⭒CAPÍTULO TRINTA E DOIS⭒

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O resto do dia foi como se estivesse por fora de todos os assuntos. Não consigo prestar muita atenção no que a minha família conversa e finjo sempre um sorriso enquanto encaro a casa da piscina. O churrasco está bom e sei que meu pai está tentando chamar a atenção da minha mãe que sempre esboça aquele sorriso perfeito para todas as piadas que o mesmo faz. Estou muito feliz que eles estejam conversando, mas porque ainda sinto como se houvesse algo errado?

O Dani até tentou me convencer entrar na piscina, mas a única desculpa que conseguia dar era que o meu tornozelo ainda doía muito.

A noite todos nós jantamos juntos igual foi no almoço e é divertido quando o meu primo tenta ser engraçado com as próprias piadas que contava. Todos já foram dormir, fiquei na sala com a desculpa que assistiria alguma coisa na televisão e para o meu alívio ninguém quis me fazer companhia. Me levanto com calma pra não fazer muito barulho e vou até a mesinha onde deixei o embrulho.

O presente está no meu colo e é um pouco pesado, não tenho certeza se devo abrir, mas como vou saber o que tem dentro? Puxei a fita azul do laço quase desfeito, tenho cuidado na hora de desembrulhar até porque o que quer que esteja aqui dentro já deve estar em pedaços pelas mordidas brincalhonas do Theo da Vinci. É um vaso pequeno com uma muda de alguma árvore e encontro um envelope pequeno.

Quero me desculpar, sei que te causei dor e admito que fui um babaca imperdoável. Espero que um dia você consiga me perdoar e até lá estarei te esperando, sei o quanto você gosta do ipê do seu quintal e por mais que me faça ficar longe de você, ainda assim gosto de te ver tranquila deitado embaixo dele.

Elle, te amo muito mesmo, por mais que você não acredite.

Encaro a muda de ipê destroçada no meu colo e me permito deixar as lágrimas cair. Como gostaria muito que tudo fosse apenas lágrimas de dor, mas também estou com muita raiva porque tudo não passou de uma mentira.

Rasgo o envelope junto com a carta, de alguma forma me sinto mais aliviada fazendo isso e é como se estivesse apagando todas as palavras bonitas que o Brandon já me disse algum dia.

O meu tornozelo pode estar melhorando, no entanto não quero arriscar mais um acidente e acabar parando no hospital. Levo o vaso do ipê pra cozinha e o deixo em cima do balcão, observo as folhas e percebo que estão murchas implorando por atenção. Encho um copo de água para regar o pequeno vaso e por um momento me sinto melhor fazendo isso.

─ Por que você está chorando? ─ Me assusto quando ouço a voz do meu primo.

─ Não estou chorando... ─ Fico de costas pro mesmo enquanto tento enxugar as minhas lágrimas com a manga do moletom.

─ Ellenor, não sou cego e você está quase regando essa planta com as suas lágrimas.

Responde tentando ser engraçado o que me faz chorar ainda mais ao ouvir isso. Ele se aproxima quebrando o nosso espaço e me abraça com carinho porque é assim que a família Steinfeld faz, mesmo sem saber o motivo da dor do outro nós ficamos do lado até tudo passar.

Fico chorando no ombro do mesmo como uma criança que acabou de ralar o joelho. Nunca senti essa sensação e é como se todas as minhas ilusões tivessem sido arrancadas de mim. O Daniel me leva para a sala e fico deitada com a cabeça no ombro do mesmo enquanto enxugo as minhas lágrimas com a manga do moletom a cada dois minutos. Tento assistir um pouco do filme e não consigo prestar muita atenção.

⭑⭑⭑

Abro os meus os olhos, estou deitada no sofá completamente coberta e não me lembro de ter caído no sono. O meu primo provavelmente terminou de assistir o filme e foi descansar no quarto de hóspedes que divide com o meu pai. A televisão está desligada e a casa está silenciosa, coloco os meus pés descalços no chão e aos poucos subo as escadas.

 Querida, pequena vida. #1 ꪜ Onde histórias criam vida. Descubra agora