9. os dois últimos dias

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Os últimos dias tinham sido tensos.

Para afastar a lembrança da ligação, ocupei-me de fazer muitas coisas, dedicar meu amor unicamente à minha família e conversar mais com Kahei, que demonstrou-se ser a pessoa certa para eu ter feito amizade naquele verão.

Faltavam apenas dois dias para as aulas começarem, e toda a minha atenção foi voltada apenas para isso, e para ajudar minha mãe com a festa da senhora Son. Yeojin redimiu-se, e para compensar pelos seus erros, nos ajudou, e pediu desculpas à Jiwoo, que a perdoou facilmente. Quando tive oportunidade, perguntei a Yeojin o porquê de Sooyoung só começar a dar atenção à ela agora, e Yeojin riu, respondendo:

— Ela achava que eu estava namorando a Jiwoo, porque antes, elas já tinham ficado antes. Então ela queria me usar para se aproximar da Jiwoo de novo. — Torci o nariz. — Concordo, é bem nojento.

— Não é por isso. — Aleguei. — É que a Jiwoo é tão fofinha e cheirosa, não acredito que ela já namorou uma garota que não lava as mãos depois que saiu do banheiro.

E naquela tarde, tudo caminhava na mais tranquila paz. Yeojin e eu estávamos assistindo nosso filme favorito, comendo pipoca com manteiga e abraçadas uma com a outra. Mamãe tinha ido trabalhar mais cedo e nos deixou tomando conta da casa. A vizinha fofoqueira viajou, e só voltaria daqui duas semanas. A festa da senhora Son seria amanhã e estava organizada. Pensar que algo poderia dar errado era a última coisa que aconteceria, mas aconteceu.

— Alô? — Atendi o celular, pausando "Como Treinar o Seu Dragão".

— Heejin, você está ocupada? — Era Hyunjin. Sua voz estava bem baixa.

— O que aconteceu? Onde você está? — Levantei do sofá prontamente, calçando meus sapatos enquanto segurava o telefone.

— Sabe a pracinha onde levamos Sungjae e Eunjae? Estou aqui, sozinha. — E desligou o telefone.

Meu coração pulava dentro de mim, e imediatamente comecei a me arrumar.

— Para onde vai, irmãzinha? — Questionou Yeojin, deitando-se no sofá.

— Vou encontrar uma amiga. Por favor, cuida da casa até eu voltar. — Yeojin assentiu, dando play no filme e ficando quietinha, encarando a tela colorida com um pote de pipoca na mão.

Não demorou muito até eu chegar lá, onde Hyunjin estava. Ao vê-la, me assustei. Seus braços estavam cheios de roxos, e seus olhos indicavam que havia chorado muito. Na hora não soube o que fazer, apenas encará-la espantada. Nem meu coração soube como reagir, e as lembranças da noite que liguei, vieram como se fossem a pior decisão que cometi em toda a minha vida.

— Hyunjin?...

— Meu pai vai me levar, Heejin. Ele ganhou a disputa. — Hyunjin sorriu entre o choro. — Minha mãe vai ser presa... Por causa disso aqui. — E me mostrou os braços, as pernas, enquanto mergulhava em um abismo misturado em tristeza e alegria, dor e alívio, sofrimento e prazer.

Segurei seus braços cuidadosamente, analisando os machucados. Encarei Hyunjin, que me olhava ansiosa, e segurei a vontade de abraçá-la. Por ter sido uma mulher forte, corajosa, e que finalmente receberia seu troféu por tanto tempo escondida na caverna.

— Quando você vai embora? — Perguntei inocentemente. Hyunjin esfregou os olhos, dizendo:

— Amanhã de manhã.

Tirei a visão da garota, não sabendo como reagir ou pensar. Era muita informação para a minha cabeça. Antes, eu tinha achado que destruí a vida da mulher que eu amo com apenas um ato, e depois, recebo a notícia dela mesma que finalmente irá se livrar do seu pesadelo, morar com o pai, e ir embora para sempre da minha vida. Engoli a seco. O que valia eu ter a ajudado se não poderia acompanhar os mais belos momentos que ela teria após isso? Mas eu não fizera nada em vão, então por quê eu me sentia tão vazia?

Hyunjin segurou minha mão, e ao olhar para aqueles olhos redodinhos de gato, que tudo fez sentido.

Se ela estivesse feliz, eu também estaria.

— Vou te mandar mensagens, todos os dias. — Garanti. — Vou ligar para você, te contar tudo de bom e ruim que aconteceu comigo.

— Vou fazer o mesmo. — Hyunjin assentiu, e segurou meu rosto. — Obrigada por aparecer na minha vida. — E me abraçou, demonstrando toda a sua gratidão e amor em um ato simples.

Meu verão poderia ter sido fraco, pouco movimentado, assim como todos os outros. Mas as reviravoltas são a parte mais importante e interessante da história. Faltando apenas um dia para eu voltar às aulas, meu coração se entregou ao mais puro sentimento que o ser humano pode desejar ter, e em poucos dias, senti que estava lutando, não por outra pessoa, mas por mim mesma.

eu, tu, nós e eles ☆ loonaOnde histórias criam vida. Descubra agora