Há uma lenda antiga, que os anciões do seu tempo contavam para os mais jovens, que alegava claramente que tínhamos partes da alma separadas. Eles diziam que todo o ser humano é composto por quatro partes essenciais, a fase bebê, a criança, a jovem e a adulta. Mas para que chegássemos na fase adulta, teríamos que passar pelas outras três, que serviriam como um aprendizado para sermos um adulto melhor. Por ter passado cento e setenta e nove anos, sendo dezoito do tempo em que viveu, a alma do Levi era consideravelmente velha. Porém, o tempo não a faria ser sábia, pois seu espírito aprisionado estava preso em uma maldição onde nunca encontraria paz, o que o deixava incapaz de renascer e aprender a evolução. O estopim para o seu "libertamento" foi ter reencontrado a pessoa que tanto ama, assim o lembrando, mesmo que só um pouco, quem ele foi um dia. E para que pudesse ter sua segunda chance ao lado do amor de sua vida, Levi se aprisionou no que deveria ser seu corpo se tivesse sido reencarnado. Sua alma ainda estava presa ao passado, o que lhe fez não completar sua passagem de bebê para criança, pois não havia como seguir de criança para jovem, o que resultou em seu coma. Mas apesar de sua chance única, Levi ainda não se via feliz.
Com um toque insistente em seu reflexo, ele desviou seu olhar do espelho, o que atraiu a atenção de Kuchel, que estava dobrando roupa na cama. "Filho? Algo de errado?"
"Eu sinto que estou errando. Esse não é meu tempo. Não é minha vida. Eu me sinto um intruso."
"Levi..."
"Eu vejo o Eren na minha frente. Eu o protejo, eu o toco, mas... Eu me sinto errado em fazer isso. Eu o amo tanto... Eu o esperei por tanto tempo. Tanto tempo..." Ao dizer isso, algumas lágrimas solitárias escorreram pelo seu rosto pálido, indo conforme a chuva do lado de fora da casa.
Hoje deveria ter sido seu segundo dia de aula, mas o temporal foi tão forte e repentino, que logo a rádio anunciou que não teria aula em nenhuma escola e que era para todos de protegerem da chuva, evitando sair para não haver acidentes.
"Eu sempre fui a filha perfeita que o papai quis que eu fosse. Eu fazia tudo o que ele mandava... Até chegar num ponto de me sentir como se fosse um tipo de marionete. Onde eu tinha que agir conforme ele queria." Ao lembrar do seu passado, Levi teve que lutar contra suas lágrimas. De fato, ele odiava dias chuvosos. "Eu o amava mesmo ele me fazendo passar por tudo aquilo. Lembro que, às vezes, eu me pegava pensando... E se alguém bater em mim e notar o quão oco sou? Eu não sentia nada, como se tivesse vazio por dentro. Também não podia fazer nada. Era um mundo cinza onde eu só tinha que andar para cima e para baixo com a droga de uma sombrinha para evitar o sol em minha pele. Mas, então, eu lembro do dia em que Miguel me alertou do novo empregado." sorriu
Kuchel, que havia parado de dobrar as roupas, se deitou de bruços na cama enquanto observava com bastante atenção a história que seu filho contava. Esbanjando um sorriso encorajador para que ele colocasse tudo para fora de uma só vez. Afinal, ela queria fazer parte de sua vida, mas ele sempre preferia se manter neutro e guardar tudo para si só. Ela tinha que agradecer à esse dia chuvoso... Seu bebê começou a falar!
"Não vou mentir. Eu não tinha nenhum pingo de vontade de conhecê-lo. Eu só queria testar um pouco a paciência do Miguel, que já era um senhorzinho de idade, mas bastante protetor. Lembro também de pensar nos argumentos que iria usar para infernizar a vida daquele novo empregado..." riu, "Assim como lembro da primeira vez que olhei em seus olhos. Aquela sensação... Eu senti meu mundo girar tão devagar ao meu arredor, sabe? Como se só existisse eu e ele naquele momento. Deus... Ele era tão lindo e atrapalhado. Sua luz deu vida ao meu mundo cinza."
Com um pequeno sorriso entristecido, Levi pegou a escova e começou a pentear seus cabelos, querendo usar qualquer coisa para tentar esquecer da dor que sempre o consumia ao lembrar de seu passado.
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Bloody Mary
FanfictionDois lados de uma mesma moeda, era o que podíamos dizer sobre eles. Almas gêmeas que nunca poderiam encontrar sua felicidade, pois estavam condenadas desde o momento em que puseram os olhos uma na outra. Até aonde você iria se fosse para se vingar...