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Curiosidade sempre foi minha melhor qualidade e ao mesmo tempo meu maior defeito. Scarlet Callahan poderia ser uma enorme pedra no seu sapato, insistente e insuportavel, ou quem sabe uma aliada útil, pronta para qualquer coisa e com táticas perfeitas de dedução, lógica e até mesmo jogos de azar. Ela é a típica garota que todos ignoram, mas está ali sempre observando, e analisando tudo sem grandes suspeitas.

Senhoras e senhores, essa sou eu.

Scarlet Callahan ao seu dispor.

— É um desastre ! — Chutei com toda minha força a cadeira da pequena escrivaninha soltando uma serie de palavrões descontentes

Elle desviou seu olhar para mim parecendo indiferente ao meu surto, arqueou as sobrancelhas como quem já sabe o motivo e não dá a mínima.

A verdade é que ela já se acostumou com isso. Dividimos o dormitório desde que chegamos em Yale. Duas calouras entusiasmadas por ganhar uma vaga na Ivy League, mal tinham ideia do inferno que se encontrava ali. Elle ganhou bolsa de esportes jogando futebol e eu pelas notas extremamente altas e currículo impecável, no dia em que recebi a carta dizendo que fui aceita senti que nada poderia me parar

Eu seria uma jornalista quer o destino queira, quer não.

Nada poderia me parar... nada exceto um bloqueio criativo

— Por que não simplesmente fala sobre o centenário da biblioteca? É tão simples — Elle voltou sua atenção totalmente para o esmalte perfeito que cobria as unhas e resmungou algo sobre estar borrado

—Por que ninguém liga!- Explodi com um grito estridente. Revirei as orbes ao notar a feição indiferente da ruiva — Tem ideia de como é difícil fazer esses imbecis tirarem os olhos do celular? Preciso de uma matéria interessante. Algo que faça as pessoas olharem e dizer: "eu preciso de mais!" — Larguei a enorme quantidade de pesquisas feitas nas últimas horas sobre a mesa sem cuidado algum sentindo a mesa tremer pelo peso

— O seu último artigo foi parar no The New Yorker Scar! — Dei de ombros ignorando todo o entusiasmo em sua voz — Tem ideia de como isso é raro? Você esculachou aqueles idiotas de Harvard!

— Eu preciso de mais — me joguei dramaticamente sobre a cama permitindo que um suspiro pesado escapasse quase que sem querer pelos meus lábios

— Sabe do que você realmente precisa?

— Se você disser "festa" eu...

— Festa!

— ELLE! — franzi as sobrancelhas sentando sobre a cama e cruzei os braços na altura do peito contrariada

— Ah qual é Scar. Por favor — Ela juntou as mãos em súplica ficando de joelhos sobre a cama

— Tanta coisa acontecendo no mundo e você quer realmente ir à uma festa de fraternidade na faculdade? Sério?

— Amiga, eu entendo totalmente sua necessidade de mudar o mundo, mas o que podemos fazer aqui? Sentadas nessa cama discutindo sobre qual é o seu próximo artigo pro Yale Daily News?

Fitei os olhos castanhos em dúvida. Eu posso ter muitos defeitos, mas sei admitir quando perdi uma batalha

— Não vamos voltar tarde — disse por fim, aceitando meu triste destino em ser obrigada a ir para essa maldita festa

(...)

Jeans nunca pareceram tão desconfortaveis como naquele momento.

Quentes, apertados e me faziam sentir estranhamente deslocada, já que a maioria das garotas usavam pequenos e delicados vestidos, como bonecas.

Era como voltar ao colegial. E isso me assustava

The SinOnde histórias criam vida. Descubra agora