3. o amadurecimento e dores nas costas

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As pessoas dizem que existem certas coisas pela qual vale a pena lutar, e que quando temos um objetivo em mente, devemos sempre manter a cabeça focada em sua direção para alcançá-lo com êxito. Só que desta vez, eu usava meu coração como guia na jornada, e o resultado por ter confiado demais nos meus sentimentos bobos de adolescente foi uma imensa dor muscular e dois joelhos ralados, algo digno que jamais imaginei ter enquanto simplesmente patinava no gelo.

Apesar de Hyunjin ter sido um amor comigo e me ensinado a não cair tantas vezes, provei ser uma péssima aluna. Porque eu me distraía muito, e também meu equilíbrio, que rendera uma dose de gargalhadas pelas duas partes.

E pensar que tudo foi iniciado por uma aposta e um desejo de paixão enorme, me faz perceber que realmente existem coisas no mundo que vale a pena lutar.

Mas nesse instante, voltando para casa, eu esqueço a brilhante conclusão que pensara, focando toda a concentração em não me atirar na calçada pela metade do caminho. Felizmente eu não morava tão longe da BBC, mas as subidas e descidas inesperadas do morro dificultavam as coisas, parecendo uma eternidade até chegar nos braços da minha mãe implorando por carinhos e "Merthiolate".

Depois do sofrimento e de ter escapado de uma olhada curiosa e desconfortável da nossa vizinha de lado - uma mulher mexeriqueira e preconceituosa à beça, que não acredita que mamãe possa cuidar de duas filhas muito bem e sem a necessidade de um pai -, finalmente chego no "lar-doce-lar". E de maneira estressante, retiro meus sapatos e me deito com vontade no sofá. Minhas costas chegam a gritar de alívio, e seguro um gemido de dor.

- Filha?! Por onde você andou? - Mamãe aparece magicamente ao meu lado, os olhos abertos e espantados com meu estado. Reprimo em soltar uma risadinha pela sua expressão, e também porque sei como ela se sente. Meu lado racional estava me dando uma bronca desde o horário em que meti os pés dentro dos patins de gelo.

Por sorte, minha mãe não era alguém muito nervosa, e me abraçou assim que contei o que aconteceu. Eu admirava isso nela, mesmo com sua obsessão por perfeccionismo e exagero emocional. E isso acabava por ajudar a influenciar a ação de suas outras características, principalmente de ser uma mãe compreendedora, e buscar sempre o melhor para suas duas filhas queridas.

Enquanto minha mãe passava um remédio em meus joelhos maltratados, me fazia perguntas sobre a Block Berry e se eu tinha me divertido. Ocultei alguns dos acontecimentos, incluindo o de Hyunjin. Mesmo sabendo que mamãe não era uma das maiores especialistas em relacionamentos, ela estaria disposta a me apoiar no que for preciso, mas eu ainda não tinha certeza se gostaria de contar à ela que meu coração tinha levado uma apunhalada certeira pelo cupido, e a primeira consequência desse desastre foi minha quase internação clínica após vinte quedas de bunda na pista de gelo. Eu precisava de tempo para pensar sobre e decidir minhas reais intenções - mesmo que eu demonstrasse esse meu lado meio selvagem às vezes.

E nisso, perguntei sobre Yeojin, para mudar o rumo da conversa um pouco. Mamãe me olhou preocupada, fitou as escadas, e depois me encarou.

- Ela não sai daquele quarto por nada o dia inteiro, só para fazer xixi. - Aquilo me capturou. Eu conhecia minha irmã muito bem para saber que realmente algo não estava certo, e se Yeojin tinha sido machucada emocionalmente, teria alguma coisa haver com o isolamento.

E como o assunto era novo, não tínhamos ideia do que fazer em relação a ela.

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"Pula, espera, chuta, chuta, bate para baixo, arrebenta, desvia, ugh." Minha mente trabalhava ardentemente para ganhar aquela partida. Desde que tinha entrado de férias, um dos maiores prazeres que eu tinha - além de ficar sentada fazendo nada ou vendo televisão - era jogar uma boa partida de qualquer especialidade de jogo. Me metia em partidas online que encontrava e aprendia a jogar na marra. Não tinha um jogo preferido, e tampouco era uma especialista - eu enjoava rápido se ficasse jogando o mesmo jogo por muito tempo - mas aí é que eu via diversão. Diversão porque eu me sentia na liberdade de conquistar uma vitória imaginária, me sentia competitiva. Mas tudo se esvaía quando perdia, e então caía a ficha, e o mundo real esmagava-me com suas pretensiosas ideias.

eu, tu, nós e eles ☆ loonaOnde histórias criam vida. Descubra agora