Lua cheia

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Submerjo, imersa na água morna do ofurô. Com o tempo está esfriando lá fora, nada melhor que um banho para me manter quentinha. Eu não tinha uma suíte na minha antiga casa, lá em Brighton, e confesso que estou gostando de aproveitar essa regalia.

Passo a observar o ambiente, sem procurar por nada em específico. Ao som relaxante da água, encosto a cabeça e deixo a mente vagar. Passo a relembrar os acontecimentos do jantar de ontem:

Por que não vejo nenhum dos outros membros do acampamento além das pessoas... quero dizer, de humanos, aqui à mesa? Esse questionamento já estava me corroendo há alguns minutos. Devia ter alguma explicação, afinal, eles combatem a segregação, não faria sentido agir diferente aqui dentro.

— Senhor... — Tossi, limpando a garganta para Emmett. — O que os outros membros do acampamento estão fazendo por agora?

— Ora, estão jantando. Nos refeitórios! E pode me chamar pelo nome, jovem Luna. — Abrandou com sua voz pesada.

— Este é o refeitório dos estudantes e do Conselho — acrescentou Cida, saciando minhas dúvidas. — Quando você conhecer melhor a academia, verá que há outros refeitórios, que são mais próximos às ocupações dos demais.

— Ah! — Agradeci com um sinal de cabeça. — E... pode ser uma pergunta boba, mas tem algum lugar como uma cantina ou restaurante por aqui? Pra fazer um lanche...

— Nenhuma dúvida é boba, bobagem é ter vergonha de tirar as próprias dúvidas — encorajou Emmett. — Vocês não têm que se preocupar com dinheiro aqui dentro, se essa é a questão. Mas não, não há um restaurante ou algo do tipo. Ao invés disso temos horários bem planejados de refeições pra satisfazer qualquer fome.

— Se sua barriga estiver roncando, pode ir à cozinha fazer um lanche rápido, é só fazer amizade com os funcionários — sussurrou James do outro lado da mesa, com uma piscadela.

Claro que as pessoas mais próximas também escutaram. Cida deu um olhar de repreensão para ele, que completou logo em seguida:

— Mas é melhor não se acostumar, afinal, "temos horários muito bem planejados pra comer à vontade". — Fez cena, repetindo as palavras do general.

— Vou conversar com Tomas sobre essas regalias — retrucou Cida, sem levar a sério.

James encolheu os ombros fazendo careta. Eles parecem ter uma boa sintonia. Não contive uma risadinha.

— Se você tá atrás de um lugar pra beber e socializar, existe uma taverna pela entrada da floresta. — Fui surpreendida pelos cochichos da menina sentada ao lado, que, nem sabia eu, prestava atenção na conversa.

Esperei que os outros dispersassem e sussurrei:

— Como assim?

Ela deu uma risadinha. Mas do que ela achou graça?

— Não fui eu quem te disse, mas existe uma passagem secreta aos arredores do acampamento, onde os alunos podem ir pra socializar, dançar, beber.

Ok, a maior parte daqui já tem mais de dezoito, então não vou me surpreender se rolar cerveja, uns destilados ou coisas mais.

— E isso é tipo... proibido?

— Na verdade, não vai contra o regulamento, porque não foi construído do lado de dentro da academia. — Deu de ombros. — Mas não é algo que os professores e a Ordem vejam com bons olhos, digamos assim.

Eu posso estar me precipitando sobre ela, mas convenhamos... Eu não abordaria uma estranha desse jeito. De qualquer maneira, do pouco que eu escutei, já é o bastante para decidir que não vou pôr meus pés nesse lugar. Não é o tipo de encrenca que eu gostaria de me meter. Mas não é por isso que eu vou desperdiçar a boa vontade dela de me contar um pouco mais sobre esse tal lugar secreto.

Herdeira da Terra e os Arqueiros da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora