8. o inferno de yeojin

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Algo que pude aprender nessas férias que me deixou bastante intrigada até o momento que o entendi, foi perceber como somos estúpidos ao ponto de nos entregarmos às nossas fraquezas.

Não julgo ninguém, eu também tenho uma fraqueza, um "inferno" que estou destinada a carregar nas costas. Ter essa concepção do errado é o que torna menos pior a situação. E mesmo que acabemos sofrendo no final, teremos levado uma excelente lição.

Mesmo demorando todas as férias para descobrir meu inferno e que ele existe em todos nós, tive de passar por um dos momentos mais cruciais da minha vida. Não foi fácil, mas o final valeu a pena.

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Tudo começou quando Yeojin saiu do controle. Obviamente, não dava para perceber isso, pois tudo parecia exatamente como sempre. Exceto os bastidores, quando aprofundamos na vida dos personagens. E Yeojin sofria seu próprio inferno, que mais tarde, a acordaria do sonho e mostrasse o que ela realmente queria. Mas tivemos de sofrer antes. Todos nós. E foi apenas por uma simples e ingênua frase:

— Posso ir à uma festa hoje de noite com a Jiwoo?

Mamãe largou a caçarola no meio da mesa, sentou-se e analisou a pergunta. Enquanto tirava um retiro dentro de sua mente, eu focalizava Yeojin, concentrada, e ela, resistia ao impulso de dar pulinho de alegria antes mesmo do anunciado.

— Pois bem, se não se afastar de Jiwoo, ligar para nós, e chegar cedo da festa, pode sim. — Yeojin saltou da cadeira, quase derrubando seu prato. Por sorte, ele estava vazio.

Mesmo com minhas preocupações em relação à Hyunjin, aquela pergunta da minha irmã me levou a preocupação. Yeojin nunca fora em uma festa antes, e ultimamente, ela andava saindo demais, em horários não muito aceitáveis. A sorte dela, era que mamãe andava seriamente comprometida em organizar a festa da senhora Son, e para evitar estresse, deixava Yeojin livre para fazer o que quisesse — e quando precisava de alguém, ela pedia minha ajuda para cuidá-la.

Talvez o instinto protetor estivesse se apossando da minha cabeça, mas deixei me levar. Depois do almoço, fui até o quarto de Yeojin conferir se estava tudo bem, e parei no momento que ela conversava com alguém.

— Claro! Pode ficar tranquila. Estarei lá sim... Ah, não sei... Não sei se posso... Ok... Aham... D-depois eu vejo.

E corri para o meu quarto, me sentindo uma completa xereta.

Foi aí que eu errei.

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Yeojin saiu tranquilamente às sete horas, prometendo estar de volta antes das dez. Mamãe tinha ido trabalhar, e eu fiquei responsável por atender as ligações constantes de Yeojin e recebê-la com um prato de tofu mexido. Enquanto a noite se decaía, fiquei conversando com Hyunjin, e acabei confessando o que eu sentia em relação à minha irmã.

hyunjin:
fique tranquila, ela deve estar completamente bem

é melhor você não ficar no pé dela. sabe, irmãs mais novas depositam confiança extra na família para que eles possam confiar nelas.

mas se yeojin demorar muito, tire ela da festa e dê um banho de tofu em cima da cabeça dela

Neste mesmo instante, Jiwoo me ligou.

— Jiwoo? Como está a Yeojin?

— A Yeojin? É isso que eu vim te perguntar.

Meus dedos congelaram na hora.

— Como assim, me explica melhor. — Pedi, sentindo meu coração bater tão forte que poderia sair pela boca.

— Liguei para saber uma coisa sobre ela. Heejin, me diga: a Yeojin tem algo contra mim que você saiba? Eu fiz algo de errado com ela? — Jiwoo parecia desesperada na ligação, a cada pergunta me deixando ainda mais confusa.

— Calma, Jiwoo, você não fez nada de errado...

— Então por quê ela anda me ignorando? — Com essa frase, meus olhos se abriram para a verdade. Depois disso, nada mais seria impressionante. Quando se sabe a verdade, o mundo parece mudar diante de seus olhos; tudo se torna mais complexo, mais delicado, mais puro. Deixando o julgamento livre para ser feito. E dentro de minha cabeça, eu corria para me organizar antes de dar a sentença final.

