Pode voltar!

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    Pitar falava comigo . Eu não lembro o que . Quando ouvi o barulho das sirenes indo pra direção da minha casa, não ouvi mais nada. Não conseguimos pegar o ônibus daquele horário. Meu corpo tremia e eu não o controlava! O que nós iríamos fazer ? ... Nós?

-Emy ... Você tá fugindo do que?
- Temos que ir agora ... temos... agora !

Eu corri, corri com toda força. E ele mesmo sem entender, relutante, correu comigo. Chegamos na reserva da cidade, era aonde as crianças de lá se perdiam, e por onde os criminosos pegavam fuga pra outra cidade. Tinha um cercado elétrico.

- Não dá pra entrar ! O que você tá fazendo? Por que tudo isso? Emy?
- Que inferno cara! Você não entendi nada! Quer voltar ? Volta ainda dá tempo, pega a mochila e vai embora! Para de fazer perguntas . -  Disse a ele ofegante por causa da corrida. Tinha medo da resposta, mas agora sentia mais medo da situação.
- Não... Eu . Só queria entender... mas ... não sei o que fazer Emy. Por que eu? - Ele esfregava a mão no rosto como se estivesse frustrado.
- Olha Desculpa tá! Eu ... eu conto tudo, mas agora preciso achar a entrada . Me dá esse tempo Pitar ! Por favor ! ... Mas se quiser voltar... sem problemas! - Mentira.

- Pitar, não volta! - Eu fiquei pensando o porque dele falar de si mesmo na terceira pessoa, mas ... estava ocupada.

- Quando eu era criança,  estudava numa escola aqui perto... eu vinha pra reserva matar aula e outras coisas - Ele me olhou espantado - coisa de criança sabe , eu achei um buraco nesse mesmo cercado . Acho que a eletricidade não funciona a algum tempo.
- Isso explica a venda de drogas por aqui!
- hhaa! Olha ele tem humor... - Olhei pra ele como se a gente começasse a se entender.
- Achei! Achei Pitar! Não acredito ! Vamos vamos !...
- Espera!

Nós entramos, e já estava amanhecendo . Eu não ouvia nada de suspeito. Parecíamos estar longe.
- Então... qual é o plano?
- ham... bom... eu basicamente não tenho um plano !
- Mas... na rodoviária... eu achei que sei lá você tinha " o controle" ! - Ele sinalizou as aspas com as mãos,  querendo ser sarcástico .
- Eu tenho o controle... eu só não tenho um plano Pitar. Eu olhei no mapa e vi a cidade mais longe possível daqui, então me pareceu viável... o que você queria?  Uma guia?
- Caramba ! Olha isso... - Ele disse intusiasmando com um casa de madeira, no meio da floresta.
- Eu achava melhor você não ent...
- Olha só isso aqui dentro Emy...
- A esqueci

Ele derrubou alguma coisa e eu entrei . Parecia não ter perigo, não tinha nada dentro a não ser coisas antigas. Tinha cheiro de mofo em tudo, e de madeira molhada.
- Olha . A quanto tempo você não vê um desses?
- Ham... um vinil? C tá brincando? Eu tenho exatos 16 anos , nem você viu um desses ainda...
- As freiras tinham um desse ... elas tocavam sempre a mesma música - o olhar dele se perdeu mexendo naquela relíquia empoeirada.
- Ham... eu sou considerada uma pobre cultural, então... onde ficava sua casa ? - a casa tinha uns dois cômodos, eu estava no outro .
- Bom ... é que ... eu não tenho muito tempo na cidade e o café precisa de alguém pra passar a noite e eu ...
- Caara! você morava no café? - Mexia num quadro de uma dona com o cabelo trançado e vestido longo azul escuro.
- Não, eu meio que trabalhava de dia e ... é eu morava no café.
- Que estranho! Mas legal... que bom agora você achou uma casa ! - Eu disse com os braços abertos como se ele tivesse achado uma mansão.
- É... - Ele sorriu um pouco .
- O que você acha da gente jogar tudo isso fora, daí a gente pode ficar um pouco e continuar daqui as umas 3 hrs.
- Bom...Eu não tenho plano nenhum! Essa casa estava precisando mesmo de uma faxina! - Ele disse como se morasse mesmo ali.

Jogamos tudo pra fora, ficou tipo um entulho na frente. Achamos panos velhos e um urso encardido. Fizemos duas "camas" com os panos e eu fiquei com o urso, "travesseiro".
Ele me olhava, com o olhar de quem queria uma explicação. A boca dele tava suja de torta.
- Bom então.... não sei se essa é a hora pra falar alguma coisa? Talvez?...

Longe de casaOnde histórias criam vida. Descubra agora