7. a melancolia de hyunjin

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hyunjin:
e é por isso mesmo que eu detesto sentar no fundão

heejin:
mas o fundão é tão legal, quer dizer, tirando o povo que fica conversando. mas de resto, é 


hyunjin:
coragem para conseguir prestar atenção nas coisas. eu sou muito lerda, então preciso focar nos meus objetivos de cabeça

heejin:
e

ntendo. mas, quando você mergulha de cabeça, não acaba doendo um pouquinho? *risos*

h

yunjin:
se eu gostar do meu objetivo, às vezes esquecer o mundo e lutar por isso deixa meu coração quentinho

><><><

Foi assim por dois dias seguidos. Minha alimentação consistia à base de mensagens, minha sobremesa eram as fotos extras que mandávamos uma para a outra, meu desafio era conseguir manter uma conversa longa mesmo com a bateria do telefone acabando, e minha sede era a única realidade — meus rins agradeciam, pelo menos.

Descobri que Hyunjin jogava bastante "Fortnite", que sua comida favorita era pão, sua cor favorita amarelo, e que para relaxar, ela gostava de deitar-se na sua cama e ouvir músicas de elevador — o tão irritante apelido para a bossa nova. Se eu não estava falando com ela, nós duas cuidávamos de alguma coisa na casa, como lavar a louça ou estudar, e conviver com nossa família — nisso, Hyunjin preferia se manter neutra. De resto, nada se deixava passar entre nós duas. Foi como uma "stalkeada" dupla e prazerosa, e no fim do primeiro dia, ao dormir, tive a certeza que havia encontrado o grande e esperado amor da minha vida.

Foi Hyunjin também quem me fizera amenizar nas paranóias, e logo a situação da denúncia começou a ser afastada — mas não esquecida. A resposta de Kahei era como um pesadelo no meio da madrugada, me alertando: "Se você não ajudá-la, é aí mesmo que ela nunca vai reparar nos seus sentimentos." E se ela estiver já reparando, mas de outra maneira? Aquela cena na sala não pode ser real. Hyunjin possa ter se machucado quando voltava para casa e sua mãe ficou irritada com isso. Nada demais — e no fundo eu me negava.

E na noite do segundo dia, Hyunjin me ligou.

— Alô?

— Heejin, por favor. — Sua voz estava chorosa, soluçando nas palavras. — Toca alguma música para mim. Por favor.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Meu som estragou, minha mãe não quer ouvir barulho em casa... — Engoliu a seco, e soltou um bufo de cansaço e choro. — Por favor, toca algo para mim...

Imediatamente, peguei meu computador, e cliquei na primeira rádio-live da plataforma, aproximando o microfone do celular ao aparelho, os sons calmos do som brasileiro ecoando baixinho para os nervos de Hyunjin.

Não teve outro som além da música, e isso me torturou. Mas pelo menos, Hyunjin melhorou na ligação, alegando estar ficando mais calma, e agradecendo para mim por ter salvado-a.

Acabei não perguntando nada sobre o porquê dela ter me ligado desse jeito. Me deixei levar pelo sua voz, seus sentimentos, e segurei sua mão, mesmo que através da minha imaginação. Ela precisava disso.

— Quando eu era bebê, meu pai tocava os discos dele para mim. — Me contou. Prestei total atenção em Hyunjin, ainda mais, que ela finalmente se abria comigo em relação à sua família. E como essa era a parte mais curiosa que eu queria saber, não perderia uma chance. — Ouvir os discos me lembra ele, por isso me acalmo.

eu, tu, nós e eles ☆ loonaOnde histórias criam vida. Descubra agora