O reflexo que o fazia sofrer

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-Mas que putaria é essa?

Minki acordou achando que havia sonhado com a voz de seu pai e logo sentou-se no colchão, sentindo os braços de Minhyun ao redor de seu corpo, esfregou os olhos e olhou para a porta, tomando um susto ao ver seu pai parado na mesma, olhando com cara de nojo para ele e os outros meninos.

-O que você faz aqui? - O loiro levantou-se.

-Pois eu pergunto, o que esses garotos fazem aqui, e este abraçado a ti?

-O que tem haver com quem dorme na minha casa e abraça a mim? - Indignado Ren encarava seu pai.

Aos poucos os jovens foram acordando com a "conversa", Min espreguiçou-se e olhou para os dois sem entender nada.

-Essa não é a sua casa mocinho! Se é assim que devo te chamar. - O homem olhava com desdém para o filho. - Se tornou um ser tão...repugnante...deveria voltar a ser homem.

O Hwang levantou-se ao ouvir aquilo e finalmente entender o que estava havendo, enquanto isso o mais novo ficava quieto encarando o chão, com as mãos fechadas.

As palavras do pai, acabaram machucando o jovem mais do que o normal, mas ele não queria chorar na frente de ninguém, queria gritar com aquele idiota, dizer que sempre foi homem e que sempre foi assim, ele apenas nunca esteve ao seu lado para perceber e entender.

Mas Minki não conseguia gritar com seu pai, não conseguia jogar na cara dele tudo o que estava preso em sua garganta a muito tempo, apenas conseguia abaixar a cabeça e ouvir.

-Isso, abaixe a cabeça e me ouça, tome jeito e pare com esse seu modo infantil de ser, está na hora de crescer e ser homem de verdade, pare de sonhar que é uma princesa. - Riu o senhor.

-Qual é a desse coroa? - Perguntou JR.

-E ainda anda com esse tipo de gente, Minki? Pessoas que não tem onde cairem mortas?

-Como é? - Perguntou Aron. - Olha, eu posso não ter onde cair morto, mas pelo menos não fico esculachando as pessoas igual você. - Quando o hyung ficava nervoso, seu sotaque era mais aparente.

-Saeng, você está bem? - Perguntou Minhyun, indo perto do loiro, que tinha o rosto vermelho de raiva.

-Quem te deixou entrar aqui? - Ren ignorou Min, não queria que o jovem se envolvesse em confusão.

-Ninguém, eu entrei, esse lugar é de minha propriedade ainda.

-Eu espero que omma consiga o divórcio logo. Não sei como Mang gosta de você. - A voz do loiro estava diferente, talvez estivesse prestes a chorar.

-Mang e Jimin são minhas garotinhas, você não, Minki, você nunca vai ser uma garota, não importa o quanto queira ser uma, você nasceu errado, eu queria tanto um menino, mas sua mãe queria uma menina, por causa dela você é assim, sua mãe sempre te mimou demais, te deu tudo o que quis, te tornou a princesa que você quis ser, mas logo isso vai acabar, você vai aprender a ser homem, por bem ou por mal. 

-Chega! - Gritou Minhyun. - Escuta aqui seu velho sem um pingo de educação! Isso é modo de tratar seu filho? Você está machucando-o muito ao falar assim com ele! Minki é uma pessoa maravilhosa! Já sofre demais na escola, por culpa de uns idiotas, então vem você, que parece um dono de empresa, acredito que assim seja, vem e o trata assim! Você é ridículo, não sabe que pessoa maravilhosa esse garoto é! - Ren olhava assustado para Min, querendo fazê-lo parar. - Não sei a porcaria da sua história, mas a senhora Choi fez bem em separar-se de uma pessoa ridícula como você! E isso que você fez é ameaça, bullying e homofobia! Pode ser processado e até preso por isso, é bom sair daqui, antes que eu chame a polícia!

-Quem vai chamar a polícia sou eu! Como pode falar assim comigo, sabe quem eu sou?

-Sei sim, infelizmente eu sei, tenho nojo de você, graças a Deus seu filho não é como você, chame a polícia, vamos ver quem vai ser preso aqui! - O Hwang se mantinha firme olhando para o senhor Choi.

O homem pensou um pouco e saiu do quarto dizendo:

-Vocês não perdem por esperar.

