Prólogo

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Faz tempo que me perguntam se vai ter a história da Bianca. Então resolvi deixar um pedacinho do que está por vir. 

Bianca 

Deitada sobre a sombra de uma árvore no jardim da nossa casa, eu cantarolava minha canção de amor favorita do filme da Barbie em a princesa da ilha. Eu achava tão bonito aquele filme que eu não cansava de assistir. Alícia que me mostrou, como tudo que ela gosta é bem legal eu passei a gostar dos filmes da Barbie também, assim teríamos assunto para conversar. Alícia é minha amiga, mas é um pouco séria demais, calada. Geralmente eu falo por nós duas. Um dia ela me disse que eu parecia uma Barbie, só faltava os olhos azuis. Até que eu me achava um pouco parecida com ela. Meu pai tem uma ilha então eu vivia imaginado que meu príncipe chegaria de barco e nos casaríamos lá, mas ele não era moreno como no filme. Meu príncipe é loiro dos olhos azuis e parece um anjo. Meu anjo.

— Ei, oi pequena. O que faz aqui sozinha? — Abri um sorriso ao ouvir sua voz. A voz de um anjo é tão doce e sempre traz alegria para meu coração. — Trouxe isso para você.

Ele me entregou um cupcake de chocolate e eu segurei sorrindo feito uma boba. Ele sempre traz coisas gostosas para mim. Mordi um pedaço antes de responder sua pergunta ainda de boca cheia.

— Estou desenhando meu vestido de casamento. — Virei o caderno de desenho escondendo o vestido dele.

— Você é muito pequena para pensar em casamento — ele diz sacudindo a cabeça em negação. — deixa eu ver?

— Não, o noivo não pode ver o vestido antes do casamento. — Virei o caderno de forma que ele não pudesse ver o desenho do vestido mais lindo do mundo. Sorrindo do que eu disse, ele pegou meu cupcake e deu uma mordida.

— Pequena, falta tanto tempo para se preocupar com isso. E eu não vou me casar com você. É um bebê.

— Mas quando eu crescer, vou ficar linda como a Barbie e eu vou me casar com você e vai ser com esse vestido na ilha do papai. Então eu vou beijar na sua boca igual o papai beija a mamãe.

— Você já é linda como uma boneca. Quando crescer vai ser ainda mais. Mas não é comigo que vai casar.

— Deixa essa pirralha quieta Gui, vamos jogar bola. — Meu irmão chato chegou quicando uma bola de futebol no chão, vai para sair e volta com cara feia apontando o dedo para mim. — E você, vou contar para a mamãe essas conversas de beijar na boca do meu amigo.

— Deixa ela, Enzo, ela é pequena.

— Ela é uma pirralha, isso sim.

Volto das minhas lembranças de quando comecei a idealizar o vestido tão parecido com o que está na minha frente agora. Passo a mão no tecido fino da saia esvoaçante.

Tão lindo.

Tão perfeito.

Tão meu.

Fique meses tentando achar o vestido ideal, nada me agradava. Encontrei o desenho há um tempo e percebi que não gostava de nenhum dos vestidos que me mostravam porque meu subconsciente estava querendo este aqui. Então mandei para a estilista que ia fazer meu vestido e o resultado está aqui na minha frente, e, perfeito. Eu tinha até esquecido de que o casamento estaria perto. Esqueci de cancelar o vestido de noiva dos meus sonhos. Então eu apenas peguei e levei comigo para decidir o que fazer com essa peça que custou uma fortuna e meses de procura. Agora olhando para ele pendurado no cabide penso que não foi uma boa ideia. Olhar para ele me faz lembrar do sonho que tive em me casar com o Guilherme a minha vida toda foi tudo que desejei. Me faz perceber o quanto fui tonta em alimentar esse sonho, em correr atrás dele.

Pego a tesoura e coloco na barra do vestido. Minha mão treme, faço força para tentar cortar, mas meus dedos não obedecem e acabo deixando a tesoura cair aos meus pés.

Pensei que fosse fácil destruir o tão sonhado vestido de noiva que levei tanto tempo idealizando. Que a raiva dentro de mim fosse combustível suficiente para me fazer agir. Mas sou mesmo uma fraca. Uma masoquista que guarda o vestido dos sonhos para lembrar que não terei mais o meu anjo loiro. Para me atormentar que meu sonho de criança se tornou um pesadelo de adulto em um mundo onde as pessoas não se revelam como realmente são ou o que verdadeiramente sentem.

Eu o amava tanto. Ele dizia que também me amava.

Eu sempre soube que amava o Gui acima de tudo, acima da razão, eu acreditei que ele me amava da mesma forma. A profundidade do meu amor às vezes me assustava, Guilherme era tudo para mim. Não me lembro de um dia da minha vida que não tivesse sonhado com ele. Era como um mar de águas profundas, calmo na superfície, mas tão profundo, tão imenso, intenso, furioso, poderoso e eu sempre estarei mergulhada nesse oceano, entretanto eu havia nascido para mergulhar nele e nunca mais voltar a superfície. Por mais que eu lutasse para vir à tona para respirar eu estaria bem lá no fundo.

Não estava preparada para a decepção de saber que enquanto eu mergulhava em águas profundas, ele nadava em águas rasas. Essa constatação me quebrou e me fez entender que deveria me amar acima de tudo e nunca mais perder a razão.

Hoje entendo que tudo não passou de ilusão. Eu preciso acabar com essa minha obsessão que um dia foi doce, mas hoje tem um gosto amargo de decepção, tristeza e dor.

Abaixo-me e pego a tesoura mais uma vez enquanto encaro o vestido branco dos meus sonhos.

Eu preciso acabar com isso, com essa obsessão.

Minha doce obsessão - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora