2. os tombos congelados

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Depois do meu encontro com o provável grande amor da minha vida, finalmente encontrei um motivo para querer levantar do sofá e sair para fora de casa. Sabendo que Yeojin não resistia, convidava-a diariamente para irmos até a Block Berry, na esperança de encontrar a garota dos meus sonhos novamente.

Mas, como se o universo gostasse de fazer gozo com a minha cara, Yeojin mostrou um comportamento contrário aos seus antigos interesses com a BBC. No início das suas desculpas — que não eram bem disfarçadas, disso uma especialista como eu sabia — ela contava estar repleta de dever de casa, e quando não estava estudando, precisava terminar uma série que tinha começado há um tempo ou ajudar a mãe nas tarefas de casa. De longe eu sentia que havia alguma coisa errada, porque a) Yeojin detestava assistir séries, no máximo um filme era demais, e b) Eu era a mais velha, então automaticamente, eu sofria as consequências de cuidar da casa muito mais do que a nossa mãe — que preocupava-se mais com o seu clubinho de mães solteironas do que com a própria casa.

Em um impasse, eu já não aguentava mais. E decidi tomar as rédeas da situação. Eu lutaria pelo meu amor, custe o que custasse!

— Já decidiu qual milk-shake você quer, Heejin? — Kahei interrompeu meus pensamentos, logo quando chegavam na melhor parte: onde eu encontrava com o amor da minha vida, nós conversávamos loucamente e intimamente, nos divertíamos tanto que sem querer, eu a beijava e depois nos abraçávamos e começávamos um relacionamento perfeito.

— Ahn? — Murmurei, esfregando os olhos por conta do sono. Tinha dormido até tarde na noite passada maratonando séries — ao contrário de minha irmã, eu gostava dos prazeres cinematográficos — e acabei perdendo a hora que fui dormir. Por conta do meu estado, dava para chutar que foi perto do sol nascer.

"E eu ainda tinha que limpar a casa e fazer o trabalho de férias da sra. Choi... O que eu tinha na cabeça?"

— Você está no mundo da lua — concluiu Kahei, organizando os canudos na prateleira — mas não vai me ajudar em nada se não disser logo o que quer consumir nesse mercado podre de gorduras saturadas.

— Me vê um de abacaxi, então. — Pedi, revirando os olhos.

— 'Tá na mão. Um milk-shake de abacaxi no capricho! Tamanho médio! — Gritou para dentro da sala de preparo e cozinha, e tapei os ouvidos. Kahei olhou para mim de uma maneira diferente, e travei, não sabendo reagir. — Vem cá, Heejin. — Se aproximou, apoiando-se no seu cotovelo sobre o balcão. — Você nunca vem à BBC, e quando vem, carrega a sua irmãzinha junto. Mas até agora, não enxerguei um indício de existência dela. O que houve?

— Com Yeojin? Ah, ela está me mentindo. Dizendo que tem dever para fazer, estudos para complementar, tarefas domésticas para cumprir e séries para terminar. Eu acho isso um absurdo mas não chego muito a fim de descobrir a verdade, eu conheço minha irmã, sei que ela fará o impossível para não me contar que enjoou da BBC e mudou de ideia em relação ao Ensino Médio...

— Espera aí, — Kahei levantou a mão em sinal de silêncio — eu não estava perguntando sobre a sua irmã.

— Porquê acha que eu não parei de falar sobre ela, então? — Deixei escapar, e o aviso do meu milk-shake saiu em um outro grito. Kahei foi até a sala e me entregou, um copo médio com o líquido gelado e pedacinhos de chocolate dentro, adocicando-o ainda mais.

Nem sei porque escolhi justamente o sabor de abacaxi. Eu detesto abacaxi...

— Aproveitando a deixa, muito obrigada! — Larguei o dinheiro no balcão, determinada a sair logo dali, mas Kahei segurou meu braço, e sem escolha, soube que precisava ficar e explicar o que estava acontecendo nos últimos dias.

eu, tu, nós e eles ☆ loonaOnde histórias criam vida. Descubra agora