Ajuda

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    Eu dormi ou coxilei depois de brincar com o Pitar, de perguntas e tal... na verdade só queria saber mais dele. Era curiosa pra saber sobre o passado dos pais,da história completa.
Eu abri os olhos e percebi que a hora já era avançada , por que as luzes do sol já atravessavam frechas da casa.
  
    Levantei e percebi que o Pitar, tinha sumido, junto com minha mochila. Minha cabeça pensou tantas coisas, que eu não conseguia nem organizar tudo e me acalmar. Não era medo . Na verdade não sei o que era .
  Decidi procura-lo. Ele não deveria estar longe. Ele não faria isso comigo.Ou faria? Será que eu falei alguma coisa errada?
- PITARR ! .... PITARR! - A floresta era sinistra, as árvores pareciam meio mortas nessa época do ano.
Eu fiquei gritando e andando uns três minutos, e nenhum sinal.

-PII...Pitar? É você?- olhando de longe. -O que aconteceu? - Eu vi as costas dele, sentado na beira de um lago.
-Loues, você me encontrou ... Ela me encontrou pessoal. Agora a Loues vai cuidar do Pitar. Haha!
- Você bebeu? Que merda ...você tá porre... A gente tinha que ir Pitar, que porra! - Ele tinha bebido toda a vodka, claramente ele nunca tinha bebido na vida.
- Loues, Loues a gente vai a gente ... uaah
- Mas que merda... - Ele vomitou e estava de camisa branca. Pra mim roupa branca não é adequando pra nada na vida.
-Droga Pitar não dá pra continuar assim ... você é maluco ?
- Eu tô bem a gente vai lá né galeraaaa uuuu! - E mais vomito.
- Cala boca ... só tem eu aqui se lava e vamos embora agora.
- tá bom tá bom eu obedeço senhora Loues.
- Para de palhaçada!
 
    Ele cambaleava pra tirar as calças. Eu olhava revirando os olhos de braços cruzados toda aquele circo. Até que ele chegou no penúltimo nivel da bebida .
  Se sentou no chão como se pra tirar as calças fosse preciso um guindaste.
- Loues... eu não presto pra nada nessa merda ...é, pra nada .... E eles sabiam disso por isso me deixaram nessa merda . Eles sabiam , eles sabiam e me deixaram naquele inferno... eu mereci porque sou um inútil. 

     Ele tirou a camisa e falou tudo isso chorando . Por um lado parecia só um bêbado como meus amigos...
Mas quando ele falou aquilo me deu um nó na garganta. Eu não sabia da vida dele mas... com certeza ele não foi parar num orfanato por que quis.
   Ele tinha cicatrizes na costas. Muitas. E eram grandes, como se ele tivesse sido chicoteado. Cheguei mais perto, e tinha por toda parte dele. Nas costelas, na barriga e no peito.
Eu não sabia o que pensar . Fiquei com pena.
  - Pitar... eu vou ajudar tá bom?
- Loues...você vai me ajudar ? Me ajuda por favor? ... me ajuda a parar?
- T..tá

     Ele falava perto do meu rosto e nossos olhos estavam fixados um no outro . Os olhos dele são tão bonitos. Verdes . Verdes claros, e as vezes se misturam com azul e mel.
  Eu tirei as calças dele, ele não tinha cicatrizes nas pernas nem em nada. Eu não vi nada, eu não quis que ele tirasse a cueca . Ia me sentir, culpada porque ele estava bêbado. Eu tirei a roupa, fiquei só de peça. Eu não confiaria em outro cara, ainda mas bêbado. Mas...de alguma forma, eu confiava no Pitar. E também eu podia afoga-lo facilmente.

     Entrei com ele no lago. A água estava muito fria já era de tarde. Ele segurou na minha mão, não na minha cintura, não nos meus braços. Ele não se aproveitou. Ele era diferente sim.
- Ttá muitto fria! Qquero voltar Looues...
- Calma ... você nem entrou, vem aqui . - Eu não sei porque fiz isso...mas fiz. Achei que ele precisava .
- Vem garoto, eu não mordo não.
- Tta bbom.
- E me chama só de Emy... eu não sou advogada nem corretora. - Eu abracei ele, e coloquei as mãos dele envolta da minha cintura . Ele colocou a cabeça no meu ombro. O corpo dele tremia no meu. Parecia que eu gostava de cuidar dele.
   - Emy?
   - Que?
   - você vai me ajudar ne?
   - Éé
    -tá - Eu não sabia exatamente de que ajuda ele estava falando mas... eu não tinha nada na agenda ... então.
  
    Ele levantou a cabeça e ficou olhando no fundo dos meus olhos, sem falar nada, por cinco segundos. Parecia uma eternidade. Então ele me beijou. Com aqueles lábios frios . Eu não sei o que eu senti, não sei explicar. Parecia que aquele laguinho tinha virado um oceano . E sentia como se meus pés não chegassem no chão.
     Eu retribui. Ele beijava bem, apesar de estar se tremendo. Depois ele botou as mãos no meu rosto, e encostou a cabeça na minha . Ofegante.
    Depois saímos, eu lavei as roupas dele, peguei a mochila e voltamos. Ele parecia pensativo. Ou triste, sei lá. Ou com frio, ele tava só de cueca .
    Entramos de novo naquela casa velha, e parecia que toda vez que a gente entrava fedia mais.
    Ele não falou nada, se cobriu com os lençóis velhos e dormiu .
Eu queria falar pra ele se levantar e irmos embora, por que ninguém mandou ele beber toda minha vodka, mas ele parecia mais cansado que eu.  E eu não falo de cansaço físico.

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