— Yeojin não saiu com você essa semana? Nenhuma vez?

— Algumas vezes, mas pouquíssimas. A última vez, foi com o grupinho de amigos da Sooyoung, uma garota popular da escola... — Imediatamente, minha memória correu para o encontro no banheiro, e torci o nariz ao lembrar que Sooyoung não lavava as mãos. — E depois disso, ela nunca mais falou comigo.

— Jiwoo. — Respirei fundo. Tinha de ser ela. — Você sabe onde a Sooyoung mora?

Foi uma busca rápida e ansiosa. Cada passo que eu dava em direção a casa da garota anti higiênica me conduzia ao inferno que minha irmã carregava, e me fazia pensar que no dia seguinte eu estaria com bolhas nos pés por ter corrido usando uma sandália caseira.

Felizmente, a casa de Sooyoung estava um completo caos, onde adolescentes saltavam das janelas do segundo andar em uma competição até alguns novatos da faculdade vomitando no jardim. Foi entre empurrões e tropeços, que finalmente encontrei ela: prestes a receber uma bofetada na cara.

— Pare! — Segurei a mão da garota, e tudo se esclareceu quando vi Sooyoung. Ela estava péssima. Seus cabelos estavam bagunçados, e sua maquiagem escorria pelo rosto. E bem provavelmente, ela nem tinha tomado banho. — Não vou deixar essas mãos imundas tocarem na minha irmã!

— Me larga, sua nerd idiota. — Sooyoung puxou sua mão, e correu para dentro de sua casa.

Olhei para Yeojin esperando uma resposta, e a que recebi foi:

— Me tira daqui. — E me abraçou fortemente.

Nossas cabeças ainda estavam nervosas demais, e ao perceber que mamãe tinha chegado, todos os nossos neurônios pareciam ter se auto-destruído.

— Como fazemos para escapar? — Fiz sinal de silêncio, e fui verificar na janela do quarto. Eram onze horas, e mamãe tinha desligado a luz do abajur. Podíamos escapar ilesas se não fizéssemos barulho nenhum pela casa.

— Vamos. — Sussurrei. Fechei a porta com delicadeza, e caminhamos na ponta dos pés em direção ao meu quarto. Sã e salvas, tranquei a porta e empurrei Yeojin para a minha cama, exigindo explicações.

Yeojin não conseguiu nem me encarar.

— O que aconteceu? Por que mentiu? — Comecei, cruzando os braços. — Yeojin, eu sei que não sei muita coisa sobre você. Mas de uma coisa eu sei: que você não é desse jeito. Então, por quê?

— E-eu... Eu sou uma péssima pessoa. — Yeojin caiu em prantos, pondo as mãos nos olhos para cobri-los das lágrimas. — Eu achei... Achei que ainda poderia ser popular... A Sooyoung foi tão legal comigo... Eu devia ter ficado só com a Jiwoo... — Soluçou por alguns segundos, e continuou com a voz embargada: — Mas a Sooyoung disse que eu não precisava dela... Eu só queria a minha amiga de volta... Perdi tudo, menti para você e para mamãe...

Devagar, me aproximei de Yeojin, aconchegando-a dentro de meus braços, acolhendo todas as suas dores.

— D-desculpa... Desculpa.

E é assim que percebemos quais são nossos temores, o nosso inferno. Todos temos um, e dificilmente iremos conseguir vencê-lo. Ele sempre estará lá, não importa o quão forte sejamos ou nos empenhamos para nos tornar uma versão melhor de nós mesmos. Mas podemos aprender a amá-lo, assim que compreendemos o inferno do próximo.

E o meu inferno, era acolher o inferno das pessoas em meus braços.

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O telefone nunca pareceu tão desafiador assim. Mas em um segundo, eu já discava o número, dava a queixa, e acontecia. Passou-se tudo tão rapidamente aos meus olhos e sentidos, que mal tive tempo de respirar direito quando tudo terminou. Olhei Yeojin na minha cama, adormecida, e me aproximei dela lentamente, abraçando-a.

Eu podia aguentar carregar a dor dos outros nos braços, mas não para sempre.

eu, tu, nós e eles ☆ loonaOnde histórias criam vida. Descubra agora