Mundos Diferentes!

Décima Terceira Parte: Como arrancar você de mim?

Assim que desliguei o telefone com Pietro não fui atrás de Fernando pois era ele quem havia saído da minha sala. Ele que voltasse para buscar.
Depois de um bom tempo decidi ir comer algo e descansar. Levei o celular de Fernando comigo pois decidi entregá-lo. Vai que a madame ciúme liga!?
Fui até a sala dele e ele não estava. Perguntei a enfermeira e ela não sabia dele. Onde havia se metido?
Decidi ir comer algo. Optei por sanduíches naturais com suco natural de frutas por já ser mais de 2 da manhã. Fui com meu lanche para a varanda do restaurante, que fica aberto a madrugada inteira para funcionários. Sentei em uma mesa próxima a sacada e senti uma brisa deliciosa me tocar, esvoaçando meus cabelos que estavam presos em um coque frouxo.
- Então quer dizer que este perfume deixou o italiano desnorteado também? O que usa neste perfume, em? - A voz sedutora e grave que eu conhecia bem invadiu meu ouvido, me fazendo fechar os olhos. Ele estava em pé, por trás de mim.
- Nem aqui consigo ficar sozinha!
- Você quer mesmo ficar sozinha, Dra? -Sussurrou em meu ouvido.
- Fernando, você soa como uma tentação para mim. Sai daqui, sai!
- Tentação? Consegue resistir?
- Sempre! Por que o Deus que eu sirvo me faz forte para resistir as tentações. Toma seu celular e me deixe comer em paz! - Ele deu a volta e perguntou:
- Posso me sentar aqui? Estamos com uma mesa entre nós, bem afastados um do outro.
- Adianta eu dizer que não?
- Você realmente está querendo me resistir, mas e ao Pietro? Qual a sua resistência com ele? -Perguntou, sentando-se a minha frente.
- Fernando, já te falei o que penso sobre relacionamentos. Não procuro um agora.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Se eu puder responder...
- Se, no caso, eu não tivesse a Amanda em minha vida, você iria pensar no que te falei outro dia, sobre estar apaixonado por você?- Ele realmente estava disposto a atacar. Será possível? Que raio de pergunta foi está? A vontade que tinha era de responder é claro! Sem sombra de dúvidas! Mas o que saiu...:
- Mesmo se você não tivesse a Amanda eu não acho que pensaria no que me falou naquele dia.
- Por que?! -Perguntou ele com cara de espanto.
- Pelo que já te disse, não estou a procura de um relacionamento. -Ele baixou a cabeça, sem reação, e desta vez foi a minha vez de perguntar: - Agora me diz você. Se você não tivesse a Amanda e se encontrasse apaixonado por mim como diz estar, você mudaria completamente sua vida por mim, sabendo de tudo que já conversamos sobre mim?
- Mel, você nem percebe, mas já comecei a fazer mudanças em mim por você. Mudanças que quem me conhece me olha e diz que sou outro homem.
- Você precisa buscar estas mudanças por você mesmo e não por mim ou para me agradar. Quando você fizer isso vai observar se vale ou não a pena se apaixonar por mim. -Eu fiquei de pé e ia saindo, mas ele segurou, de leve, o meu braço, dizendo:
- Me apaixonei por você desde o primeiro dia que te vi e me apaixonaria novamente quantas vezes fosse preciso. Por que não pensa em mim de um outro modo? Ou pensa?
- Me solta, por favor! - Pedi a ele, já olhando para o chão sem conseguir mais encará-lo e, como fiquei baratinada com o que ele me disse e me perguntou, decidi sair dali o mais rápido possível.
- Melissa, volte aqui!
Saí quase correndo e ele atrás de mim. Laiana, que estava na sala de descanso, nos viu passando assim e decidiu se esconder para observar tudo. Paramos próximo a sala de descanso por que ele conseguiu me alcançar e parou bem em minha frente, segurando-me agora pelos dois braços. Laiana sacou seu celular e começou a gravar tudo.
- Por que fugiu? Me responda o que te perguntei. Você pensa em mim de modo como eu penso em você? Você sente o mesmo que eu?
- Não.
- Olha bem... Você não pode mentir. Está mentindo para mim? - Baixei a cabeça, respondendo:
- Estou. -Falei baixo, quase sussurrando.
- Olha para mim e responde! -Exigiu ele.
- Estou! Estou mentindo para você! Viu o que me faz fazer? Não gosto de mentiras e estou me tornando algo que eu não gosto depois que te conheci. Estou, sim, completamente apaixonada por você, -Neste momento ele arregalou os olhos e um sorriso enorme invadiu seu rosto. - só que não pode ser. Nós dois não podemos ser dois, um casal, entende?
- Que possamos ser um, então.
- Pare de brincar com coisa séria. Esta questão de ser um você devia se preocupar em pôr em prática com a sua noiva. É ela quem está formando uma família com você! Não eu.
- Eu não a amo e você sabe disso.
- Não sei de nada. Só sei o que você mesmo me diz. Não posso saber o que se passa dentro do seu coração.
- Pode sim por que eu deixo tudo bem claro para você. O meu desejo é me casar com você, ter uma família com você, ter uma vida com você! - Ele estava se aproximando demais e percebi que iria me beijar.
- Fernando, por favor, se afaste! -Coloquei as duas mãos em seu peito o chegando para trás. Em vão por que ele conseguiu me aproximar quase encostando na parede.
- É isso mesmo que você quer? Que eu me afaste?
- Sim. E não só agora, quero que se afaste sempre, que me deixe em paz!
- Melissa, como pode me pedir uma coisa impossível para mim? Toda vez que eu te vejo tenho vontade de te beijar. Mal consigo olhar seus lábios que sinto eles acariciando os meus.
- Fernando... Por favor...! -Percebi que neste instante ele ia me beijar mesmo, se não fosse por um simples detalhe:
- Atrapalho vocês?! - Laiana resolveu sair de onde estava escondida. Ele olhou-a, bem sério, e eu, me esquivando, dei um jeito de sumir dali como uma flecha.
- Por que sinto que você é uma péssima pessoa, Dra Laiana?
- Eu, Dr? Sou tão boazinha... - Respondeu ela, com tom de ironia e todo cinismo possível.
- Só te dou um aviso, cuidado, pois pessoas ruins atraem o mau para si mesmas! Depois não diga que não te avisei.
- Isso é uma ameaça, Dr? - Perguntou ela, se insinuando para Fernando. Ele não respondeu, simplesmente saiu de perto dela, que falou sozinha: - Cuidado você, doutorzão, por que quem está com a faca e o queijo na mão sou eu. Vou começar a ditar as regras aqui, breve breve.
****************
No outro dia de manhã...
- Mel, você vai agora?
- Sim, Laís, já estou indo.
- Dra, preciso falar com você!
- Agora, Dr Fernando? Já encerrei meu plantão.
- É rápido! Espere um pouco por ela, Dra Laís. Venha!
Laiana se aproximou a tempo de nos ver saindo juntos e alfinetou:
- Estão indo terminar o assunto desta madrugada? Será?
- Do que você está falando, Laiana?
- Nada não, Laís. Você está indo já?
- Vou esperar ela.
- Então eu já vou por que estou muito cansada para ficar esperando briguinhas de casal!
- Laiana, você e suas insinuações sem fundamento.
- Sem fundamento? Vai perdendo o trem, bobona, vai! Por que nesta viagem eu não fico para trás mesmo! Fui!
Laís ficou sem entender o que ela queria dizer com tudo aquilo.
Fernando sentou em sua cadeira no consultório e pediu que eu me sentasse. Sentei e ele perguntou:
- Aceita uma água?
- Não. Podemos ir logo ao assunto?
- Sim. É o seguinte, eu queria pedir a você que não saia com o Pietro hoje.
- Ah, você queria pedir? Sério mesmo? Tudo bem.
- Tudo bem?!
- Claro que não! Que pedido é esse agora?! O que está pensando?!
- Melissa, você não conhece ele, eu sim. Eu sei bem o que ele quer e quais as intenções dele para isto.
- Quem te garante que ele tem más intenções comigo? E se ele estiver realmente interessado em mim, sem más intenções?
- Isso é impossível acontecer, Mel, vai por mim. Já vi ele usar toda artimanha que tem usado com você para dormir com uma mulher!
- Quais artimanhas? Até agora ele só foi gentil me dando flores de presente.
- Flores de presente, galanteios bonitos e encantadores, passeios sem demonstrar o real interesse. Isso tudo eu conheço bem. Muito bem!
- Ah é? Por que acha que conhece tão bem assim?
- Por que fui eu quem ensinou essas táticas a ele! -Ele respondeu, desviando os olhos de mim.
- Quem me garante que essa sua historinha de apaixonadinho não seja uma de suas táticas também?!
Ele se pôs de pé, sério, se aproximou de mim, me encarando e bem olho no olho, e disse, debruçado nos braços da cadeira:
- Nunca duvide do meu amor por você! - Oi? Eu ouvi a palavra amor? - Posso ter sido mesmo um mulherengo, um galinha como todos costumam dizer, mas isso acabou. E quer saber quando? Quando te conheci! Meu coração sabia que você é a mulher da minha vida!
- Fernando, por favor! Pedi que se afaste de mim. Não posso me envolver com você!
- Quero muito te beijar! - Já estava quase sentindo seus lábios tocarem o meu e decidi acabar com isso de uma vez, antes que eu me machuque.
- Eu não quero que me beije. Aliás, eu não quero te beijar!
- Como é?! - Perguntou ele, estranhando.
- É isso mesmo! O que eu quero mesmo é sair daqui, descansar um pouco e sair com o Pietro que, a esta altura, já está do lado de fora do hospital me esperando para me levar embora.
- Você ligou para ele vir te buscar?
- Fernando, viva sua vida com sua noiva, cuide do seu filho. Vou viver a minha vida. Se for com o Pietro ou não, só Deus irá me dizer. Agora, por favor, se afaste definitivamente de mim. Ou terei que entrar em contato com Dr Richard e pedir meu desligamento daqui! Me dê licença! - Pedi, me levantando da cadeira onde ele estava me cercando, e indo para o lado da porta para sair. Ele, com os olhos marejados, falou:
- Como você pode me dizer que vai tentar algo com o Pietro depois que falei que te amo? O que você tem no coração? Pedra? Gelo? Talvez uma pedra enorme de gelo, né?!
Eu, de costas, deixei uma lágrima descer em meu rosto, e ele continuou:
- Pois bem. Eu vou parar de falar com você sobre assuntos pessoais e a partir de agora nossa ligação será estritamente profissional. Você entendeu bem?
- Perfeitamente. -Respondi, sem me virar para olhá-lo e ele perceber que eu estava chorando.- Aliás, era isso mesmo que eu havia falado. Não quero mais que fique me cercando querendo ter algo comigo que eu não quero. Caso contrário vou conversar com Dr Richard sobre assédio em meu local de trabalho. Sei que no mesmo instante ele me tira deste lugar!
Saí sem nem ao menos olhar para trás. Ele, sozinho, tacou um copo de vidro na parede, abaixando-se no chão, começou a chorar baixinho, dizendo:
- Não sei como, mas vou te arrancar de mim! Você não fica nem mais um dia em meu coração! Isso eu garanto! Vou cercar meu coração para que você não possa entrar mais nele, assim como fez comigo!
Ouvi, ainda próxima a porta, o que disse e a vontade que tive era voltar lá e pedir que me perdoasse, mas sei que seria errado e que iria me machucar. Deixei do jeito que estava.
Me aproximei de Laís e ela perguntou:
- O que aconteceu? Por que está chorando?
- Depois te explico. Vamos embora daqui, por favor!
Fomos embora sozinhas, por que eu tive que mentir para Fernando que havia combinado com Pietro de ir me buscar.
No apartamento eu tomei um banho, um café e quando deitei na cama custei a dormir. Dormi.
- Mel, Mel, acorde! Meeel!!!
- Hã...? O que houve, Laís?!
- Estão precisando de nós com urgência no hospital! Aconteceu um código vermelho e precisamos ir pra lá agora mesmo!
- Como assim?! O que aconteceu?!- Perguntei, já me vestindo.
- Parece que foi um acidente. Não sei ao certo. Vamos!
- Não posso nem tomar um café antes?! -Perguntei, saindo para a sala.
- Não temos tempo para isso! Já estamos atrasadas! -Respondeu Laiana, já saindo. Ela está se tornando uma verdadeira megera!
Voltamos ao hospital e vimos uma grande agitação no saguão. Pessoas desesperadas por seus parentes e amigos. Nunca havia passado por situação assim.
Vi, de longe, Fernando assinando papéis, carimbando outros e falando com pessoas que choravam muito em seguida.
- Você vai ficar parada aí? -Perguntou Laís. - Vamos! Temos muito trabalho a fazer!
Começamos a entrar no embalo da agitação toda. Pessoas estavam muito machucadas e a todo momento chegavam novos pacientes. Tudo devido a um gravíssimo acidente onde três ônibus se chocaram e atingiram vários carros, causando até explosões.
- Tia, você acha que vou ficar bem? -Perguntou-me uma linda garotinha de uns 6 anos.
- Claro que sim, meu anjinho! Por isso estou aqui. Para te ajudar!
- A mamãe falou comigo, antes de fechar os olhos e dormir no carro, que Deus ia mandar um anjo para me ajudar. É você! Nunca pensei que conheceria um anjo de perto.
- Você é um anjo, minha florzinha. Agora descanse.
- Se eu sou um anjo, tia, por que minha mãe fechou os olhos? Ela estava segurando a minha mãozinha, não era hora de dormir. -Aquela fala dela me cortou o coração. Dei um sorriso para ela, disfarçando a minha dor, e saí da ala, não aguentei e comecei a chorar.
- Você está bem? -Perguntou Fernando, preocupado.
- Não. Mas vou ficar.
- Nunca havia passado por algo tão sério e grande, não é mesmo?-Neguei com a cabeça e ele continuou: - Sei como está se sentindo. Sei, também, que está cansada do outro plantão. Se quiser depois descanse um pouco na sala de descanso e eu te cubro.
- Tá, depois eu vejo isso. Vou voltar pra lá.
- Melissa... - Olhei para ele: -Estou aqui com você. - Assenti com a cabeça, lhe dando um meio sorriso, e voltei para a ala.
*As coisas se complicaram depois deste grave acidente. Tudo saiu ao contrário do que Melissa havia pensado. Será que Pietro vai entender o motivo dela não poder ir ao encontro? E será que terão novas aproximações entre ela e Fernando? Os próximos capítulos prometem!*
C.