Pequenas Histórias.

#1

- Não pense que eu fiquei feliz com isso. – Leonardo chegou falando alto e eu me encolhi na cadeira.

- Você não é o único insatisfeito. – Murmurei baixinho.

- Ótimo! Vamos agora mesmo falar isso para ela e pedir para trocar nossa dupla. – Apontou para a porta de saída da biblioteca. Revirei os olhos.

- Como se você não conhecesse a Sra. Hugges – Fechei o livro que estava lendo antes dele chegar e me endireitei na cadeira. – Olha, nós vamos ter que nos engolir o semestre inteiro e vamos ter que fazer esse trabalho juntos. Não tem outro jeito. Então, vamos tornar isso o mais agradável possível para nós dois. Combinado?

- E eu tenho outra opção? – Disse com desdém.

- Ótimo! Nos encontramos quinta-feira aqui na biblioteca, assim que acabar a aula.

As vezes era difícil acreditar que tínhamos chegado nesse ponto. Leonardo e eu nos conhecemos no início da faculdade e sempre nos demos bem. Éramos amigos, tínhamos o mesmo grupo de amigos, e fazíamos quase tudo juntos. Era triste ver que hoje mal nos olhávamos e que quando conversávamos, era por obrigação.

A semana passou voando. Na quinta, assim que acabou a aula, fui para a biblioteca. Relutante, mando uma mensagem para Leonardo avisando em que sala da biblioteca eu estava e que já tinha pego alguns livros.

Durante a semana, eu me revezava entre fazer os trabalhos diários das aulas e estudar para as provas. Nos finais de semana, nos encontrávamos para fazer o Projeto.

- Você tá com fome? Quer comer o quê? – Perguntei da cozinha. Leonardo me olhou e sorriu.

- O que você escolher, eu como. – Ele fechou o livro e, depois de colocar o notebook na mesa, caminhou até a cozinha. – Quer ajuda com alguma coisa?

- Na verdade eu estava pensando em pedir alguma coisa... – Torci o lábio. – Ou ir em algum lugar.

- Tem uma hamburgueria nova aqui perto.

- Eu vou pegar meu casaco! – Ele sorriu.

Como a hamburgueria era na quadra da frente, fomos andando. O lugar era aconchegante e estava vazio, para a nossa sorte.

Durante o tempo que ficamos ali, pouco conversamos e nos concentramos apenas em comer. Voltamos para casa em silêncio, Leonardo pegou suas coisas e foi embora.

Se dissesse que isso não me incomoda estaria mentindo. Eu não gostava dessa situação toda e queria resolver isso tudo. Mas sinceramente, isso não dependia só de mim e eu não estava disposta a me humilhar. 

O semestre voava, as provas vinham uma atrás da outra e a banca do Projeto se aproximava. Tudo acontecia junto, e passava por mim como um caminhão. Eu estava exausta. 

- Pensei que não ia abrir essa porta hoje!

- Desculpa, eu estava no banho. – Ele disse com um sorriso de lado e me deu espaço para entrar. Seus cabelos estavam molhados do banho recém tomado, ele usava uma calça de moletom e uma camiseta. 

Nos acomodamos no sofá e começamos a trabalhar no que tínhamos que fazer. A banca seria no dia seguinte e ainda precisávamos fazer alguns ajustes para nossa apresentação. Eu estava com os nervos à flor da pele. 

- Você sente falta da gente? – Leonardo rompeu o silêncio e eu o encarei assustada. Esperava tudo, menos essa pergunta.

- Isso já faz tanto tempo....

- Não foi isso que te perguntei. Eu perguntei se você sente falta de nós dois, e não há quanto tempo nós ficamos.

Uma enxurrada de sentimentos e lembranças me atingiram num segundo.