⭒CAPÍTULO TRINTA E TRÊS⭒

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Tiro o meu celular do bolso de trás da calça enquanto me enfio no meio dos arbustos com a lanterna ligada e sou mais cuidadosa sendo discreta entre as árvores por mais que a chuva esteja barulhenta. Olhando agora por um ângulo melhor o bar não parece ser nada convidativo com o ambiente totalmente desagradável. Os dois grandalhões cheios de tatuagens estão fumando perto das lixeiras e não parecem receber visitas estranhas. 

─ Elle, volta pro carro agora! ─ O Daniel murmura baixo ao meu lado.

─ Eu não vim aqui atoa! ─ Faço sinal para que se abaixe ao meu lado.

─ Eu sei, só não imaginaríamos que esse lugar fosse da barra pesada. ─ Ele responde tentando me puxar aos poucos pela manga do moletom e não consigo me mover. ─ Vamos estar ferrados se algum daqueles caras vier tirar satisfação com a gente 

Ignoro completamente o que o mesmo falou e com atenção observo pela janela grande o Liam dentro do estabelecimento trabalhando atrás do balcão. O rosto está cansado e a cada cliente que atende só deixa claro que ninguém desse lugar tem um pingo de educação, gritam e mandam como se o garoto fosse obrigado a ouvir tantas merdas. 

─ Você acha mesmo que ele vai sair tão cedo? 

─ Será que você consegue ficar calado por pelo menos alguns minutos? ─ Perco a paciência e o outro apenas revirou os olhos em resposta. 

Por um lado tenho que admitir que o Liam não vai embora tão cedo porque está acostumado a chegar em casa no meio da noites com vários hematomas pelo rosto no dia seguinte. Me sento no chão molhado pelas gotas de chuva e fico encarando o bar sendo movimentado. O meu primo não questiona mais nada e parece ter desistido de tentar me fazer mudar de ideia. 

As minhas pálpebras estão brigando contra a minha vontade de querer ficar acordada. A bateria do meu celular acabou e o Daniel esqueceu o dele dentro do carro. De longe mesmo com o barulho da chuva é notável o som de algum automóvel se aproximando, fico tensa e nos escondemos atrás de um dos galhos. Um carro luxuoso é estacionado na porta e os dois homens tatuados comprimentam o homem bem vestido com um terno slim.

Uma silhueta saiu de dentro do bar e pela confusão do entre saí não consigo prestar atenção. O meu vizinho caminha em direção ao homem todo de preto, então é esse o cara com a voz furiosa por trás da ligação de ontem? Tiro um pouco dos galhos para tentar enxergar melhor e permaneço no sigilo ao lado do Daniel que não pisca de medo.

O meu vizinho tenta conversar educadamente, mas o outro não está muito afim de conversas paralelas. Pela expressão dos dois, nenhum está com paciência enquanto discutem algo que não consigo ouvir. Estou frustrada e tenho certeza que essa conversa vai acabar em algo terrível. Os dois caras tatuados se aproximaram aos poucos quando o homem de terno empurrou o Liam o fazendo cair no capô do carro. 

Enquanto o homem grita várias vezes apontando o dedo na cara do meu vizinho que não parece estar disposto deixar o empurrão de lado. A cada passo o mesmo fecha o punho e sinto a contagem frenética da batida do meu coração. Por favor, não faça isso, digo em um sussurro na esperança que ouvisse mesmo longe dele. 

O Liam parte para cima do homem que não tem menos do que a idade do pai do garoto. Me levanto, mas o Daniel me puxa de volta, caio no chão com a mão na boca enquanto assisto aquele velho não medir esforços para machucar o meu vizinho. Não consigo segurar as lágrimas me sentindo aflita e quero gritar para pararem. Os dois homens não se intrometem e ficam apenas assistindo a cena como se nada estivesse acontecendo, abraço os meus joelhos quando o meu primo caminha até onde estou tentando me levantar para irmos embora.

─ Eu não posso ir embora! ─ Sussuro implorando em meio as lágrimas enquanto percebo que os olhos do meu primo estão lacrimejados.

Quando olho pro lado vejo o Liam jogado no chão com o rosto sujo de sangue e será que ninguém consegue ver de dentro do bar? Por que ninguém o ajuda? 

 Querida, pequena vida. #1 ꪜ Onde histórias criam vida. Descubra agora