Capítulo 9

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Então vamos lá ver o que a maluca está aprontando? Enzo não foi um irmão irresponsável, não totalmente, kkkk. Ele passou a vida dizendo para a Bianca esquecer o Guilherme, que ele não valia a pena, mas então viu que a irmã tinha alguma chance e resolveu que ajudar seria melhor do que continuar dizendo para ela partir para outra, coisa que ela não faria nunca. Vamos ver um pouco da aventura dessa viagem. 

Bianca

Passado

Levai cinco dias até conseguir sair de Miami e vir para Uganda. Estava em um jipe com a bandeira da ONU, então estava tudo bem. Era o que eu gostava de pensar, mas sabia que não era bem assim. Nós podíamos passar por rodovias bloqueadas em segurança, e isso já era muito. Meu maior medo era meus pais descobrirem o que eu estava fazendo. Realmente é loucura sair dessa forma atrás de um homem que sequer sei se vai aceitar a minha vinda. Mas eu precisava tentar. Eu sinto que minha vida vai mudar a partir de agora. É tudo ou nada.

Encosto a cabeça no vidro da janela e fecho os meus olhos enquanto o carro sacodindo muito me leva até o meu destino. Acabei adormecendo e só acordo quando alguém segura em meu ombro chamando-me delicadamente.

— Senhorita, chegamos. — Abro os olhos e vejo que estou diante de uma das várias casas azuis espalhadas como uma pequena vila, todas muito pequenas e sem muito recursos.

— É aqui? — pergunto meio chocada com a precariedade do lugar.

— É sim moça, aqui é onde os médicos ficam quando não estão na base, eu irei até lá para descarregar os medicamentos, se quiser deixar sua mala na casa e ir comigo até o local eu espero. Acho que será mais seguro do que ficar aqui sem conhecer ninguém.

— Eu quero sim, obrigada.

— A senhorita vai ficar com a enfermeira Brook, ela chegou a uma semana e está sozinha. Mas não se preocupe que será destinado um segurança para vocês. — Dou um sorriso sem graça, pois sei que foi exigência do Enzo para que eu viesse.

O motorista me ajudou a guardar a mala em um dos bangalôs destinados aos médicos e outros voluntários. Antes de resolver vir eu pesquisei na internet e nos arquivos da minha mãe sobre o lugar. Tinha uma ideia de como seria. Mas a realidade sempre choca. Como minha mãe, uma mulher rica e linda tem coragem de vir a um lugar como esse? Ela sempre diz que apenas ajudar financeiramente não a satisfaz, que precisa de contato com as mulheres vítimas de abuso, com as crianças sem perspectiva de futuro, então ela dá uma nova visão para eles. Meu pai montou antes do Enzo nascer um projeto que foi sonhado por minha mãe. Hoje a ong é uma das mais conceituadas do mundo, já mudou a vida de muitas mulheres e crianças. Juro que pensei ter mais estrutura. Mas o guia disse que não pode ter muito luxo, pois os nativos saqueiam o lugar e levam tudo. Mamãe sempre tentou nos aproximar das atividades dela, o Enzo é o único que gosta e a ajuda em tudo.

Entro no carro de volta e seguimos para a base onde provavelmente o Guilherme está. Quanto mais o carro se aproxima, mais eu penso no tamanho da loucura que estou fazendo. O lugar é de muita vegetação, é praticamente um esconderijo. O carro quase não anda dentro da mata. Então paramos de frente a um galpão imenso. Olho ao redor antes de descer e logo o carro está rodeado de gente. Pessoas começam a descarregar a carga em uma velocidade impressionante eu desperto do meu torpor. Desço do carro e sigo para dentro do galpão onde uma espécie de hospital está montado. Gente deitado por todo lado em macas improvisadas. Muitas crianças, algumas sem braço, outras sem pernas. Algumas tão desnutridas que me pergunto como ainda estavam respirando? Um aperto no meu peito me faz ter um imenso orgulho da minha mãe. É daqui que saem algumas mulheres e crianças que a ONG acolhe e ajuda. Mais a frente eu vejo uma mulher ser carregada em uma maca gritando de dor, porém não consigo identificar o que ela tem. Ando mais a frente e fico paralisada olhando um bebê de mão esquelética e olhos imensos quando ouço alguém chamar o meu nome.

Minha doce obsessão - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora