Mistake | Noart

Um

SINA

Empolgação é o termo correto para o que estou sentindo nesse exato momento. Eu finalmente achei um apartamento com um preço em conta e que fica perto da minha faculdade.

Poderia ter um dia melhor que esse?

Estou cansada de ouvir minha mãe falando sempre a mesma coisa: "você já tem 21 anos", "você trabalha e tem um dinheiro bom guardado, deveria investir para começar a ter responsabilidade", "sem pressão, filha, mas você tem que começar sua vida sem morar debaixo do meu teto".

Escuto isso praticamente todo dia e tento aturar, entretanto, não aguento mais. Trabalho desde meus quinze anos e junto dinheiro desde então, claro que posso pagar um aluguel e me sustentar, eu apenas sei que é melhor com alguém fazendo tudo por você. É mais fácil, acredite. Isso não quer dizer que sou mimada ou algo do tipo, só sou preguiçosa mesmo. Parte do meu dinheiro achei que iria precisar usá-lo em minha faculdade, felizmente, consegui uma bolsa 100%. Contudo, quase me mato de estudar para não perdê-la.

Por ora, o meu quarto estava sendo pintado contra minha vontade e adivinha o porquê: minha irmã não pode mais dormir com minha mãe. Precisa de um quarto só para ela e será o meu. Palavras de Alex. Mesmo com aquelas palavras de "sem pressão", ela vai me despejar de sua casa o mais rápido possível e não se importa se vou conseguir me virar ou não. Outra razão para ela querer Sandy no meu quarto, é que ela quer ter paz para trepar com os caras desconhecidos que ela arranja e arrasta para dentro de casa. Me estressei por um longo período, todavia, acabei tendo que aturar isso. Não tinha sentido sentir o nojo e a raiva que eu sentia, já que isso não mudava as coisas, não faria ela parar.

Separação dos pais é algo bem complicado.

Ela sabe que odeio quando ela faz isso. Não me importo de Sandy vir dormir comigo quando ela traz alguém agora, mas ainda me incomodo com seus barulhos e com a falta de noção dela. Alex não me suporta mais e eu não a julgo por isso, apenas me irrito com ela por ficar enchendo minha cabeça ao invés de me motivar. Anteontem saí feito louca atrás de um lugar aconchegante, limpo e barato para que eu possa morar. Não estava em meus planos alugar um com dois quartos, só queria algo apropriado para mim, pequeno e confortável, mas ele estava baratinho e eu posso usá-lo para meus amigos dormirem quando quiserem, no entanto.

Somente privilégios.

Não vou negar que estou estranhando isso tudo. O apartamento pelas imagens já é espaçoso e chique, é perto do campus e faz jus ao site visto pessoalmente. Hoje estarei indo lá de novo, conferir tudo. Vou me mudar pela tarde e já são oito horas da manhã. Estou indo cedinho perturbar a recepcionista, para que eu possa tranquilizar meus pensamentos sobre algumas dúvidas que venho tendo, principalmente tirar esse peso de mim sobre se o preço está realmente correto. Peguei minha bolsa de lado e gritei para minha mãe que está dentro do seu quarto, que já estou saindo. Vou até a parada de ônibus apressadamente e logo chego em meu destino. Passo, sem pressa, pela porta de vidro, emitindo um bom dia para o porteiro que me retribui seguido de um sorriso. Me aproximei do balcão alto e grande, encarando a mulher mais velha. No máximo uns quarenta e nove anos? Não sei dizer, não sou boa nisso de adivinhação.

- Bom dia! Sou Sina. Sina Deinert. Vim conferir meu contrato e assiná-lo. Irei me mudar essa tarde, como estava marcado. - apoio meus dois braços no mármore e sorrio.

- Bom dia, Srta. Deinert. Com quem você falou? Não lembro de você. - ela franze o cenho, enquanto mexo em minha bolsa procurando os papéis.

- Uma senhora chamada Márcia. Fiz tudo por telefone e peguei uma papelada ontem, uma cópia das regras, do tempo de contrato... Ela disse que ficarei com o apartamento do 14° andar, número 701. - digo estendendo os papéis preso por um clipe, para ela.