Capítulo 5

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Voltei!
Desejo uma boa leitura para todos.

ANA P.O.V

Olhem só para isto.

A filha-da-puta.

Sentada do outro lado da mesa, exatamente como vinha fazendo todas as noites por seis longos anos. Os mesmos gestos, as mesmas palavras, como uma esposa de brinquedo, movida a pilha. Sempre sorrindo. Sorrindo para mim. Sorrindo para tudo o que eu dizia. Sorrindo para o maldito pedaço de carne.

Sem jamais enxergar o que quer que fosse.

E mentindo deslavadamente durante todo esse tempo.

Como foi em Atlanta, querida?

Tudo bem, fora uns probleminhas com uns números. Blá, blá, blá. Acontece, meu amor, que eu não estava em Atlanta. Estava no deserto, tentando explodir os seus miolos com os meus CANHÕES!

E bebendo do cantil de prata que eu dera a ela e...e... comendo minha torta!

Por um instante fiquei ali, observando-a repetir o mesmo teatro de sempre.

Será que pensava em mim quando não estava em casa? Será que riu da mulherzinha ridícula quando enfiou minha torta naquela boca maldita?
Será que fazia piadas com o meu nome quando se jogava nos braços de uma agente qualquer, provavelmente uma femme fatale, nas noitadas pós missão cumprida?

Era por isso, então, que virava para o lado e dormia feito pedra sempre que passava as noites comigo. Não que lhe faltasse apetite. Mas gastava cada gota de sua energia vivendo aquela emocionante vida dupla! Outra pessoa dormia com James Bond; e eu dormia com Ward Cleaver, de Leave It to Beaver.

A única coisa que me deixava acordada a noite inteira era sua mania de se mexer em toda a cama!

Canalha...

Agora vinha para o meu lado como se fosse Grace Kelly, pronta para me servir mais uma taça de vinho.

De repente, meu coração parou. Não gostei nada daquele brilho em seu olhar. A questão era a seguinte: será que Vitória sabia que era eu, sua mulher, quem ela quase havia apagado naquele desfiladeiro no deserto? E agora estava ali para terminar o serviço?

Talvez não soubesse. Nem soubesse que eu sabia. E no final das contas quisesse apenas me servir um pouco de vinho.

Ou talvez estivesse cansada da mulher enfadonha e quisesse dar cabo dela apenas para fugir com alguma agentezinha ordinária chamada Verônica, ou alguma coisa assim!

Ela vinha na minha direção, casualmente carregando a garrafa na palma da mão, olhos sempre pregados nos meus.

Isso mesmo.

Grace Kelly.

Grace Kelly, versão serial killer.

Aquela garrafa me deixou tensa. Se quisesse, Vitória não teria a menor dificuldade para espatifá-la no meu crânio.

Meus olhos procuraram a faca mais próxima. Prendi a respiração, cruzei as pernas, levantei minha taça.

Quando Vitória se abaixou para me servir — ou matar —, percebi que ela parecia surpresa.

Meu vestido havia subido um pouco nas pernas, revelando meu joelho enfaixado e os hematomas adquiridos na queda sobre as rochas no deserto.

Vitória deixou a garrafa escorregar da mão.

Num gesto rápido, estiquei o braço e peguei a garrafa em pleno vôo. Uma manobra brilhante. Reflexos excelentes.

Reflexos incomuns para uma dona-de-casa.

Sra & Sra. Caetano FalcãoOnde histórias criam vida. Descubra agora