra essa pergunta, droga!. Eu abaixei a cabeça ainda decidindo a resposta.
- Ham.. eu tenho que beber se eu não for ?
- É assim que a brincadeira funciona Pitar! - Entortando a cabeça pro lado, apertando os olhos .
  - Ta bom então! - Dei uma golada e pensei " Que diabos! essa menina não tem paladar não? ", aquilo era muito, muito ruim. Eu fiz uma careta infinita.
- Tá garotão! Me daqui... - Ela deu uma golada, uma grande golada. Droga.
- Sua vez ...  - É minha vez sua maluca.
- Você está fugindo com um estranho, porque roubou mais gente antes dele, e vai faze-lo de "pato" na frente dos polícias se um dia eles ti pegarem?- Eu tinha que tentar, confesso que fiquei com medo. Ela já não estava tão sóbria pra encobrir alguma coisa.
- Seu maluco!- Ela só ficou me olhando com os olhos apertados e pegou a garrafa .
- Não vou beber por que isso é uma mentira, mas... obrigada pelo bom plano ! - Ufa! - Minha vez, ham.... você já se apaixonou por alguém?
- hann... Não!
- É eu também não, ainda não tive tempo pra isso. Eu ando fazendo coisas rotineiras como... roubar comida e fugir com estranhos, bem estranhos.
- Olha eu não sou estranho não e acho que se apaixonar não é tempo sabe ... tempo é pra amor ...
- Olha, você sabe muito do assunto pra não ter namorada... - falou ela, deitando a cabeça no urso fedorento.
- Eu só... leio livros ...
  
   Meu relógio bússola marcava 10:32. A Emy fechou os olhos e dormiu logo depois da minha resposta, eu acho que ela estava porre ou com muito sono. Era um bom momento pra descobri alguma coisa...

Longe de casaOnde histórias criam vida. Descubra agora