Depois que seu pai foi embora, Minki pediu desculpas aos meninos e pediu para ficar sozinho, já era hora do almoço agora, o loiro não havia descido de seu quarto e os garotos estavam preocupados, já que ele não havia tomado café, nem aceitou as coisas que Hanny levou até sua porta, manteve o quarto trancado todo esse tempo.

Aron e JR tentavam conversar fingindo que nada havia ocorrido, mas Minhyun caminhava de um lado para o outro totalmente preocupado.

A verdade é que o loiro não estava nada bem, assim que os amigos saíram de seu quarto, ele jogou-se no chão e chorou muito, quando calmo, resolveu arrumar o quarto, mas após fazer isso, olhou seu mural de fotos e viu como era feliz com seu pai antes, agora só tinha mágoas para contar.

Ren sentia uma grande dor no peito, parecia que seu coração tinha sido esmagado, lembrou-se de como foi defendido por Minhyun, queria seu abraço agora, mas não podia, estava triste e com medo.

Pensou o quão inútil era por não saber defender-se sozinho, por depender de alguém, que a pouco tempo atrás era um desconhecido, para colocar o idiota do seu pai no lugar. Odiava-se por não dizer tudo o que ele merecia ouvir, e agora estava chorando e soluçando novamente.

Olhou-se no espelho e viu seu reflexo, lembrou de tudo o que sofreu por ser assim, dos risos dos colegas, do bullying, das pessoas que afastaram-se, do seu pai, tudo por sua culpa, por ser assim, por ser o menino que gosta de rosa, que veste-se como menina, por amar cabelo comprido e coisas brilhantes, por ser fofo e sentimental, se pudesse escolher não seria assim, mas não podia, ele nasceu assim, nenhum LGBTQ escolheria ser assim se pudesse, porque apenas eles sabem como é horrível o bullying que sofrem.

Neste momento, ele deu um soco no espelho, fazendo em pedaços, o reflexo que o fazia sofrer, sua sexualidade, seu estilo, sua vida.

Ele precisava gritar, precisava apenas gritar, e deixar o que sentia ir embora com o grito, que desapareceria no passado, e foi isso que fez, gritou, gritou até quase perder a voz, até perder as forças, até as lágrimas o consumirem novamente.

Olhou a mão machucada pelo espelho, lembrou de quantas vezes quis se machucar, mas também de como jamais teve coragem de fazer isso, agradeceu por se achar covarde, sua mão estava doendo e se cortar nunca lhe pareceu algo agradável, lembrou-se de seus antigos amigos, de como os aconselhava a não se mutilarem, sabia que isso só traria mais dor, jamais diria para alguém fazer aquilo e queria ser exemplo de que existem modos diferentes de acabar com a dor.

Sorriu em meio ao choro, pois lembrou que essas pessoas foram embora, o deixaram, nunca ouviram ele, mas não desistiria, faria o que fosse necessário para ajudar qualquer um, ninguém merece sofrer, nem mesmo os malvados.

Minki fez uma viagem por sua vida, viu o quão ruim o destino foi consigo, pensou no porque disso, jamais achou uma resposta, era difícil acreditar que sofresse tanto. Lembrou de quando esses problemas começaram, lembrou que uma noite esteve chorando no jardim e viu uma estrela cadente, pode parecer infantil, mas ele resolveu fazer um pedido.

"Não peço para que tudo isso acabe, pois sei que em todo lugar há preconceito, mas peço algo simples e talvez até mesmo bobo, por favor, eu só quero ser feliz, apenas isso, eu desejo ser feliz."

O pedido pareceu simples, mas na verdade é uma das coisas mais difíceis do mundo, se tornava cada vez pior para ele, como ser feliz em meio a tanta dor? Ele tentava, mas sempre aparecia alguém para estragar tudo.

Uma vez a mãe de Minki, disse a ele que os desejos demoram, mas um dia realizam-se, mas mesmo assim ele estava quase desistindo.

O que ele não sabe ainda, é que o destino reservou a ele muita felicidade e alguém especial, porém ele terá que ser forte e passar por todas as dificuldades, para conseguir o que sempre quis, ser feliz.

E assim o destino o aguardava, enquanto agora, tomado pelo cansaço, o loiro dormia no chão, com o rosto molhado por seu recente choro, que tanto espera um dia ser de alegria.


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