Capítulo 13

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ANA P.O.V

Fachos de laser verdes e vermelhos entrecruzavam-se acima de nossas cabeças como um espetáculo de Natal. Mas de natalinos não tinham rigorosamente nada.

Wham! A porta da frente se abriu com estrépito, e um número incerto de vultos atravessou a soleira em direção ao interior da casa sem ao menos limpar os pés.

Vitória e eu corremos para as portas que davam para o quintal, mas as vidraças se estilhaçaram bem diante do nosso nariz. Mais vultos — dessa vez entrando pelos fundos.

Estávamos cercadas. Pior, estávamos cercadas e desarmadas.

— Vem comigo — Vitória sussurrou, puxando-me pela mão. — Vamos descer as escadas!

Calei-a com um dedo sobre os lábios e depois, utilizando o código manual das forças especiais da Marinha, sinalizei:

Não. Armadilha. Ruim.

Sim — ela sinalizou de volta. Ouvir. Eu. Descer. Escadas.

Não. Idiota. Pensar — retruquei.

Vitória seguiu para as escadas do porão, arrastando-me atrás dela.

De repente me lembrei:

Espera. Armas. Minhas. Cozinha.

Não — Vitória sinalizou. Lá. Perigo.

Calar. Boca. Ouvir. Eu. Uma. Vez.

Olhei para ela com cara de poucos amigos. E ela olhou para mim do mesmíssimo jeito.

Não. Você. Calar. Seguir. Eu.

Vá te foder! — Esse sinal provavelmente não estava incluído no manual da Marinha, mas Vitória certamente entendeu o recado.

Nesse instante ouvimos passos na nossa direção — não dava para continuar discutindo.

Chegando à porta do porão, descemos as escadas às pressas, Vitória empurrando-me por trás.

O lugar estava escuro e um pouco bolorento, mas muito bem arrumado — mérito meu, é claro. Caixas e mais caixas cobriam as paredes, todas devidamente fechadas, empilhadas e organizadas em ordem alfabética.

Um exagero, vá lá, mas naquelas circunstâncias um pouco de ordem talvez pudesse salvar a nossa pele.

Rapidamente passei os olhos pelas etiquetas: anuários da universidade, enfeites de Natal, revistas Gourmet...

Puxei uma das caixas do alto e rasguei a dobradura da tampa. Ali encontrei uma pilha de roupas de inverno, velhas, porém cuidadosamente dobradas. Nada de muito chique ou moderno, mas qualquer coisa seria melhor que o estado de seminudez em que nos encontrávamos. Escolhemos camisas, calças, botas — tudo o que pudesse ser útil naquelas circunstâncias.

Ali tivemos a primeira oportunidade para recuperar o fôlego e tentar descobrir que diabos estava acontecendo.

— Os caras não confiam nem um pouquinho na gente — disse Vitória enquanto se metia num par de calças. — Será que não podiam ter esperado ao menos um dia?

— Saímos do controle deles — eu disse, pelejando para abotoar uma camisa social de flanela. Por que será que os fabricantes colocam os botões do lado errado? — Então mandaram essa gente atrás de nós.

Vitória localizou uma caixa de trenzinhos de brinquedo, depositou-a a seus pés e rasgou o papelão. De dentro tirou duas armas, uma grande e uma pequena. Tomou a grande para si e me passou a outra.

Com as mãos plantadas na cintura, reclamei:

— A pequena pra mim, só porque sou menor?

—Shhh!

Sra & Sra. Caetano FalcãoOnde histórias criam vida. Descubra agora