Capítulo 4

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Bianca

Alejandro me abraça e me acalenta em seus braços enquanto eu desabo. Ele é o caçula com a diferença de três anos de mim. Enzo, nosso irmão mais velho está em Londres à trabalho e para terminar um curso, meus pais estavam com ele, mas chegaram hoje e Enzo certamente também já deve estar a caminho do Brasil.

— Ei, Bia, o que aconteceu?

— Minha vida acabou, meu irmão. Acabou. — Lamento.

Volto a chorar em seus braços e só depois de um longo tempo consigo contar o que aconteceu. Ele fica calado, mas posso ver que está com muita raiva.

— Posso quebrar a cara dele antes do Enzo?

— Não perca seu tempo. Eu não quero mais saber dele.

— Mas me diga uma coisa. Pelo que você está me contando, eles ficaram antes de você e o Guilherme...

— Não vem defender ele Alê, não faça isso.

— Ok, não vou fazer. — Puxa-me novamente para seus braços.

Meus pais entram de volta no quarto e não tocamos mais no assunto. Acabo adormecendo novamente.

***

Acordo algumas horas depois com uma dor de cabeça terrível. Abro os olhos e encontro os do Murilo analisando meus sinais e anotando no tablet.

— Oi, eu dormi muito?

— Sim, está dormindo desde ontem. Mas é normal por conta dos medicamentos, mas isso você já sabe, é praticamente uma médica.

— Onde está todo mundo?

— Eles estão lá fora, o quarto estava bem cheio então pedi que saíssem para te examinar. Tive o prazer de conhecer seu irmão mais velho. Como se sente?

— Estou começando a detestar essa pergunta.

Ele ri, coloca o tablet ao lado da cama e segura minha mão.

— Eu imagino como esteja se sentindo Bianca, e não falo apenas fisicamente.

— Você já sabia? — Olho sua mão que agora tem uma aliança de noivado.

— Eu já sabia. Alícia já tinha me contado antes de você pegar a carta. Talvez tenha sido isso que a fez querer destruir tudo. O fato dela ter dividido pela primeira vez com alguém que não a julgou...

— Você já sabia e ainda assim a pediu em casamento? Isso é uma aliança, não é? — pergunto muito surpresa.

— Sim, eu a pedi em casamento porque tenho a certeza do amor dela por mim. Eu sei que em absoluto ela não sente nada pelo Guilherme. Eu lutei muito para ficar com a Alícia, passamos por fases difíceis que cheguei a pensar em desistir dela, mas ela me provou que me ama, e eu a amo mais do que tudo.

— É lindo ouvir isso, mas eu não consigo pensar assim. Eu passei a vida correndo atrás do Guilherme. Ele me disse diversas vezes que não poderia ficar comigo, pois amava outra. Isso doía, mas eu tinha fé que um dia ele poderia me amar se ele ficasse longe dela e nunca mais a visse eu conseguiria fazer com ele me amasse. Mas nunca imaginei essa situação, saber que essa mulher esteve o tempo todo ao lado dele, saber o que ele causou para ela...

— Você precisa de um tempo. Neste momento tudo está confuso para você, a raiva, mágoa estão supervalorizados, mas isso vai passar. — Ele se abaixa e beija minha testa. — Alícia ama você e está péssima com isso tudo. Não pense que estou defendendo-a, só estou dizendo isso porque sei que você também a ama e no fundo está preocupada com ela. Agora preciso ir, vou mandar o batalhão que está aí fora entrar.

— Por favor, não — digo afundando a cabeça no travesseiro. — Diga que estou dormindo, me dê um remédio para que eu acorde daqui a uma semana.

Ele sai do quarto rindo e eu fecho os olhos fingindo dormir.

— Ei, não vai dar um abraço no seu irmão mais velho que você mais ama? — abro um sorriso ao ouvir a voz do Enzo.

— Você é o único irmão mais velho que eu tenho, idiota.

— Oi, minha pequena arteira. — Faz uma carícia em meu rosto. — Sempre se metendo em encrenca. — Seguro sua mão e beijo. — Nem vou perguntar como você está, posso ver que está péssima. Se não soubesse que foi um acidente de carro eu diria que um caminhão te atropelou e deu ré.

— Obrigada, irmão.

— Por nada.

— Enzo, você já sabia? — Ele afirma com a cabeça. — Por que nunca me disse?

— Isso é uma coisa que vocês dois tinham que resolver. Eu sinto muito, mandei ele te contar por diversas vezes, mas não podia ser eu a fazer isso. Apesar de você ser minha irmã eu confio no Guilherme e somos amigos. Ele errou Bia, mas uma coisa é certa, ela te ama muito.

Começo a chorar mais uma vez, ele me abraça e penso quando será que isso vai acabar? Quando vou deixar de sentir essa dor no peito, esse vazio na alma?

***

Duas semanas já se passaram. Estou me recuperando do acidente, mas os sentimentos com relação ao Guilherme e Alícia não mudaram. Ela veio falar comigo, eu não quis receber, assim como o Guilherme apareceu. Fiquei sabendo que quando eu estava no hospital ele não saiu de lá. Quando eu estava dormindo ele entrava e ficava ao meu lado, segurando minha mão. Certa vez eu pensei que tivesse sonhado com ele beijando minha testa e saindo antes de eu acordar. Pedi para ninguém falar o nome dele. Estou determinada a esquecer, seguir em frente, o problema é que estou a toda hora lembrando de tudo. Deito a cabeça no meu travesseiro e como sempre tenho feito, deixo as lembranças me guiarem para o passado. 

Minha doce obsessão - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora